A tempestade do seu Olhar

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Segredos. 

Hidan era um homem cheio de mistérios e um significado distorcido de vida. Mas era assim que era e feliz estava. 

Se não fosse por uma pequena coisa.

Na verdade, uma pequena ninja.

A imortalidade tem um preço alto e ela era o pagamento. Não era um sacrifício como sempre fazia, era mais que isso. Ela significava a renuncia, o bem maior que ele não poderia ter, por mais que ele fosse eterno. 

Ela estava linda, fazendo seu treino na cachoeira. O corpo agora de mulher, mas os movimentos fluidos e flexíveis como de uma menina. O máximo que ele poderia se deleitar dela era a observando. 

Aquilo lhe causava uma dor interna incômoda, pois insuportável mesmo era ver a garota ser tocada por outro. 

Tristeza. 

Hidan conseguia sentir de uma forma insana tal sentimento, a ponto de o levar a loucura. Tal loucura que o levou a seguir a religião Jashin. 

Isso foi ha muitos anos. Tinha uma boa vida, ate que uma doença grave assolou sua mulher. A mulher doce e gentil que tanto amava. A impotência tomou conta de si, a profunda tristeza de estar perdendo a vida dela por entre os dedos. 

Foi quando decidiu entregar sua existência a um deus, desde que pudesse salva-la. 

A ultima noite que passou com ela e que pode tocar a sua pele, seus cabelos, sua boca. 

— Vamos viver para sempre, meu amor. É uma promessa.

Se lembrava com perfeição a textura dos lábios dela entre os seus, do abraço fraco, das juras de amor enquanto se tornavam um. Mas naquela noite de tempestade, ele pode vislumbrar a lua através dos olhos dela. Sempre seria e renasceria uma Hyuga, ate o fim dos tempos.

Rendido. 

Colocar o corpo frágil da mulher naquele altar foi mais dilacerador do que qualquer outra dor que viesse a sentir depois disso, durante seus rituais. Viu a alma dela ser retirada do corpo, uma separação brutal. Seus corpos estavam ligados. A dor dela era sua dor. Mas valia a pena. 

— Eu vou te encontrar de novo, e de novo, e de novo... sempre vou te encontrar...

E assim Hidan teve inicio a sua nova vida, assim como a alma de seu amor teve um novo início sem ele, mas ao menos ele sabia que eles andariam pela terra eternamente. Ele não estaria sozinho. 

Inveja. 

Agora, trezentos anos depois, ele sentia a amargura de estar vivo por tanto tempo mas, ainda assim, não viver. A chuva caia torrida, como uma amostra temporal de seu interior. 

Não se importava em estar encharcado, de estar em território hostil para ele, um traidor de sua vila e membro da Akatsuki. Soltou uma risada sarcástica, sem tirar os olhos da cena que passava a sua frente.

— Meu deus deve estar feliz com tamanha dor que me infringe.

Era insuportável ver o sorriso, as carícias, ouvir a voz melodiosa sendo dirigidos a outro. Ela era sua, apenas sua companheira de alma ate o fim. Contudo,  se obrigou a ver aquele Moleque de merda, que matou o próprio irmão por ser imaturo e infantil para não ver o sacrifício que Itachi fizera por ele, tocando sua garota, beijando-a, marcando-a como ele não poderia fazer. 

— É so uma casca. A alma dela nunca será sua, Uchiha. 

Sussurrou sem saber se dizia isso para o homem, que estava a possuir Hinata, os gemidos abafados pelo som da tempestade que desabava sobre eles, ou para si mesmo, para tentar diminuir a dor que dominava todos os seus músculos. 

Arrebatado.

A tempestade não havia parado ainda, curiosamente a chuva, o vento e os raios so tendiam a aumentar durante aquela semana. 

Ele não suportava mais, a cada vida era a mesma coisa. Tentava se controlar, tentava a deixar viver o tempo certo, mas sempre cruzava seu caminho, sempre interferia devido a saudade, ao amor grandioso que sentia por sua alma. Ele podia sentir sua pele vibrar, por mais que o rosto, corpo, voz, nome dela mudasse a cada reencarnação, ele a reconhecia imediatamente. 

E não podia mais suportar ela nessa vida. 

Foi ao encontro da morena na cachoeira onde ela sempre treinava, agora com menos frequência, pois havia se casado com aquele verme Uchiha. Hidan sabia que ele estava em uma missão, então não se escondeu dela. Caminhou sobre as aguas ignorando a postura de batalha da mesma, apenas sorrindo em deleite por estar na presença dela. 

— Não tenha medo, meu amor. Eu vim me unir a você, mais uma vez, apos muito tempo separados. 

Ele dizia manso, com ternura nos olhos rosas o que desarmou Hinata. Ela nunca havia o visto a não ser em algum Bingo Book, mas o pior era não conseguir reagir perante ele; afinal, o que estava acontecendo consigo? Hinata pensava estar encarando a morte, e de fato era. 

— O que quer... comigo? 

A fragilidade naquela voz o deveria ter feito parar. So que ele sabia que essa incerteza que retumbava pelo timbre de Hinata se tratava de algo maior. Algo que ela buscava inconscientemente.

Suas memorias passadas. 

Ele se aproximou em uma fração de segundos e segurou o rosto dela. Encarava as iris lilases sem desviar, reconhecendo ali a avalanche de memorias que estava consumindo a mente da garota. A tempestade que emanava daquele olhar, transbordando em lagrimas quentes, misturadas as gotas da chuva real. 

— Eu nunca me esqueço de você, minha pequena. 

A dor na cabeça dela era tão grande, estava se tornando insuportável. Contudo não conseguia se mover. Não conseguia fazer nada além de encarar aqueles olhos tão familiares, protetores e mártires. 

Mas acima de tudo, egoístas. 

Hidan sabia que era um erro. Ele podia sentir a dor que ela estava passando, o corpo dela não reagia pois já estava morrendo. Essa era sua penitência, sua maior dor. 

Nunca mais a ter retribuindo seu amor por não se lembrar dele, e quando se lembra, seu corpo é condenado. 

Entre o choro do reencontro e de mais uma despedida, ele a tomou para si. O corpo inerte, mas ainda quente, o silencio de um coração parado e dois corações quebrados. Dentro dela, tomando seus lábios, ele gritou mais uma vez pelo seu amor, sentindo a Alma dela se desprender dolorosamente dessa existência.

Grato. 

A cada encarnação, a cada morte, apesar da dor, ele era grato. 

Passou-se anos. Seculos. Um milênio. Ele ainda esperava pela ela.

A vida agora era agitada. Os ambientes eram diferentes, as guerras eram por baixo dos panos. Mas ela sempre estaria la. 

Dessa vez sua genética copiou a ninja de anos atrás. Ele se surpreendeu quando soube que ate mesmo o nome era o mesmo. Mas a surpresa e raiva maior foi por alguém, como um fantasma do passado, ressurgir para tomar novamente aquele corpo no qual a alma dela habitava. 

—Esses Uchihas, quando acho que estão extintos eles brotam do inferno. 

Ao som de uma batida eletrônica, luzes coloridas e inúmeros corpos suados, bêbados e drogados, Hidan caminhava para a pista de dança da balada. Se perguntava se seria possível ter um pouco dela nessa versão tão liberta e sem tantos pudores, crescida em um ambiente feminista e não tão machista quanto sempre foram os Hyugas. 

Ela dançava sozinha, requebrando os quadris, o fazendo perder a pouca sanidade. Com sorte, poderia provar de seus lábios sem a matar. 

Colocou a mão no quadril, colando seu corpo nas costas da morena e pressionando sua virilha contra a bunda pouco coberta pela mini saia de couro. Ficaram nesse jogo metade da musica, então ele a virou para si e a beijou, sem tempo para que ela sequer visse direito suas feições. 

Reivindicou a boca para ele. Sentia tanta falta dela. A beijou com saudades, sofreguidão e amor. 

Saudades do que foram, saudades do que não poderiam mais ser. 

Para sempre.

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⏰ Última atualização: Oct 04, 2018 ⏰

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