Quinto: Despedida

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Capítulo curtinho, mas necessário

*

- Sei que está constrangida, mas entenda que preciso conversar com Henry agora. Preciso saber dele o que realmente você significa para ele e qual a relação que ele quer ter. Sei que somos sua família e que provavelmente ele está com medo, mas vocês não conseguirão não falar sobre isso para sempre. Um dia terão que encarar a realidade, meu amor.

Mamãe explicou com sua voz carregada e bastante cansada. Ela estava muito fraca e visivelmente debilitada, mas insistia em continuar a conversa.

- Tenho medo que ele fique bravo por eu ter contado. É um segredo de anos e nós dois prometemos a nós mesmos que nunca tocaríamos no assunto. – esclareci, sentindo tanto medo por tanta coisa naquele momento.

Meus olhos ardiam por causa do choro e os soluços eram inevitáveis. Eu queria cavar um buraco no chão e enfiar minha cabeça nele, ficando ali para sempre sem nunca mais encarar ninguém. Sentia tanta vergonha pelos meus atos e tanto receio de ser julgada pelo resto da minha vida.

- Eu apoio vocês. – mamãe disse, após perceber a angústia em meus olhos. – Não importa o que vocês irão decidir, eu irei apoiar. Me prometa que falarão sobre esse amor que vocês sentem um pelo outro de forma clara. Me prometa isso, tirem suas conclusões sobre o que devem fazer e nos contem. Eu irei apoiar o que quer que vocês decidam.

Senti meu coração pulsar tão forte que mal consegui interpretar o sentimento que me foi acometido naquele momento. Mamãe me surpreendeu ao dizer que nos apoia, mesmo sabendo das inúmeras coisas erradas que fizemos, e isso me deixou feliz. Entretanto, ao mesmo tempo, eu tinha que botar as cartas na mesa com Henry e dizer a ele o que eu sentia, e isso era algo que nem eu mesma sabia dizer. Ele era o irmão que eu tanto havia sonhado em ter quando criança, e ao mesmo tempo era a paixão proibida e cheia de desejo. Eu não sabia se isso era alguma garantia de que nós dois deveríamos mudar nossos status de relacionamento de irmãos para namorados. Eu não sabia se a gente deveria assumir, e sinceramente tinha tanto medo. E se eu tivesse entendido errado? E se Henry não me amasse exatamente como eu estou pensando? E se for apenas desejo de dois adolescentes que cresceram juntos? O tesão pelo errado? E se ele me dissesse que eu interpretei mal esse tempo todo?

Era exatamente por isso que eu não costumava pensar sobre nós. Causava tanta confusão dentro de mim que me enlouquecia.

- Henry está namorando agora. – recomecei a conversa após algum tempo tentando raciocinar. – Ele parece feliz, não acha?

Mamãe estendeu a sua mão para pegar a minha.

- Henry sempre parece feliz e grato por tudo nessa vida. Mas acho que vocês não devem mais fugir desse assunto, meu amor.

Talvez ela tivesse razão. Mas eu não sabia como lidar com isso.

- Me dê um tempo antes de conversar com ele, por favor. Eu preciso pensar no que vou dizer e me preparar caso ele me odeie após isso.

Mamãe balançou a cabeça afirmando, mas não disse nenhuma palavra mais. Ela estava exausta e precisava descansar, e eu deixei. Entretanto, eu não devia ter pedido um tempo, pois o tempo dela não era longo.

Dois dias depois ela se foi. Ela dormiu naquele dia e não conseguiu mais acordar, não conseguiu se despedir de ninguém, não conseguiu falar com Henry e não conseguiu dizer um último Eu te amo ao meu pai. Nossa conversa ficou guardada em minha mente, apenas. Ela morreu sabendo sobre nós dois, mas eu não havia decidido ainda se devia contar para Henry ou não.

O nosso mundo desmoronou quando ela se foi e eu não tinha estrutura para algo assim. Eu não conseguia pensar se eu amava Henry como meu irmão ou como meu homem, apenas cai numa depressão profunda após a morte de minha mãe, deixando o tempo passar e ignorando o que ela havia me pedido. Afinal, minha família não precisava daquilo, e nem eu, nem Henry continuamos a fazer aquelas coisas nos anos seguintes.

Ao invés de falar sobre meus sentimentos, eu preferi ignorar. E Henry era fiel à namorada dele. O ritual de ano novo acabou naquele ano. 

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