Escutei o bater na minha porta e a Divindade pediu para que a mantivesse fechada. O batente sempre limpo, livrado do suor impuro dos visitantes que clamavam uma segunda chance.
Gostava de visualizar meu coração desta forma.
Escorava na parede, de ponta cabeça, invertendo a noção do certo e do errado, trocando sanidade por insanidade, vendendo-me desta forma a soar tão ensurdecedor quanto dos impuros que procuraram perturbar meu coração incansavelmente. A insistência, aquela barreira firme feita de realismo puro não queria aguentar uma vida inteira, porque era desmerecido do filho a desfruta-la; desprezando avisos.
Desfocado de objetivos, perdido na juventude e rebeldia encapuzada da mais milimetricamente perfeição, o típico toque soou através das portas finas do meu coração, Na Jaemin, clamando por uma chance de se redimir com o Divino. Uma vontade que vinha de dentro, daquelas que dá e toma, tira e põe, peca e perdoa; uma pista ampla, plana, ilusória, que despertava sono. Aos poucos, dormente, descansando profundamente nos cânticos do belo rapaz.
Enquanto adormecido nos braços do amado que jurei ser tão real quanto a porta fina do meu coração, a fúria potencial crescia em mim, alimentando-se da rara cegueira que te faz acreditar ter nascido nos primórdios e semelhantes da raça humana. Talvez seja um absurdo dizer que existiu quase-homem com apenas um olho, acostumado a ideia de que poderia ser somente o que é. Ou se conformar com a inversão e o regredir, eu.
Lee Jeno, a raça atual regredindo à árdua e hipotética pré-história que se permite criar. Eu, que julgo uma época que não vivenciei só porque conheço da esperteza dos dias de hoje. Ou achei conhecer. É. As altas possibilidades perfeitamente projetadas de estar errado me comem de dentro para fora à medida em que reconheço as trancas enferrujadas daquela maldita porta. Ao fundo, Jaemin acena, os lábios cheios de cor e mistério.
Não bastou a mansa mão afagando meus cabelos sedosos ou um apontar de dedo castigando meus atos impuros, porque toda aquela vontade de ser mais do que era permitido crescia na voracidade em que a porta quebrava. Um vigor tão íntimo que era possível viajar na linha do tempo apertada e visualizar o futuro reino, experimentar na ponta da língua as novas palavras e os novos sentimentos; eu, Lee Jeno, capaz de me tornar qualquer coisa que quisesse por causa de mãos que ousaram pegar no batente.
Ele me devora e implode as angústias até o espaço limite de minhas composições; reajusta o coração no peito, porque acha que tem esse direito de traçar um risco bem grosso e preto nas obras de arte que escolheu como inspiração; toma a boca no intuito de comprovar o quão bom e puro pode ser se estiver comigo; o enganador empalhado no alto do altar que idealizo perto da Divindade ㅡ aquela típica carne podre que se torna admirável, a caça (sim, sim! Oh, caçador, Lee Jeno, seu espertinho de uma figa!) ㅡ; estátua branca e santa, maciça de sangue sujo e pedaços fragmentados e disfuncionais do que uma vez pode ter sido um coração real, capaz de verdadeiramente amar.
É apenas Na Jaemin. Sou apenas eu. Somos apenas nós, coexistindo no crer de podermos ser um só.
Dois corpos nunca ocuparam o mesmo espaço e nunca irão ocupar.
Nesse momento, fecho as cortinas, ajoelho-me pedindo perdão, oro para que meus ouvidos não comecem a sangrar com as vozes que pontuam minha insolência e fragilidade.
Lee Jeno, capaz de esconder maldito altar da Divindade.
Ele mesmo, que permitiu a porta se abrir, a tranca virar, o coração dilacerar.
Lee Jeno, eu, que precisou de mil milhas percorridas para perceber o quanto um coração se desgraça em lonjura.
Não obstante, ainda posso ver Na Jaemin daqui de cima.
Toc-toc! Toc-toc!
Então, não.
Não pode entrar.
[...]
do nada começou a tocar knockin' on my heaven's door e me veio essa ideia maluca. espero que não tenha ficado ruim :((
pra quem não entendeu, o jeno se arrependeu de ter deixado o jaemin entrar no coração dele, porque nada do que ele sentia era real. ou seja, nana só estava interessado em melhorar sua imagem para que não se sentisse uma pessoa ruim por si mesma
é isto
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ㅡ thousand miles. nct | nomin
FanfictionLee Jeno, eu, que precisou de mil milhas percorridas para perceber o quanto um coração se desgraça em lonjura. [♡]› oneshot | jeno + jaemin | yaoi ©borbulhos, 2018. TODOS DIREITOS RESERVADOS.