Fic para a Karol Karambola
Bakugou respirou fundo enquanto o sorriso animado lhe tomava a face. De frente ao precipício, no fim do grande rochedo que marcava a vila dos Caçadores, ele abriu os braços e deixou que o vento castigasse seu corpo e bagunçasse seus cabelos. Gritou, exteriorizando a alegria por estar ali embora soubesse que ainda lhe era proibido.
O rochedo era o marco dos caçadores, a grande transição, onde só os reconhecidos pela vila podiam pisar, mas, apesar de não ter idade para tal, Bakugou não conseguia evitar, o desejo de subir até o topo e sentir o vento dos ancestrais forte em seu rosto era tentador.
Riu, aproximou-se da beirada para espiar o rio Draco que corria depressa metros e metros abaixo. Eram águas claras, sagradas, repletas de magia na qual se banharia ao fazer dezoito anos e ser reconhecido como caçador, como parte da vila. E iria, seria o melhor, o mais forte e destemido.
— Katsuki, já deu, vamos voltar!
Ele olhou para trás. Kirishima não ousava se aproximar, permanecia ao longe, fingindo que não estava também quebrando as regras e tentando se convencer que ficar ali atrás de uma árvore qualquer era mais mais perdoável do que estar à beira do rochedo. Revirou os olhos, irritado, mas nem mesmo a cautela de Kirishima conseguia apagar por completo a felicidade que vibrava em seu peito.
O vento ficou mais forte, e ele fechou os olhos, lendo a vontade dos ancestrais. Era como se os ouvisse, e só por isso decidiu obedecer e correr até onde Kirishima estava. O melhor amigo tinha o rosto pálido, os olhos atentos à movimentação ao redor como se temesse que fossem pegos a qualquer instante. Passou o braço pelos ombros dele e o puxou para longe dali antes que corressem mesmo perigo.
— Você é louco — Kirishima acusou em falsa irritação.
E não tinha como se irritar de fato, não com Bakugou visivelmente tão feliz, não com ele sorrindo abertamente enquanto corriam pela floresta e voltavam aos territórios da vila. Pararam a certa distância, apenas para disfarçar a excitação, o ar de liberdade recém adquirido. Bakugou puxou Kirishima para trás de uma árvore, os olhos fixos na movimentação à frente enquanto Kirishima corava pela proximidade que para o outro era tão normal. A pele dele exalava um frescor, e era assustador pegar-se desejando tocá-la, senti-la sobre os dedos ou lábios.
Uma ofensa... Engoliu em seco. Já era um ultraje cogitar algo assim com outro homem, pior ainda com seu melhor amigo, e ainda mais grave sabendo que ele era o filho da chefe da vila, o escolhido para levar adiante as tradições da vila, os ritos, tudo.
— Ei, que cara de merda é essa?
Kirishima arregalou os olhos e riu, sem graça.
— Nada, nada. Podemos já ir?
Bakugou arqueou a sobrancelha, desconfiado, mas sem paciência para insistir. Retirou as folhas do cabelo de Kirishima e encostou a testa à dele para repetir:
— Ainda lembra a história que contaremos, não é?
Kirishima prendeu a respiração. Como Bakugou conseguia ficar tão próximo como se fosse normal? Como ele conseguia olhar em seus olhos sem se perder como ele se perdia ao mirar os olhos castanhos tão cheios de vida e determinação? Era uma incógnita e talvez sempre seria. Engoliu em seco, sentindo os dedos do outro em seus cabelos, a testa contra a sua, a respiração quente contrastando tudo.
— Sim... — Limpou a garganta. — Fomos... ah...
— Fomos seguir aquele javali, Eijirou! — Bakugou repetiu mais uma vez. — O javali que destruiu a colheita do Aizawa na semana passada.
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Ventos Ancestrais
FanfictionMaldito fosse quem havia dito que aquilo era errado, maldito fosse o imbecil que tinha decidido impor limites a o que quer que alguém pudesse sentir por outra pessoa. Maldito fosse quem tentasse lhe repreender porque Bakugou mandaria essa pessoa pro...