Unknown.

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Segunda feira. Primeiro dia de aula no exterior.

Faculdade de Linguística – Londres.

O dia havia amanhecido frio, sem sequer uma nuvem no imenso céu azul claríssimo, apenas uma leve brisa gélida. O clima da cidade não surpreendia mais a brasileira. Elena Galbraith era a mais nova estudante de intercâmbio da faculdade de linguística de Londres. Era incrivelmente apaixonada pelas línguas e pela cidade. Engana-se quem acredita que a jovem carioca se mudou para aquele país para estudar inglês ou conhecer o país que obedece à uma Rainha. O incêndio que destruiu sua antiga Universidade e matou seus pais e suas duas melhores amigas foi o propulsor para que entrasse em um avião de volta para o Reino Unido. Criada dentro de uma família inglesa que se apaixonara pelo Brasil em sua lua de mel e se mudaram para cá, Elle – como é conhecida pelos mais próximos – sofreu forte influência da cultura inglesa e é apaixonada pela Inglaterra e sua Realeza.

As leves ondas de um acobreado intenso, que recaía pouco abaixo de seus ombros, e uma franja que caía sobre suas sobrancelhas, o que dava mais leveza ao seu rosto. Seus olhos eram negros como a noite, e pareciam duas bolas de bilhar de número oito, realçados com uma quantidade considerável de máscara para cílios. Nem sempre se vestia muito bem para ir às aulas, às vezes pela manhã vestia apenas moletom e um coturno qualquer, ela se sentia bem para passar algum tempo estudando na Faculdade. Sempre tivera uma péssima relação com sua mãe por ser a única que suspeitava da real opção sexual da menina e desde sempre reprovara, já seu pai tinha certeza de tal e sempre deixava claro que se algum dia ela escolhesse sair do armário ele continuaria a amando incondicionalmente. Seu pai era a sua fortaleza e agora ele e sua mãe havia ido embora.

Naquela primeira segunda feira de aulas, estava vestindo uma saia de prega cinza, com um xadrez bem sutil, uma blusa de manga ¾ clara, uma meia calça grossa vinho escuro com um scarpin descolado, finalizando o look com um sobretudo cinza chumbo. Com sua bolsa preta pendurada no ombro, seu caderno em uma mão e seu celular na outra, havia acabado de sair de seu bloco quando olhou o relógio. Ela ainda tinha quase quarenta minutos para sua próxima aula de Educação. Era o tempo perfeito para um café, e alguns poucos capítulos do livro da vez, na Starbucks da faculdade, que por sua sorte – e azar ao mesmo tempo – era de baixo do seu bloco. Por mais belo que fosse o campus, sua mente estava longe enquanto fazia seu caminho pela faculdade. Fazia apenas dez dias desde o fatídico acidente que havia matado seus pais e grande parte de conhecidos da antiga instituição. Fazia apenas nove dias desde que enterrara aquele que era a sua única fortaleza. Embora ela ainda estivesse aprendendo a lidar com a perda, estava realmente animada para começar as aulas.

A ruiva estava estudando para se tornar Professora de Gramática, já que havia fracassado em seu primeiro teste como escritora. Sempre se perdendo em pensamentos e tramas geniais, mas nunca conseguindo colocar isso para o papel. Talvez por causa da falta de tempo devido aos inúmeros textos teóricos de Teoria da Literatura e Literatura Inglesa em sua antiga escola. Mas a animação era tanta que adentrara a cafeteria com a mentalidade de que agora ela estava começando uma nova jornada e era hora de administrar melhor seu tempo para conseguir fazer tudo que gostaria. Tudo isso acabou quando ela puxou a porta de vidro do pequeno local e viu que despertara olhares curiosos com direito a algumas risadinhas e burburinhos. Franziu brevemente o cenho enquanto caminhava até o balcão fazer seu pedido. Por que estão olhando para mim? Indagou mentalmente parando em frente a atendente dando mais uma olhada no local notando que os olhares continuavam, assim como os burburinhos.

— uh-uh – Pigarreou a atendente – Posso anotar sua bebida?

— Hum, sorry. – Voltou sua atenção para ela com um pequeno sorriso simpático mas um tanto quanto forçado. – Um Doce de Leite Latte, por favor.

Deslizou para o lado aguardando o seu pedido, foi quando ouviu uma voz rouca mas tão doce quanto o café que acabara de lhe ser entregue. Seus olhos recaíram sobre uma mulher madura, de pele alva e estatura mediana, dona de um olhar impetuoso e os fios grossos e de um ondulado impecavelmente bagunçado. Um caramelo macchiatto descafeinado, foi o pedido da mulher. Elena não demorou muito para que notasse a quão indelicada estava sendo por perder-se nos detalhes da mulher e, ligeiramente corada, apressou-se para sair da cafeteria, logo após cumprimenta-la com um breve sorriso.

— Que susto, Brooke! – Exclamou atendendo o celular após se assustar com seu próprio toque. Brooke era a melhor amiga de Elena desde que chegara ao país no mês passado e ainda havia quem jurava que ambas eram irmãs. Quase um clone loiro de Elena, Brooke era a típica loira burra do colegial, exceto pela incrível inteligência.

— Cadê você, sua louca? – Indagou.

— Saindo da cafeteria, acabei de passar por um awkward moment. – Comentou franzindo o cenho de leve enquanto caminhava em direção à sua sala de aula.

— Anitta de novo? – Perguntou, Brooke, em um suspirou.

— Não, claro que não. – Respondeu fazendo uma careta como se a loira pudesse vê-la e continuou. – Com uma professora, eu acho...

— Uma professora? Me conta isso direito. Ela falou com você? Você pegou o telefone dela? O e-mail? Ela é da letras? – Brooke disparou curiosa como sempre.

— Calma, calma. Já te conto... – Disse por fim, desligando a chamada ao entrar na mesma sala que a amiga.

— Foi apenas uma troca de olhares. – Deu de ombros ao se sentar. – O que eu perdi? – Indagou levando a bebida até os lábios bebericando-a.

— Só o cronograma do curso, por falar nisso, nossa primeira avaliação já é na semana que vem...

— JÁ?! – Arregalou os olhos exclamando um tanto quanto alto demais, o que fez com que parte da turma a olhasse com aquele conhecido olhar de desaprovação, fazendo com que Elena se encolhesse na cadeira sem saber onde se esconder.

— Já, mas me conta, quem é ela? – Brooke voltou ao assunto principal, ainda curiosa.

— Eu não sei, – Sussurrou em resposta enquanto começava a copiar a bibliografia base do curso que já estava na lousa. – Só consegui ouvir a voz dela quando fez o pedido...

— Você ouviu o nome dela? – Indagou em um suspiro animado. Ele respondeu negativamente com a cabeça e logo em seguida abriu um pequeno sorriso de canto. 

Not wonderland, my dearWhere stories live. Discover now