"Ciclos" trata-se de uma obra experimental que visa expressar a relação de qualquer ser vivo para com o outro no mesmo espaço.
Optei por filmar em plano fixo, exatamente para realçar a ideia acima apresentada, quis que esse espaço fosse o nosso planeta e o objetivo é representar a história do ser humano, desde a sua existência.
As mãos correspondem ao ser humano e os vários gestos, movimentos vão representando a forma como cada um reage na presença ou ausência do outro. E porquê as mãos? Parti da expressão "Está tudo nas nossas mãos!". Ao longo do filme vamos vendo algumas situações de guerra, de conflito, que somos nós próprios que levamos a que elas existam, então cabe a nós muda-las, nós é que decidimos com queremos avançar, como queremos que o mundo seja, se queremos amar o outro ou destrui-lo...
Os gestos foram criados, alguns deles, inspirados nos vários Mudras, em Linguagem Gestual, em filmes de Hans Ritcher e Bill Viola.
Quanto aos sons, optei por utilizar sons da natureza porque considerei que faria mais sentido e não fugia ao enquadramento do tema geral.
As cores e os backgrounds fui colocando vários diferentes em função do que pretendo transmitir naquele momento, através dos jogos de simbolismo de cores e do que o seu design transmite visualmente.
O objetivo é transmitir a ideia através da conjugação destes três elementos: gestos, sons e cores.
Seguidamente, explicarei em pormenor cada momento do filme:
- Inicialmente, dos 0 seg. até aos 35 seg, vemos um fundo a negro com várias mãos a cinzento: uma a servir de suporte, duas em conflito e uma outra mais atrás que não interage e podemos ouvir o som do vento forte. O objetivo é mostrar, a forma como vejo o mundo atualmente: uns em constante conflito (os países em guerra), outros vítimas dessa guerra, sofrem com ela, carregam o seu peso (podemos associar, aos refugiados, por exemplo) e outros, que vivem no seu canto e nada fazem para o impedir (os países de fora que não ajudam);
- Dos 0,36 seg. até aos 1,08 min., temos apenas uma mão num fundo azul cintilante, que é brilho misturado com a tranquilidade e podemos ouvir o canto da cigarra, que inspirado na Fábula "A Cigarra e Formiga", pode ser associado à vaidade e ao egocentrismo . O objetivo e mostrar a necessidade do ser vivo em se de destacar em dominar um território, a felicidade com que ele vive quando está sozinho, quando ninguém se mete no seu caminho, o problema é que, por natureza, ninguém consegue estar muito tempo sozinho então essa felicidade vai desaparecendo, isso é demostrado nos últimos 3 seg. quando a imagem começa a perder a cor e o brilho;
- Dos 1,09 min. até aos 2,05 min., assistimos à busca, ao desejo de reconquistar o outro, que vai hesitando, com medo de sofrer como já sofreu da última vez, infelizmente o ser humano tem medo de confiar, de ser atraiçoado... O vermelho-escuro significa amor misturado com perigo. O som dos cucos é uma forma inocente e ternurenta de chamar o outro;
- Dos 2,06 min. até aos 2,14min., temos um fundo com uma harmonia de cores e luzes, as mãos fazem gestos de harmonia e ouvimos o som das pombas que simbolizam o amor verdadeiro e a pureza. Este excerto representa a verdadeira harmonia, quando não há ódios nem guerras nem destruição, apenas amor, paz e convivência. Segundo afirmam na página Factos Desconhecidos "Desde o começo da história, o mundo só teve 268 anos de paz, apenas 8% do tempo. Os outros 92% foram cheios de guerra, sangue e morte", então optei por colocar esta parte com a duração de 8 segundos porque corresponde exatamente a 8% da duração do vídeo, sem contar com os créditos.
- Seguidamente, até aos 2,48 min., vemos as mãos a tentar formar o símbolo do infinito, assistimos a um intercalar de tons: um cinzento, que neste contexto é ausência de cor, um vermelho e um vermelho mais nítido e ouvimos o som de pássaros. A junção destes três elementos surge com o objetivo de refletir a fraqueza humana em amar, em fazer e cumprir promessas; as mãos após o momento de harmonia vivido anteriormente, querem que o mesmo dure para sempre e tentam fazer essa promessa porém, a dificuldade em formar o símbolo do infinito em conjunto com o som dos pássaros que, entre outras coisas, simboliza a inteligência, sabedoria e amizade, e também conjugado com o ciclo de cores iniciado com um cinzento, que neste contexto é ausência de cor, que significa inexistência de amor, seguido por um vermelho, que é o amor que está a crescer e um vermelho mais nítido que é o amor que já se tornou forte, porém, depois
voltamos a ver o vermelho menos nítido até que voltamos, novamente, a ausência de cor, tudo isto, é a premonição de que essa promessa não será cumprida e, mais cedo ou mais tarde, tudo voltará ao mesmo;
- Até ao minuto 3,04 min. assistimos a uma caminhada, o fundo amarelo representa o nascer do sol, o som do galo realça o amanhecer, inicia-se um novo dia, um novo ciclo;
- Em seguida, voltamos a ver o que já aconteceu anteriormente, uma mão num fundo azul cintilante, onde podemos ouvir o canto da cigarra; ela parece feliz e tranquila, até que surge a outra mão e aí, a primeira não se mostra satisfeita porque sente que a outra lhe está a roubar o destaque, o protagonismo, então voltamos a ver o fundo intercalado pelos tons de vermelho e cinzento que é a prova de que a promessa não está a ser cumprida, depois o som do trovão e o presságio de um novo conflito;
- No minuto 3,43 min., a primeira mão abandona o espaço, o fundo fica novamente só azul e ouvimos o canto da cigarra, a segunda mão goza agora ela do espaço, fazendo, entre outros gestos que simbolizam o demónio (Imagem 1) e a coroa de um rei (Imagem 2), querendo dizer "eu fiz de propósito, agora quem reina sou eu". No entanto, a primeira mão não se rendeu e aos 4,10 min. retorna, iniciando uma guerra acesa, o fundo fica em tons de vermelho que neste caso simboliza o odio, misturado uns efeitos que simbolizam o fogo, a destruição; o som dos ventos fortes, da chuva e dos trovões remete também para destruição; a promessa feita anteriormente foi em vão...;
Imagem 1 – Símbolo do demónio Imagem 2 – Coroa
- Ao minuto 4,45 min., a primeira mão vence a batalha e volta a paz vivida inicialmente, antes de ser perturbada pela segunda mão, mas ao minuto 4,53 min. a segunda mão retorna e voltamos a assistir a guerra acesa;
- Quando chegamos ao minuto 5,52 min., essa guerra termina assistimos a uma das mãos denotada pelas cores amarelo e laranja que simbolizam e o fogo e ouvimos o som
de um cão carente, chorar, realça o sofrimento, a destruição, sentida numa pós guerra, a carência pelo outro, o desejo da redenção;
- Em seguida, assistimos novamente, a uma nova promessa, onde vemos gestos de amor, acompanhados novamente pela junção dos três tons de cores e o som dos pássaros. Sabemos que não durará para sempre;
- Por fim, assistimos, novamente, a uma caminhada, o fundo amarelo que representa o nascer do sol, o som do galo que realça o amanhecer, inicia-se um novo dia, um novo ciclo, que já conseguimos perceber como irá decorrer, pode não ser exatamente igual mas terá o mesmo caminhar, um conflito, uma nova guerra, uma redenção e uma falsa promessa, que sabemos que não será cumprida...
Bibliografia
www.dicionariodesimbolos.com.br
http://www.significadodascores.com.br
https://www.facebook.com/Desconhecidos.Fatos
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Ciclos
RandomCurta-metragem de cinema experimental elaborada para a cadeira de Novos Cinemas, integrada no Mestrado em Cinema.