02 DE FEVEREIRO DE 2018
Estava acomodado na poltrona ao lado da cama de hospital depois que Carolina insistiu na ideia de que deveríamos assistir um filme antes de eu sair.
- Você acha que ele vai mudar de opinião? - ela perguntou, enquanto nosso entretenimento era interrompido pelo comercial.
- Acho que ele vai pegar as malas e se mandar - respondi, conferindo as mensagens de Mateus - Eu faria o mesmo se fosse ele.
"Cara, eu tô encrencado" Mateus Duarte.
- Talvez - minha mãe respondeu, se remexendo no leito - Eu nunca vou me acostumar com esse lugar.
- Quer que eu chame alguém? - perguntei, me levantando e me aproximando dela.
- Não, querido - respondeu, segurando minhas mãos - Você está muito bonito - sorriu - E cheiroso.
- Mateus está dando uma festa - disse acariciando suas mãos geladas.
- Tenha cuidado - ordenou, fechando os olhos - Eu vou descansar um pouco, você se importa?
- Não me importo - respondi, sorrindo de canto - Você precisa de energia.
- Talvez você possa me contar o fim do filme amanhã.
- Tudo bem - respondi, me abaixando e beijando sua cabeça - Eu te amo, mãe.
- Eu também te amo, Gus.
Depois que ela soltou minha mão e sua respiração se tornou mais suave, permaneci ao seu lado, focando toda a minha atenção no movimento do seu peito subindo e descendo, como se minha vida dependesse de cada uma de suas respirações. E ela dependia.
Eu esperei algumas horas até ter certeza de que ela estava bem e fui embora.
Mateus me ligava como um louco e tudo o que eu poderia supôr era que a porra toda já estava em chamas e ele precisava de alguém para resgatá-lo antes que a polícia chegasse.
Meu amigo gostava de dar aquele tipo de festa, ele gostava de fazer as coisas erradas mesmo que no fim do dia a casa inteira estivesse em pedaços. Seus pais nunca deram a menor importância para o que ele fazia, sempre deixando-o de lado. Eles tinham coisas mais importantes para fazer do que criar seu único filho. Eu sempre imaginei que talvez ele agisse do modo que agia para chamar a atenção ou talvez apenas para preencher o vazio. De qualquer forma, eu o entendia.
Caminhei pelo jardim até a porta da frente que estava escancarada. A casa estava cheia e barulhenta. Parecia que a federal toda estava espremida ali dentro.
Entrei, ignorando os olhares conhecidos e me preocupando apenas em encontrar Mateus.
- Gustavo! - uma voz feminina chamou minha atenção. Era Carolina se aproximando como um foguete - Você veio!
- Parece que sim - respondi, forçando um sorriso. Carolina era a garota mais atraente da cidade, mas ela também era um antro de confusão ambulante - Você sabe onde o Mateus está?
- Você está bonito, amor - elogiou, ignorando minha pergunta, enquanto passava a mão pelo meu corpo. Me afastei, mantendo o foco.
- Obrigado. Mas eu preciso mesmo saber se você viu o Mateus - respondi, enquanto ela se lançava em meus braços. Carolina estava bêbada - Você não deveria exagerar na bebida.
- Você não deveria exagerar na bebida - ela engrossou a voz, tentando me imitar como deboche. Bufei.
- Você precisa se cuidar, Carolzinha - lhe lancei um olhar gentil, segurando-a pela cintura, antes que ela caísse de cara no chão.
- E você já deveria estar me beijando uma hora dessas - ela sorriu, então seu olhar congelou em algo atrás de mim - Droga...
Levei dois segundos para me virar e dar de cara com Sebastian. Seu namorado.
Ele me encarou como se eu estivesse acabado de lhe dar um soco e arrancou Carolina das minhas mãos. Aproveitei a deixa para me espremer na multidão.
Andei por toda a casa e nem sinal do desgraçado. Quando perguntava para alguém, uns apontavam para direita, outros apontavam para a esquerda, então resolvi procurar no andar de cima. Talvez Matheus estivesse com sua cabeça a prêmio em um dos cômodos.
- Por que você não me deixa em paz?! Que merda, Marcos! - ouvi a voz de Bella como um sussurro, me fazendo olhar na sua direção. Ela estava em um dos quartos discutindo com o ex namorado que era uns bons 20 centímetros mais alto que ela - Vai embora porra!!
Ele ignorou cada palavra que ela disse e se aproximou, segurando-a pelos braços, tentando beija-la.
- Eu sei que você ainda me ama, Bel - ele resmungou, a voz ainda mais arrastada que a dela.
- Não! - seu rosto se contorceu e ela tentou empurra-lo, mas não era forte o bastante.
Ele a arrastou para a cama de casal do quarto, jogando-a nela, enquanto tentava arrancar sua roupa. Bella enfiou um tapa no rosto do imbecil, tentando empurra-lo outra vez. Ele ficou estático por alguns segundos, então devolveu a bofetada dez vezes mais forte. Meu corpo todo estremeceu e eu apaguei.
Quando recobrei a consciência, estava sobre Marcos com seu sangue na minha roupa, enquanto meu punho atingia seu rosto repetidas vezes. Senti uma mão me puxar pelo braço e uma voz ecoar na minha cabeça.
- Chega!! - gritou - Chega!! Você vai matar ele!!
Me afastei no mesmo instante, enquanto Marcos me olhava indignado.
- O que deu em você?! - ele rosnou, se levantando do chão, cambaleando, com o seu rosto coberto de sangue.
Olhei ao redor, percebendo Bella olhar para Marcos e logo depois para mim. Seu rosto estava vermelho e sua respiração acelerada, mas ela não esboçava nenhuma reação.
- Você está bem? - perguntei, enquanto ela fixava o olhar nas minhas mãos sujas de sangue - Eu vi ele te arrastar pra cama e...
- Você é o amigo do Matheus - ela me interrompeu. Não era uma pergunta, era uma afirmação.
- Sim - concordei, sem mover um músculo. Ela virou o rosto para a porta vendo Marcos sumir no corredor.
- Qual o seu nome? - perguntou voltando a me olhar.
- Gustavo - disse e ela assentiu, se sentando na cama, arrumando a roupa no corpo. Seu cabelo estava jogado sobre o ombro como se tivesse acabado de ser escovado, mas sua maquiagem estava borrada, deixando seu olhar escuro.
- Não vai perguntar o meu? - ela questionou.
- Eu sei o seu.
- E qual é?
- Bella - ela me avaliou por alguns segundos. Eu acho que ainda estava tentando entender o que diabos tinha acabado de acontecer.
- Pensei que só saísse de casa nos fins de semana - disse tentando evitar o silêncio.
- É, mas eles começaram a brigar - o olhar da garota perdeu o foco e ela encarou o nada - Eu tive que sair.
- Quem começou a brigar? - perguntei, mas não tive resposta. Eu acho que Bella estava bêbada demais para entender ou explicar qualquer coisa - Você tá bem? Quer que eu te deixe sozinha?
- Está tudo bem - a garota voltou a ficar em pé, passando por mim e indo em direção a porta - Tenho que ir para casa. E é melhor você colocar gelo na sua mão - parou de andar e me encarou - Aliás, meu nome é Arabella.
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Liberdade
Любовные романыJosé Augusto se apaixona por sua colega de faculdade, mas conforme se aproxima da garota, vai percebendo que ela está longe de ter uma vida perfeita. Mentiras rondam a vida do casal e logo as perguntas começam a surgir. Quando Gus menos espera, sua...