O segredo da dispensa I

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Eu queria te falar tudo, mas você não estava lá para ouvir. Então eu escrevo, meu amor ah, como eu escrevo e, se um dia, meus versos te alcançarem, saiba que falta de amor não foi.

O chinês lia em voz alta, rouca e escandalosa, encontrava-se jogado na cama coberto por um lençol felpudo do pokemon seus olhos se mantinham vidrados em um post it rosa choque que não lhe pertencia.

O sorriso deste misturava-se ao dos mais novos, arquitetando uma algazarra que podia facilmente ser ouvida do bairro vizinho, chamando assim a atenção de um irritado Jaebum, trajando apenas uma toalha presa na cintura e uma escova de dente espumando em sua boca.

Ao adentrar o espaçoso quarto a bagunça cessou instantaneamente, os olhares das três crianças pararam em cima deste que notou o loiro esconder algo debaixo do próprio corpo. Ele os encarou como um leão que sentia de longe o rastro de sua presa, tirou a escova lilás dos lábios antes de perguntar.

– O que estão fazendo? Jackson, o que tu escondeu aí? O silencio contrastava com a poker face dos asiáticos, preferiu ignorar aquele circo abandonando o cômodo com a advertência de que seriam expulsos do condomínio se continuassem com aquela bagunça.

Assim que a porta foi fechada, com certa força, o som natural das hienas continuou, fazendo com que o peladão abrisse novamente a mesma correndo e puxando das mãos do baixinho a prova do crime.

Ao modo que lia o simples pedaço de papel amassado, o rosto do rapaz enrubescia e sua expressão transformava-se na de um assassino em série, a correria foi instantânea mas o coreano tinha uma carta na manga, praticou atletismo no colegial, consequentemente agarrou o cabelo do mais novo o enforcando em seguida.

Bambam e Jackson assistiam tudo do último degrau da escada, rindo que nem loucos, um coreano de óculos redondos e várias sacolas de papel nas mãos introduziu-se pela porta principal da residência.

– JB! VETERINÁRIO CUSTA CARO! Gritou ao enxergar a cena, forçando em seguida os dois a levarem as sacolas até a cozinha e organizar tudo na dispensa.

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– Não acredito que estamos obedecendo o pintinho. O magrelo com rosto de criança e cabelos tingidos de rosa reclamava enquanto abocanhava uma maça e observava o mais velho separar alguns enlatados, este sentado no chão da pequena dispensa mantinha-se focado na ocupação dada pelo coreano.

O mais novo achava-se impaciente, não costumava permanecer parado no mesmo lugar por tanto tempo, e o fato de estar supostamente cumprindo ordens do perfeccionista mandão feria brutalmente seu ego.

– Devíamos estar curtindo nossas férias. Alegou, recebendo um olhar e um sorriso baixo do chinês.

– Relaxa hoje é só o primeiro dia, ainda temos quatorze dias para curtir a vida adoidado. Garantiu.

– O que quer fazer primeiro? Continuou, recebendo um silencio anormal como resposta, virando o rosto descobriu que o mais novo tinha se retirado. Bufou jogando uma lata de ervilha no chão.

Sua tentativa de tranquilizar o magrelo tinha dado a este a brilhante ideia de se afundar na cama, relativamente grande para uma única pessoa, e assistir o filme dos anos 80 que o mais velho citou em sua frase motivacional. Ao terminar de organizar a dispensa fez questão de exibir o resultado de seu trabalho árduo para o coreano que fingiu estar satisfeito, pois para este apenas ele próprio era capaz de deixar as prateleiras perfeitamente preenchidas. Aquela era apenas uma forma de mantê-los distraídos e quietos.

– Você me traiu. Declarou um rancoroso chinês notando a criança de cabelo rosa e a que havia sido agredida, deitados assistindo ignorando propositalmente a presença dele.

– Você ouviu alguma coisa Gyeomie? Perguntou um debochado Bambam ao mais novo, fazendo o baixinho pular sobre eles os enchendo de murros. Uma baixaria só.


AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora