A carta

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Oi gente !

Primeiramente mais uma vez obrigada pelo número de visualizações de 'Obssessive' chegamos a 3K e eu não esperava um número tão alto assim, de verdade. Mas enfim, já faz um tempo desde que postei pela última vez e usei esse tempo pra deixar que minha criatividade fluísse para um novo possível tema. Sendo totalmente sincera com vocês, tenho duas fanfics que consegui começar a desenvolver, essa aqui é uma delas. Já a outra, vai demorar um pouquinho mais para ser postada, ela realmente requer algo um pouco mais de atenção aos detalhes e sendo um tema completamente novo para mim precisarei de mais tempo. Espero que gostem dessa aqui, a minha inspiração para essa fanfic é o filme "Carol" disponível na Netflix caso se interessem por assistir, mas já aviso que utilizei o filme como um ponto de partida e não é algo fiel a história narrada lá. Os capítulos serão divididos entre coisas que aconteceram algum tempo atrás e o hoje, mas acredito que não irá ficar confuso para vocês lerem. De qualquer modo, me procurem por aqui ou pelo meu Twitter @karlaccabeeyo se tiverem dúvidas.

Sejam bem vindos a 'Love, Camila'.




"Querida Lauren,

Faz alguns dias desde que soube de mim pela última vez, peço imensas desculpas por isso. Mas usei deste tempo para pensar em tudo o que aconteceu. Jamais pensei que as coisas poderiam tomar essa proporção, e deve ser por isso que intensificou. Irei ser direta. Você mesma diz que é melhor puxar o curativo de uma vez, a dor será menor do que ir por partes. O que fizemos foi inconsequente é impensável, em outras palavras, não sabíamos o que estávamos fazendo. Disse que acabaria as coisas com o meu marido na última vez que nos vimos, voltei para casa com esse objetivo. Entretanto percebi do que estava abrindo mão e não podia simplesmente ignorar isso, Olivia precisa do pai e eu ainda o amo. Sim, também disse que não havia mais algo bom saindo daquela relação. Acabou que estava errada, Lorenzo está disposto a salvar essa relação assim como eu. Espero que entenda isso algum dia, fazemos sacrifícios pelo bem estar da nossa família, e a minha realmente precisava disso. Por fim, desejo-lhe tudo o que o mundo tem a oferecer. Você é uma mulher jovem e bonita, aproveite. Odeio ter que terminar algo com tamanha proporção por meio de uma simples carta, mas acredito ser bom para nós duas que seja assim. Tenha uma boa vida, Lauren.

— Camila."

Li e reli aquela carta vezes o suficiente para decorar cada palavra escrita. Nada daquilo fazia sentido para mim. Procurei por algum erro, algo que pudesse me dizer que não fora Camila quem escreveu aquilo. Mas aquela era sua escrita, a maldita caligrafia perfeita e inconfundível. Há uma semana a mulher havia deixado o café que frequentávamos tempo o suficiente para nomear-lo como nosso ponto de encontro, ela alegava que acabaria tudo com o marido e nos encontraríamos à noite para fugirmos. Era um plano perfeito, iríamos para algum lugar do Sul da California, um lugar onde ninguém nos conhecia. Tudo ficaria bem. Mas o que realmente aconteceu, acabou com todos os planos e a carta só enfatizou isso. Camila não apareceu naquela noite, retornava todas as cartas enviadas até a sua residência e não atendia aos telefonemas. Parecia estar me ignorando e eu não fazia ideia do motivo. Agora eu entendia, ou não...

Lorenzo Bennet é o herdeiro legítimo da Bennet Corporation e um dos homens mais ricos da cidade, mas completamente desprezível com a esposa. Os relatos de Camila me faziam querer matá-lo. Era do tipo que tinha a visão de que a mulher era um objeto para o seu uso como bem entender. Camila o odiava por todas as vezes que a rebaixou como o sexo frágil. Não fazia sentido algum agora de repente ele resolver mudar, as coisas não eram assim naquela família.

A morena sempre preferiu o "frente à frente" era do tipo de pessoa que valorizava as relações humanas e não dava simples explicações como aquelas. Admirava Camila por ser alguém com uma educação perfeita . A sua forma de ser não se igualava com aquela carta.

Foi por isso que resolvi cometer uma loucura e ir até a sua casa. Inventei uma desculpa qualquer para minha chefe de que estava doente e precisava ir para casa repousar. Peguei o primeiro ônibus que me levaria até o bairro de Camila e fiz o restante do caminho a pé. A sua casa era a última do quarteirão, lembrava perfeitamente da enorme residência dos Bennet. A casa era enorme e repleta de um luxo sútil por todos os seus ambientes.

— Lauren querida, o que faz aqui ? — Ouvi a voz de Rose, a senhora que trabalhava para a família, assim que pisei na calçada da casa dos Bennet.

— Olá Rose, como está ? Vim procurar a Senhora Bennet, ela está ? — Meus olhos rolaram pela propriedade com certa curiosidade e nervosismo.

A verdade é que eu queria pegar Camila me observando de uma das janelas e quando percebesse que eu também a encarava, sorriria para mim, como todas as outras vezes que sorriu. Mas a expressão no rosto de Rose não era a das melhores.

— Sinto muito, senhorita Lauren. O senhor e a senhora Bennet se mudaram faz alguns dias, apenas estamos aqui terminando de encaixotar as coisas para levar até lá. — A voz da senhora tinha um pesar grande, como se tivesse pena de que eu tivesse perdido a viajem até ali. E talvez eu teria.

Vasculhei a bolsa em meu ombro atrás da maldita carta de Camila, minha mão encostou no papel amassado e o puxou para fora da bolsa. A carta havia sido enviada ontem, era impossível ela não estar mais ali. Foi aí que o quebra-cabeça começou a se linhar em meu cérebro, ela escreveu há dias a carta, mas esperou estar longe para fosse entregue a mim. Era a certeza de que não a procuraria enquanto estivesse aqui. A certeza de que não hesitaria em reerguer a família que construiu com Lorenzo.

Após alguns minutos, constatei que nada poderia ser feito a aquela altura e com um suspiro derrotado, empurrei a carta para dentro da bolsa novamente e encarei a doce senhora a minha frente.

— Já que minha viagem fora em vão. Eu vou embora, Rose , até mais. — Acenei para a mulher e antes que ela tivesse a chance de responder, praticamente corri para longe dali.

Decidi que iria voltar para casa andando, aquela hora o transporte público estaria lotado. E estar no meio de um monte de pessoas, não ajudaria a melhorar o meu estado.

Uma grande dúvida ainda dominava meus pensamentos sobre como as coisas deram um giro de 360° graus e o lado ruim pendeu na minha direção.

Enquanto caminhava pelas ruas de Boston, me esbarrando algumas vezes por estar completamente aérea ao que acontecia a minha volta, tentava lembrar dos acontecimentos da semana anterior. Algo que demonstrasse o comportamento estranho de Camila naquela altura, quando ainda mantínhamos uma espécie de relação ? Não tínhamos rotulado o que éramos, uma gostava da outra e era o que importava. Também não poderíamos nos dar o luxo de rotular algo que os outros achassem proibido. Por mais que estejamos em 1950 onde os avanços tecnológicos estão nos encaminhando para uma possível modernidade, o preconceito não deixou de existir e a relação entre pessoas do mesmo sexo ainda é tida como algo proibido. Não conseguia entender porque o amor podia provocar a raiva, quando tudo o que queríamos era amar.

Talvez seja por isso que Camila não quis continuar, talvez a pressão fosse tamanha que seus sentimentos não conseguiram superar. Eu não a culpo, não quando não assumimos para o mundo e deixamos aquilo apenas acontecer entre quatro paredes, onde ninguém poderia desconfiar de nada.

Foram exatos três meses, entre quando nos conhecemos e quando decidimos fugir. Todas as lembranças ainda estavam vivas em minha memória, quase como tivessem acabado de acontecer, mas no lugar das borboletas tudo o que me sobrara, foi um grande vazio e a dúvida de onde Camila estaria nesse momento.

Love, CamilaOnde histórias criam vida. Descubra agora