Como contar uma história pelo inicio, se eu nem me lembro mais quando ela se iniciou? Será que deveria ter escrito um diário sobre tudo?
As pessoas pensam que sabem sobre mim. Me chamam de fria e o meu melhor amigo de cruel. Tem medo de mim e, surpreendentemente, dele também. Me querem longe mas as vezes o adoram e as vezes o insultam. Morte e Vida, eis nossos nomes.
- Como tens passado.- encaro as peças de xadrez a minha frente
- Espera que eu lhe responda o que?- olho meu amigo que acaba de se dar um cheque-mate, sorrio de canto
- Oh...sempre me esqueço do quão traiçoeira tu és.- ele me olha- Eu não espero uma resposta sua.
Sorrio, confirmando que ele está certo. Em questão de segundos Delante, um soldado que esta a me ver a algumas horas, cai sobre a mesa a quebrando em pedaços, ele me olha pedindo ajuda, porém o ignoro.
- Como vai Iliza? Está bem com os pesadelos conturbados de uma vida passageira?
- Você é cruel...
- Contudo, eles culpam a ti por isso.- sorrio de canto- Faz tempos que não nos vemos, viestes a que motivo? Isto és uma guerra, à alguém a nascer em meio a tal... caos?
- Sim.
- Quem?- ele me olha
- Arthuro. Descidi utilizar sua alma para uma reencarnação.- gargalho
- Vida, faz séculos que lhe presenteei com esta alma, por que ainda não a usastes?
- Oras...porque são raras as vezes que tu me presenteias, talvez? Ou porque eu ainda não ei de ter encontrado uma nova vida a ele.
- E desistiu de tal ato?- ouço o grito de dor de Delante e me levanto- Bom, tenho um trabalho a fazer.- saio andando
- Ainda não entendo por quê tu escolhes pessoas para levar pessoalmente. Apenas um ponto final no livro e fim.- me viro e o olho
- Sabes que não sou simples e também...preciso que me dê as vidas.
- Só as importantes para mim. O resto, você já as tem. Assim como só posso reencarnar as almas de que tenho acesso, as importantes tenho de barganhar com você.- sorrio de canto
- Exatamente, amigo.- volto a caminhar ate Delante, que está agonizando no chão sujo de um dos palácios da Grécia- Eu disse que só tu podias me ver.
- Voc...Morte!-ele fala com certa dificuldade, assinto e puxo o pequeno livro do bolso- O q..que...é is...so?
- Seu livro. Sua existência. Seu fim. - Pego uma tocha presa na parede ao seu lado, o mesmo me plha apavorado
- O que estas a fazer, demônio?
Ele começa com os gritos e insultos, mas apenas o ignoro e deixo o livro ser queimado perante nossos olhos, enquanto o mesmo queima, os olhos do soldado aos meus pés vão se fechando vagarosamente ate as cinzas do livro caírem sobre o corpo, absorvendo sua vida e a tornando morte, puxo um pequeno frasco do bolso e o aproximo das cinzas, que logo flutuam de livre e espontânea vontade para dentro no pequeno vidro.
- Me lembro quando adquiri a alma de Aquiles. Grande guerreiro.
- Eu fui meio falho em lhe entregar ele.
- Eu também já fui falha ao lhe entregar almas de que não devia. Mas com elas, adquiri muitas outras almas.- o olho- Arthuro?
- Estás a nascer daqui a algumas semanas.
- Ah, ele ainda não tinha nada. Pensei que já tivesse se auto criado.
- Não, ele é como um dos raros.
- Um dos raros que tu já esqueceres de dar um livro. Odeio o fato de sair corrigindo teus erros.
- Morte, não sejas grotesca. Todos erram...
- Não! Humanos erram, nós não.- respiro fundo, o cheiro mórbido que nos cercava, me era repugnante, eu era Morte, porém não gostava de tal clima
- Não se esqueça do que já fomos, Morte.- ele me alerta e encaro as ruínas da cidade pela janela
- Adeus, Vida. Talvez nos veremos a alguns anos. Poderemos barganhar tal dia. Mas até la...- o olho- adeus.- saio andando
- Adeus Morte!
Ouço seu grito e continuo a caminhar por entre os corpos no chão e os soldados lutando entre si.