Você não pode dizer que eu nunca te amei, Kim Junmyeon, apenas porque eu não te amei da forma que você queria.
Eu te amei da forma que eu sabia. Te amei da forma em que eu aprendi a amar. E você pode me julgar por acaso? Quando eu me esforcei o máximo para fazer seus dias mais coloridos, te fazer feliz e te dar o máximo de carinho que eu conseguia, mesmo com todas as dificuldades que tínhamos em nossas vidas. Nós éramos dois caras tentando fazer uma vida a dois dar certo. Éramos praticamente crianças ainda, afinal tínhamos acabado de ingressar na universidade. Diante de todas as nossas confusões, ainda dávamos certo. Ainda tínhamos carinho e paixão um pelo outro.
Eu estava enfrentando um enorme problema desde o falecimento da minha amada avózinha, ela havia me criado desde que meus pais faleceram em um acidente de carro. Ela fazia tudo por mim, me dava carinho, me alimentava, cuidava de mim como se fosse seu filho e não apenas um neto. Ela inclusive se mudou para Coreia por minha causa, as lembranças do acidente me atormentavam e eu não conseguia ficar um dia sem chorar e lembrar dos meus pais, eu ainda era uma criança.
E você estava enfrentando um enorme problema desde que seus pais o expulsaram de casa. Lembra das nossas escapadas no final da tarde? Lembra de como tínhamos que nos amar escondidos porque seus pais eram homofóbicos? Você sempre esteve certo ao dizer que eles nunca nos aceitariam juntos. Lembro-me perfeitamente de como eles descobriram da sua orientação sexual, eles nos pegaram juntos. Estávamos nos beijando no seu quarto quando eles entraram de repente. Me lembro bem das palavras rudes que seu pai lhe dirigiu, enquanto sua mãe ouvia tudo em silêncio. Lágrimas quentes rolavam em abundância pelo seu rosto, enquanto eu tentava te proteger da forma que podia. Eu apanhei naquela tarde como nunca havia apanhado antes em minha vida. Eu tomei todas as suas dores, ele queria bater em você e impedi. Mandei você juntar suas coisas o mais rápido possível e correr para o meu carro, enquanto eu enfrentava aquilo sozinho, por nós dois.
Até hoje não tirei da minha cabeça o que aconteceu naquela tarde, eles estavam viajando pela Europa, deveriam voltar apenas duas semanas depois, mas resolveram chegar mais cedo. Acho que alguém nos dedurou, tem certeza que seu irmão nunca soube de nada? Eu achava meio estranho os olhares que ele nos enviava sempre que nos via juntos, afinal éramos apenas melhores amigos na cabeça das outras pessoas.
Ninguém sabia como eu te tocava. Ninguém sabia como eu te amava. Ninguém sabia como você gemia meu nome alto quando eu estava lhe dando prazer. Ninguém sabia que nós éramos mais que amigos. Na verdade, ninguém nunca precisou saber que éramos melhores amigos durante o dia, mas que de noite nos amávamos de uma forma intensa. Eles não precisavam saber das noites em que você fingia estar fazendo trabalho de casa e ia dormir comigo. Eles não precisavam saber que você dominava toda a minha vida, o meu coração. Minha existência era por sua causa.
Eu te acolhi dentro da minha casa a partir daquele dia, fiz daquela casa o nosso lar. Você cuidou de todos os meus ferimentos, murmurando inúmeros pedidos de desculpas — como se fosse o culpado de algo —, enquanto suas lágrimas gordinhas caíam sobre a minha pele. Você ainda sentia muita falta de seus pais, apesar de tudo o que fizeram, sentia falta do seu irmão mais novo, mas eu conseguia nutrir a maioria das suas necessidades, ou era o que eu achava.
Tinha apenas algumas economias guardadas que sobraram da herança da minha avó, mas eu pelo menos ainda tinha aquela casa. Não éramos milionários como sua família, mas vivíamos com amor. Minha avó sempre soube do nosso relacionamento e nunca nos julgou, ela nos apoiava e torcia para que continuássemos juntos pelo resto de toda a nossa vida. Não me esqueci de pedir inúmeras desculpas a minha falecida avó, por não ter cumprido com aquela promessa. Quando o resto do meu dinheirinho acabou, eu tive que arrumar um trabalho para nos ajudar a sobreviver. Sorte que nós sempre fomos estudiosos o suficiente para conseguirmos ganhar bolsas na universidade. Eu passei para direito e você medicina. Estudava no período da noite, enquanto trabalhava em uma loja de conveniência durante todo o dia, não era um grande emprego, mas o suficiente para comermos e pagarmos todas as contas da casa, não vivíamos com luxos, mas tínhamos um ao outro, era o que bastava. Você tentou me convencer de que também poderia trabalhar para me ajudar em casa, mas eu sempre neguei. Junmyeon, sua faculdade era em tempo integral e consumia maior parte da sua energia. Como insistia em querer arrumar um trabalho? Você iria se sobrecarregar demais e eu não queria lhe ver mais cansado ainda. Eu podia fazer horas extras nas madrugadas quando precisamos de livros ou roupas novas. Sabia que aquilo só iria se prolongar até o fim da universidade, eram só quatro anos vivendo daquele jeito, conseguiríamos nos virar. Eu sempre daria um jeito. Não suportava chegar em casa à noite e ver você enterrado naqueles livros. Você estava se acabando de estudar, e ainda queria me ajudar trabalhando. Não seria covarde ao ponto de fazer aquilo contigo. Era exaustivo para mim, imagina então para um estudante de medicina? Eu cuidaria de tudo, cuidaria de você, cuidaria de nós.
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If I'm Lucky [sulay] ~ oneshot
FanfictionSe eu tiver sorte, eu vou te encontrar, do outro lado, no cemitério. Porque as coisas não funcionaram nessa vida, mas algum dia talvez eu tenha o seu amor novamente.