Unique

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Preto, extraforte e sem açúcar. Esse era o café favorito de Doyoung. Se fosse da cafeteria em frente ao campus, feito por aquele barista lindo de cabelos cor-de-rosa e covinhas de anjo, melhor ainda.

Naquele dia em especifico, o futuro jornalista precisava de uma dose dupla. Atolado de trabalhos e com um estágio que não o deixava viver, Doyoung correu para a cafeteria antes mesmo do relógio dar sete horas. Assim que entrou e viu seu atendente favorito, sorrindo como se aquele fosse o dia mais alegre do ano, Doyoung se permitiu sorrir também, contagiado pelo outro.

Dirigiu-se logo para sua mesa favorita — próxima à janela, com vista para o parque ao lado do campus — e fez seu pedido de sempre: café e algum salgado, hoje quiche de frango. Enquanto aguardava, decidiu adiantar um de seus infinitos trabalhos, logo puxando seus cadernos para poder iniciar a produção do dia.

Pelo menos era isso o que pretendia fazer, antes de começar a observar o atendente de sorriso doce e se perder, iniciando inconscientemente uma crônica sobre o homem. Ao invés de escrever sobre o quadro econômico da cidade, descreveu o riso suave; enquanto devia falar sobre números e porcentagens, se viu comentando sobre o brilho de olhos cor de chocolate e o contraste com a pele que o lembrava de nuvens brancas e macias. Doyoung suspirou.

Quando seu pedido chegou, o estudante já havia terminado o pequeno texto, seu trabalho esquecido há tempos. Engoliu tudo rapidamente, pronto para sair correndo, o atraso já virando a esquina. Antes de sair, dirigiu seu melhor sorriso ao atendente, que o retribuiu alegremente. Seu coração se aqueceu.

Isso já era rotina na vida corrida de Doyoung, e os momentos dentro da cafeteria, observando o que ele gostava de chamar de "O Homem Mais Lindo do Planeta", aos poucos se tornaram os mais tranquilos e alegres de seus dias. Infelizmente, suas interações com o homem (que Doyoung não conseguia lembrar o nome mesmo que se esforçasse) eram apenas profissionais. Queria mudar isso, porém era tímido demais para dar um próximo passo.

Por isso, seguia apenas fazendo as mesmas escolhas de novo e de novo, decidido a provar todo o cardápio salgado do lugar enquanto se mantinha fiel ao bom e velho café preto. Estava contente, por enquanto, com a observação distante.

Às vezes percebia, de relance, o olhar do barista sobre si, porém não se permitia pensar muito sobre isso, o medo da ilusão maior que tudo. O que um homem bonito como aquele ia querer com um nerd de cabelos laranjas e óculos redondos como ele afinal? Nada, é claro.

E era assim que os dias iam passando. Tranquilos, rotineiros e constantes. Conforme os meses se seguiram, Doyoung descobriu que o atendente se chamava Jaehyun, se arriscando a trocar algumas palavras além do "Bom dia, um café e esse salgado aqui, por favor", mas se manteve nisso, temendo que o sentimento passasse de um simples interesse para algo mais. Não queria correr o risco de ser rejeitado, preferia deixar isso para as fontes que lhe negavam entrevistas. Essas, pelo menos, não faziam doer seu coração.

Então, tempos depois, quando Doyoung foi à cafeteria num fim de tarde e Jaehyun perguntou se poderia fazer companhia ao universitário, o homem teve um grande choque. Estava alucinando, certo? Sua mente cansada tinha criado a visão do moço de cabelos cor de bala colocando uma xícara de chá e um pedaço de torta de maçã sobre a mesa de Doyoung, não é?

Não, não era. Jaehyun estava lá, o sorriso mais brilhante que tinha estampado no rosto, fazendo Doyoung se sentir tonto. Ele também sorriu, os olhos ainda refletindo o choque que sentia.

"Espero que não esteja atrapalhando", Jaehyun falou, a voz baixinha e doce, enquanto observava os vários papéis diante de Doyoung, que se apressou em negar com a cabeça enquanto guardava tudo. "Ótimo. Então, o que é tudo isso?", o barista continuou antes de colocar um pedaço de torta em sua boca e saborear como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo. Doyoung não gostava de doces, porém sentiu uma vontade imensa de provar aquele.

"São matérias que preciso finalizar, algumas da faculdade e outras do trabalho", o estudante respondeu, engolindo o resto de seu café. O outro assentiu, parecendo interessado. "Jornalismo é lindo, mas não é fácil", Doyoung finalizou, sorrindo de canto. Jaehyun riu baixinho, logo perguntando sobre o que o homem com olhos de elfo escrevia.

A conversa seguiu por horas, ambos esquecendo o horário de ir embora, se perdendo entre assuntos aleatórios e risos leves. Doyoung contou a Jaehyun sobre sua rotina corrida, sempre caçando pautas e tentando arranjar fontes simpáticas e solícitas, e Jaehyun contou a Doyoung sobre como fazia para conciliar a faculdade de artes cênicas com o trabalho e os cuidados com a vida de quem mora sozinho. Foi uma noite agradável para ambos.

E assim outra rotina se criou. Todos os dias, quando ambos finalizavam suas jornadas, sentavam-se na cafeteria, Doyoung com seu café amargo e prato salgado, enquanto Jaehyun bebericava algum chá e saboreava todos os tipos de doces possíveis, conversando por horas a fio, se permitindo conhecer mais e mais um do outro.

Logo as noites sentados juntos não bastavam, ambos precisando de mais contato que os momentos ali permitiam. Por isso, Doyoung tomou coragem e pediu o número do outro. Por isso, mesmo que longe, ambos sempre se falavam, parecendo que o assunto nunca cessava, fazendo a vontade de se falar crescer mais e mais.

Não demorou muito para Doyoung sentir seu interesse inicial crescer para algo mais, o medo da rejeição sendo calado pelos batimentos acelerados de seu coração sempre que pensava no outro.

Jaehyun, também, sentiu algo crescer em si. Sempre tinha reparado no rapaz, e mesmo que dissesse para si mesmo que isso era só pelo fato do homem sempre pedir café preto, extraforte e sem açúcar — o que era um absurdo pra ele, fã de chás de sabor suave e adocicados —, sabia que, na verdade, era o sorriso que fazia sumir os olhos e a expressão concentrada sempre que ele escrevia que o fazia observar o rapaz mais e mais. E, apesar de ter demorado para se aproximar e conversar de verdade com ele, sabia que essa era a melhor coisa que tinha feito em tempos, cada segundo passado com o outro sendo o motivo do seu sorriso aumentar e seu coração bater mais forte.

E quando Doyoung, em um surto de coragem, o chamou para um encontro em outro lugar, Jaehyun não podia estar mais feliz. Meses após a primeira noite conversando frente a frente, essa era a primeira vez que o par iria se encontrar fora dali, em um restaurante famoso por ser frequentado, principalmente, por casais. Jaehyun estava animado. Doyoung, por sua vez, estava nervoso.

Ele realmente queria isso, desde antes mesmo de eles começarem a se falar. Porém como saber se era o que o outro desejava de fato? Mesmo quando Jaehyun aceitou o convite, Doyoung não podia parar de pensar na possibilidade de o moço apaixonado por doces ver isso apenas como um jantar entre amigos.

A noite, como todas as outras que passavam juntos, foi ótima. O café e o chá trocados por vinho seco para Doyoung e suave para Jaehyun, as luzes fortes e sons caóticos da cidade sendo substituídas pela iluminação suave de velas e uma música de piano ao fundo. Nessa noite, porém, algo estava diferente. Nenhum dos dois sabia dizer exatamente o quê, mas ambos sentiam no ar um clima novo, até mesmo o tom de voz usado por eles não era o mesmo dos outros dias.

Depois, quando o jantar havia acabado e ambos estavam indo embora, tudo mudou de fato. Primeiro, de forma tímida mas corajosa, Jaehyun segurou a mão de Doyoung enquanto eles caminhavam calmamente, observando a noite sem estrelas de Seul e sentindo o universitário entrelaçar seus dedos.

E então, quando chegaram em frente à casa de Jaehyun, Doyoung sabia o que deveria fazer. Lentamente, com olhos cerrados e respiração errante, ele fechou o espaço entre os dois, selando seus lábios. Sentiu, então, o outro homem sorrir, soltando sua mão para o puxar mais perto pela cintura. Doyoung sorriu também, colocando seus braços no ombro do outro. O beijo era doce, suave e tranquilo, fazendo as preocupações de Doyoung desaparecerem, sendo substituídas por um quentinho no peito que ele há tempos não sentia.

E de todos os doces que provara em sua vida, Jaehyun sabia que aquele era seu favorito.

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É isso amores, espero que tenham gostado. Essa foi minha primeira dojae, to ansiosa em saber a recepção de vocês, ou seja, todo e qualquer comentário é mais que bem vindo! Um agradecimento especial a Naimi pela capa maravilhosa e pra Marina por ser a melhor beta do mundo <3  

Bitter Sweet {dojae one shot}Onde histórias criam vida. Descubra agora