Eu sou o caos

E quando "o todo" se acumula e você explode?

Quantas vezes você ja olhou para uma pessoa e percebeu o que pairava nela, um olhar de esperança, um sorriso que parece ser sincero, um coração cativante, uma linguagem calma, mas por dentro um turbilhão de emoções, um vulcão próximo a explodir. Por fora é como uma brisa suave, que refresca, que acalma, que trás tranquilidade e paz, porém por dentro, está como um furacão, por qualquer área que passou ficou destruído, em vários pedaços, ficou um caos.

Na vida de qualquer pessoa, vai haver um grande número de experiências negativas. São vários eventos que ocorrem desde a infância até vida adulta. Em todo esse tempo acaba ocorrendo pequenos detalhes ou frustações que aos poucos se acumulam de forma negativa dentro de nós. Se tornam pequenos pesos que quando somados, criam grandes dificuldades que causam contrariedade em nossas vidas. Por meio disso ocorre todos os tipos de embaraços, tais como: preguiça, falta de vontade, cansaço, dúvidas, indecisões no trabalho, na vida pessoal, medos, inseguranças, falta de confiança, procrastinação, problemas com auto estima, ansiedade, dificuldades de relacionamentos pessoais e interpessoais, fobias, depressão, pânico, raiva, irá, incompreensão, impulsividade, insatisfação, frustração, complexos de inferioridade, culpa, auto reprovação, doenças físicas, insuficiência própria e em alguns casos agressicidade.

É estranho quando todos os sentimentos acabam explodindo dentro de você, você sai de cabeça quente por ai pensando besteira e sem vontade de ter vida, ou ser vida. Se antes você tinha disposição e coragem para enfrentar seus dias, hoje não tem mais, a calma e a paz interior deram lugar a guerra, a clareza mental e o discernimento, já não existem mais, auto aceitação e autoconfiança se perderam, você já não se compreende, não tem paciência e não se tolera, não encontra mais motivação, e sua saúde mental vai se esgotando. E tudo aquilo que você representa se perde.

Nesse momento você para, respira, não pira, você sente que tudo o que você quer é o seu quarto, sua cama, e somente isso, sem ninguém, nenhuma interação humana, nenhuma palavra, só você, o silêncio do seu quarto e o barulho dos seus pensamentos, que muita das vezes gritam tão alto que acabam com você. 

Você sente como se tivesse duas vozes, uma falando faz, e outra falando não faz. Você lembra das coisas que te motivam e lembram das coisas que te fizeram perder essa motivação, você sente nitidamente a briga entre os anjos e os demônios que os cercam, você ali naquele meio tem que saber discernir o que será o melhor e mais correto para você.

Muitas vezes você vai surtar, ninguém vai entender o que se passa, algumas pessoas vão te ajudar mesmo sem saber e outras vão te machucar por achar que você não precisa de ajuda. Enquanto tudo isso acontece, você não consegue se motivar, parece não ter forças para sair daquela cama, que ao mesmo tempo que é tão rasa, se torna profunda, como um poço. É, é complicado você sair dessa, já passei por isso algumas vezes. E deveria saber lidar melhor, porém a cada nova vez que acontece é uma nova experiência, e parece que aquele poço vai ficando cada vez mais fundo e mais difícil de sair. É como um funil, acontece de forma involuntária, é como se soubessemos o que está para acontecer, procuramos acreditar no melhor, mais aos poucos vamos chegando ao nosso limite, não fazemos por mal, é como a alimentação, sabemos que precisamos nos alimentar melhor, mas não conseguimos, acabamos ficando da mesma forma até que chegamos ao limite e explodimos.

E quanto estamos nessa erupção não conseguimos enchergar nada. Estava conversando em silêncio e falando que perdi a esperança, não acreditava mais em nada, afinal nada mais fazia sentido. Ainda não tinha entendido o porquê eu não joguei o carro naquele barranco, ainda não havia entendido o porquê eu não desisti de tudo logo de vez, eu acho que la no fundo ainda brota uma luz, uma esperança, uma fé que tudo vai dar certo, acho que la no fundo eu ainda acredito naquilo que eu escrevo e naquilo que eu falo. Me falaram "é claro que você tem esperança e sabe que tudo vai dar certo, você é o André, você consegue me manter de pé e acreditando, quando eu estava no fundo você me resgatou e nem sabe". Pois é, se tornou reconfortante esse depoimento, de certa forma me ajudou a parar e pensar um pouco em tudo o que estava acontecendo. Sei que mesmo ainda não estando 100% no fundo eu acredito que vou melhorar, vou ter forças para sair da cama e ver vidas, interagir, ser vida, ser luz, sei que no fundo pairá a esperança e a fé em Deus. Ainda acredito na capacidade de reinventar-se e de recomeçar. Acredito la no fundo que vou conseguir realizar meus sonhos e planos, que vou voltar a ser um sol nos dias frios, e inverno nos dias quentes, vou conseguir sentir a brisa que me cerca, a paz, chama da vida, a intensidade da felicidade e sei que vou recuperar a mim mesmo, e quando tudo isso terminar, se a tristeza tentar bater eu vou dizer para ela que a felicidade me chama, me abraça, sei que não vou mais surtar, vou respirar, ser inspiração, ser eu mesmo. Esse sou eu, vou andando e mantendo a fé. Sou furacão e sou calmaria. Eu sou o caos por trás de todo meu silêncio.

André Luiz Alves Davila