unique

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—qual sua cor favorita, jimin?

perguntou a professora ao pequeno ser, que ingenuamente, respondeu-a:

—cinza, professora.

ele pensava que todos eram iguais a ele, mas ao ouvir os amigos respondendo a mesma questão direcionada a si, ele ficou confuso. afinal, o que era esse verde que os amigos tanto falavam?

aquela cena ficou guardada na mente de jimin, por todos os seus 19 anos de vida. todo dia ela passava em sua cabeça como um filme que se repete, relembrando-o que ele nunca seria normal.

e foi o que aconteceu naquela manhã também, enquanto jimin arrumava-se em frente ao espelho de seu banheiro, escovando os dentes e em seguida lavando o rosto.

—bom dia, mãe. — disse ao encontrar a mais velha assim que desceu as escadas para tomar café. esta lhe deu um sorriso acolhedor, colocando um prato com panquecas e mel na frente do lugar do park.

—temos vizinhos novos. — ela disse animada, mas jimin apenas deu-lhe um sorriso pequeno, não demonstrando tanto interesse, ao menos imaginando o que viria a seguir.

comeu seu café da manhã e saiu de casa com a mala pesada, cheia de livros e cadernos. a mãe deu-lhe um beijo antes que saísse pela porta, preparado para mais um dia branco e preto.

entretanto, não foi bem o que aconteceu.

no meio do caminho, ao observar a paisagem a sua volta, já sabendo que somente iria encontrar o usual preto, branco e cinza, jimin viu cor.

arregalou os olhos, ainda olhando para os tênis brilhantes do garoto que andava na calçada do outro lado da rua e sorriu. sorriu como nunca antes, sorriu verdadeiramente.

—ei! ei, você! menino! — park gritou pelo garoto de cabelos escuros, enquanto atravessava a rua rapidamente. ele precisava saber.

—está me chamando? — ouviu a voz um tanto grossa e rouca do mais alto, enquanto este retirava os fones dos ouvidos. park sentiu-se arrepiar por completo enquanto assentia rapidamente, sorrindo feito um louco.

—qual a cor do seu tênis? — o menino estava confuso, juntando as sobrancelhas, apesar de também estar sorrindo, contagiado pela animação de jimin.

—amarelo, é minha cor preferida. por que quer saber? — jimin olhou-o, ainda sorrindo, com os olhos brilhantes e turvos por contas de lágrimas carregadas de alegria. afinal, ele estava vendo cor!

—oh meu deus! — sem mais nem menos, pulou nos braços do mais alto, chorando alto e ainda observando seu par de tênis. sentiu as mãos do moreno agarrarem sua cintura com firmeza, tentando separa-los um pouco, com a intenção de olhar para o menor.

—ei, tudo bem? — o menino perguntou, agora preocupado. afinal, um adolescente um tanto quanto pequeno que, a segundos atrás sorria como se sua vida dependesse disso, agora chorava em seus ombros.

—eu estou vendo cores! cores! — disse ao sair do abraço, admirando a cor tão bonita. começou a rir, o que tornava a cena irônica, afinal lágrimas ainda rolavam por suas bochechas um pouco rosadas.

—não consegue ver cores? — o moreno alto perguntou, confuso.

então jimin ergueu a postura, limpando o rosto com as costas das mãos, sorrindo grande ao outro garoto enquanto estendia a mão direita.

—prazer, park jimin, seu vizinho, pelo visto. — sentiu a mão ser agarrada por outra deliciosamente macia, enquanto o dono dela sorria tão grande quanto o park.

—prazer, jeon jeongguk, seu novo vizinho, pelo visto.

e então os dois sorriram, deveras animados, sem qualquer razão específica.

continuaram a andar, sem saber aonde iam, lado a lado, sorrindo. jeongguk observava os girassóis no jardim de outros vizinhos; já jimin observava o garoto e seu tênis brilhante, completamente paralisado e admirado.

—não. — de repente jimin respondeu, observando quando jeongguk olhou-o confuso. —não consigo ver cores.

depois de alguns segundos sufocantes, jeongguk disse com um bico nos lábios e o olhar caído: —que merda. — estava mais desanimado, afinal aquilo realmente era uma droga. —mas espere... então como viu a cor de meus sapatos?

—exatamente, eu não sei! — riu, ainda olhando o par de calçados.

—estranho... será que consegue enxergar somente amarelo? talvez não sejam meus tênis e sim a cor em si. olhe aquelas flores ali. — jeongguk apontou para girassóis, vendo quando jimin olhou-os esperançoso.

—hm, não consigo. devem ser seus tênis. — jimin disse, enquanto mordia o interior das bochechas, ainda distraído pela cor tão bonita.

—espere... — ele tirou a mochila das costas largas, mexendo dentro dela por algum tempo, até que tirou uma pulseira. assim que o mais baixo a viu, ficou ofegante e animado. —consegue ver que cor é essa pulseira?

—sim! sim! — jimin afirmou eufórico. —amarelo! é uma cor bonita, você tem bom gosto, jeongguk.

o mais alto riu, estendendo a pulseira ao outro, que franziu o cenho, incerto. —pegue, estou te dando.

—não precisa jeongguk, sério. — jimin negou, apesar da grande vontade de aceitar dentro de si, sabia ser educado.

entretanto, o mais alto pareceu não aceitar tal resposta, pegando o pulso um tanto fino do outro, amarrando a pulseira e voltando a caminhar.

—obrigado. — jimin murmurou, ainda admirando o pedaço de pano amarelo agora amarrado em volta de seu pulso.

jimin era uma pessoa um tanto quanto antissocial. era muito tímido e poucos sabiam sobre sua deficiência, afinal ele não gostava de ser desse jeito. mas tudo parecia ser diferente com o garoto dos tênis amarelos. ele deixava o park eufórico, animado, feliz, sentimentos os quais não eram frequentemente parte da rotina deste.

—eu tenho que ir para escola mas... — jeongguk olhou para o rosto de jimin, que olhava-o de volta com os olhos brilhantes e os lábios entreabertos, esperando que o moreno continuasse. —mas acho que podemos matar aula por hoje e passear um pouco não é?

—eu nunca matei aula. — jimin disse, sorrindo travesso, enquanto assentia rapidamente. —certo, vamos passear.

a manhã passou muito rapidamente, mas ao final, park já se encontrava apaixonado pelo garoto de tênis amarelos, descobrindo que tudo o que ele tocava virava cor. talvez não fossem somente seus tênis, ou sua pulseira, mas sim o moreno em si. então jimin prometeu a si mesmo nunca deixá-lo escapar.

agora as pessoas poderiam perguntar: —qual sua cor favorita, jimin?

ele teria imenso prazer em responder, enquanto sorria feito bobo: —amarelo.

talvez seja vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora