Ali próxima ao Lago ela se sentia acolhida. É como se o barulho da água que mansamente escorria, fazendo aquele barulhinho leve, a deixasse fora de si, ou mais dentro de si?
O contato com a Natureza tinha esse dom para acalmá-la.
Não se lembrava exatamente como fora parar naquele cantinho secreto do sítio do avô, só sabe que depois das discussões sérias que tivera no trabalho aquele fora o primeiro local em que pensou para colocar os problemas, medos, inseguranças de volta no lugar.
O que foi que eu fiz com minha carreira? O que aconteceu com meus planos, projetos de vida? Aonde foi que eu me perdi? Eram esses os pensamentos dela naquele momento.
Havia dado duro para estudar. O pai, sempre com empregos braçais, pesados, nunca teve condições de bancar estudos e alimentos para os filhos, que eram quatro, tendo apenas ela de mulher. Era uma coisa estabelecida, ou comiam ou estudavam, então ela lutou com o que tinha para tentar ser uma vivente, não somente sobrevente, do sistema. Dentro de si havia um palpite de que deveria seguir, enfrentar, e então, vendia bijuterias, ajudava a mãe com as costuras, que essa fazia para completar a renda da família, e mesmo com os obstáculos, se fez uma executiva, uma líder agressiva no mercado, que colocara a empresa para a qual trabalhava sempre líder no segmento.
O que a afligia? Na ânsia do ter, esqueceu-se de ser, e foi então que a notícia da doença da mãe a desequilibrou, mostrando o quanto as ambições fizeram dela uma mulher fria, calculista, distante de todos, inclusive de si.
Na busca pela perfeição descobriu-se imperfeita.
Seria um dia comum até a mensagem do irmão a levar para um buraco. Um soco no estômago foi sentido ao ler: nossa mãe está muito doente. Diante da entrada súbita da secretária para anunciar que se encontravam atrasadas para a reunião, o turbilhão de emoções ganhou força, e explodiu.
Sabia que tinha cometido excessos, e isso a incomodava.
Após descarregar toda sua ira nos colaboradores por causa do atraso em uma entrega, e diante do olhar atônito de seus superiores, a dor deu lugar ao profissional, e essa deixou vir para a superfície toda a angustia e o medo que o irmão havia plantado por meio de mensagem.
Ao explicar-se, desculpar-se, foi convidada a ir para casa, tentar colocar seu lado humano em primeiro lugar e buscar o reconciliar com a família, e isso a levara até o sítio do avô, que era o local escolhido pela família para que a mãe doente encontrasse um pouco de paz.
O que fiz da vida enquanto cegamente buscava reconhecimento? Esse diálogo interno estava em busca de respostas.
