fome

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Geralmente, as pessoas tem passados nebulosos que as assombra, comigo é totalmente ao contrário, tive um passado tão bonito, em partes é claro, acho que nunca superei o abandono mas isso não faz mais tanta diferença assim, o que me perturba é meu presente.

Nessas horas eu gostaria de ser uma pessoa normal e ter uma vida nada importante, pacata e simples.

Às vezes parece que meus problemas veem a tona e me fazem desabar, gosto de dizer que nao me importo porém os sentimentos te corroem devagar...

...bem devagar por dentro.

A porta ameaça abrir de novo e o tremor toma conta de meu corpo, a luz que entra logo é tampada por um corpo pequeno e magro, era Taehyung, a única pessoa em quem posso confiar agora e, além disso, uma das muitas crianças prostitutas que meu dono possuía.

Ele se aproxima devagar, olha para os lados e se senta em frente a cela, engatinhando vou devagar ao seu encontro, com a mão na barriga para tentar amenizar a dor causada pela fome, sua expressão era preocupada, se o pegassem aqui com toda certeza receberiamos uma punição muito dura.

O pálido retira de seu bolso uma caixa e me entrega, sem nenhuma palavra a abro, tinha carnes e um pouco de arroz, sem pensar duas vezes minhas mãos se enterram ali e basicamente devoram todo conteúdo do pequeno recipiente.

- Qual foi a última vez que comeu? - sou indagado e logo respondo:

- Ontem.

- Pão com água novamente?

- Sim.

Limpo a boca para retirar o resto de comida ali existente, novamente vejo o menor pegar algo no bolso e me entregar, levo minha mão até a sua e sinto a mesma ser segurada, ele rapidamente coloca o item em minha mão, a fecha e deposita um beijo sobre ela.

- Eu morreria sem você na minha vida Jimin! - ao ouvir sua frase devolvo a caixa e puxo minha mão de volta, Kim se levanta e caminha até a porta, olha para trás prestes a fechar, abro minha mão aproveitando a luz e vejo um pirulito, isso significava uma economia de semanas de prostituição nas ruas, sorrio fraco entendendo o sacrifício feito para me proporcionar esse momento de prazer.

- Já eu, acho que nem estaria aqui se não fosse você! - respondo levantando o olhar e vendo sua feição contente e dolorosa por me trancar novamente naquele cômodo.

Espero sua presença se desfazer e logo abro a embalagem colocando o doce na boca, não sei explicar o que sinto, faz anos que nao sentia algo tão desfastio, uma mistura de prazer e saciedade.

Tae sempre me alimentava, imagino que ficava com dó de mim, pra falar a verdade até eu tenho dó de mim, olha essa situação, que criança de 16 anos é mantida presa, abusada, maltratada, passa fome, sede e dorme sobre suas próprias excreções?

Realmente sou digno de dó.

Sem controle sobre meus sentimentos sinto lágrimas escorrerem por meu rosto novamente, sou tão fraco que não passo um dia sem me lamentar por tudo, talvez não devesse fazer isso...

...talvez.

SERPENTÁRIO - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora