Payphone.

capítulo único.

Eu estou em um telefone público tentando ligar para casa
Todos meus trocados eu gastei com você
Para onde foram os momentos? Querida, tá tudo errado
Onde estão os planos que fizemos para nós dois?

Você já havia literalmente fodido com a minha vida. Eu não tinha um trabalho, uma casa, eu estava até mesmo sendo perseguido pela polícia e ainda assim, eu estava lá. Escorado em um telefone público, com seu número na cabeça. Pensando se eu podia me arriscar tanto assim.

Hannibal Lecter. Esse era o nome do meu problema, da meu tormento, da minha dor. A única pessoa que me fazia queimar e arder. E eu ardia por você. Em todo e qualquer sentido.

Eu havia corrido por tanto tempo tentando te acompanhar, que estava perdido em um caminho longo demais para voltar.

Eu disquei seu número sentindo o gosto de sangue forte em minha boca e um aperto grande no coração. Valia a pena? Eu não me importava realmente com a resposta.

- Hannibal Lecter. - A sua voz, tão conhecida para mim. Tão cortante e ao mesmo tempo desconcertante. Era o seu efeito bruto em mim.

- Você pode me ouvir? - Sua respiração pareceu descompensar, mas eu não esperaria causar qualquer efeito em você. - Eu não preciso que você fale, não realmente, mas eu quero que você me escute.

- Onde você está, Will?

- Não, não depois de tudo isso, Hannibal. - Uma lágrima solitária escorreu por meu rosto e eu queria não ser assim. Eu devia ser mais como você.

Me encostei na cabine e tentei colocar em palavras o que eu estava sentindo.

É, eu, eu sei que é difícil lembrar
As pessoas que costumávamos ser
É mais difícil ainda imaginar
Que você não está aqui do meu lado
Você diz que é tarde demais para conseguirmos
Mas é tarde demais para tentar?
E nesse tempo que você desperdiçou
Todas as nossas relações foram rompidas

- É muito tarde para isso, é tarde para qualquer coisa. - Suas palavras ainda pareciam vivas em mim e tudo que eu queria era que eu pudesse apagá-las.

- Eu não vou perguntar se você mudou de idéia, conheço você o suficiente para saber que isso não aconteceria, mas eu queria que você soubesse que não é tarde, não era tarde para você ter tentado.

- Você não me conhece, Will. - Era a primeira vez, depois de todos esses anos que sua voz estava quebrada. E era bom machucar você. Sentir isso, me fazia pensar que eu estava pelo menos um pouco vingado.

Mas doía como uma surra, porque eu sabia que era verdade. Eu não podia pensar que conhecia você, quando a princípio, estava nessa situação por não ter noção do que você era capaz. Do que você podia fazer. Do que você podia destruir.

- Porque você é o erro e sou eu que estou ruindo? - Eu sentia a dor que você deveria sentir. O sangue que caía sobre mim, deveria ser seu. - Você não sente? Não sente nada?

Quanto tempo eu passei sentindo a dor de outra pessoa?

Eu desperdicei minhas noites
Você apagou as luzes
Agora estou paralisado
Ainda pensando no tempo em que chamávamos de amor
Mas até o sol se põe no paraíso