Unstoppable (solangelo)

8:30 da manhã

  Não me lembro como cheguei aqui, nem como sobrevivi. Essa guerra dentro de mim deixa vários falecidos, tendo sempre apenas um sobrevivente: a tristeza. Como ainda não coloquei um fim nessa dor infernal, porém oculta, me remoendo internamente devagar, não tenho ideia.

  Puxar o gatilho agora seria como jogar uma bomba de alta potência em meio do campo de batalha, ou como assinar um tratado decretando um culpado e pondo fim à matança, mas nem para isso tenho forças. Assim como não tenho forças para continuar.

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-Levante essa carcaça da cama, garoto!

Nico acorda logo cedo com seu único parente gritando por trás da porta de madeira escura que separava seu quarto dos outros cômodos. O motivo de seu pai não ter entrado no quarto para puxá-lo à força da cama era simples: o garoto sempre o trancava prevendo o previsível.

Sonolento, abre os olhos devagar, os fechando e abrindo rapidamente até se acostumar com a luz que entrava por baixo das cortinas. Era pouca luz, algo que já incomodava o menino o suficiente para demorar até abrir suas pálpebras por completo.

Logo senta na cama e permanece parado observando a parede por aproximadamente 3 minutos. Após sua pausa, vira-se e olha seu relógio, que marcava...8:30 da manhã?

Em pleno início das férias de verão, por que raios Nico tinha de acordar tão cedo?

Relutante, o garoto levanta e caminha até a porta, para abri-la e conversar calma e civilizadamente com seu ente querido.

-Sabe qual é a porra da hora da manhã e que eu acabo de entrar no caralho das férias?

-Bom dia também, filho. Vamos, ajeite-se que estamos saindo. Está parecendo um mendigo.

As palavras do pai não eram apenas de deboche, mas sim belas verdades: Seus cabelos pretos "naturalmente" bagunçados agora pareciam um ninho de harpias, sua cara estava mais amassada do que seus lençóis, também estava sua vestimenta, uma camiseta preta velha cheia de pelos e uma calça moletom cinza escuro.

- Sair? Ouviu o quê eu disse??

- Sim, assim como você deve ter ouvido o que EU disse. Vamos, não quero que pensem que meu filho é um maltrapilho

Eu literalmente acabei de acordar, queria que já levantasse um noivo prestes a se casar?

...

-Qual é a nóia do dia?

Os dois vagavam pelas ruas já movimentadas da cidade onde moravam, com um Nico sem saber para onde infernos estariam indo.

-Filho, você lembra daquilo que o médico disse semana passada, certo?

E como lembrava, provavelmente a pior notícia do ano para o menino.

...

Nico sempre apresentou desânimo e falta de vontade de qualquer coisa, porém, após o falecimento de sua mãe e irmã, o jovem passou a apresentar outros sintomas, tais como falta de apetite ou podendo calar-se por até um mês. Após um bom tempo, Hades decide levar seu filho para uma consulta e ver o que havia de errado. A notícia, apesar de ser esperada, chocou tanto o pai quanto o filho: Nico fora diagnosticado com depressão. Apesar do rapaz achar isso ridículo, e que o único motivo de estar assim era por não ter se recuperado do falecimento de suas queridas parentes, o pai não se sentia tão seguro disso, comprando todos os remédios receitados pelo médico. Preciso de receita médica para receber atenção e preocupação de meu pai, então? Pensou Nico.