Talvez não fosse algo tão louco assim. Talvez a profusão de laranjas, amarelos e castanhos fossem apenas resquícios do outono que se aproximava. Talvez fosse o vermelho das folhas que se deixavam levar pela natureza e não o batom, talvez fosse o azul do céu ao fim de tarde e não o suéter, talvez fosse o verde do gramado recuperando seu brilho e não os olhos.
Era só uma conspiração do clima, isso estava mais do que claro. Não era como se os olhares se cruzassem ou como se os sorrisos destinados aos amigos chamassem a atenção. Não era como o se som do seu riso estivesse gravado na memória ou como se fosse capaz de reconhecer a silhueta de imediato ainda que ao longe. Não era como se estivesse entre seus amigos observando quem fazia o mesmo. Não era como se de alguma forma os corpos fossem levados um ao outro (afinal não era como se a chegada conjunta, o passar pelo corredor ou o sentar próximo ainda que sem trocar uma palavra sequer tivessem sido planejados).
Eram as cores da estação, o verde mais intenso nos olhos capturando sua atenção, o castanho balançando com o vento gelado, o azul surgindo ao longe no meio do mar de cinza. Era apenas a apreciação da temporada, disso tinha certeza.
Não era como se o castanho espalhado no travesseiro lhe despertasse alguma coisa. Não era como se quando tinha o vermelho borrado nos lábios se sentia com sorte. Não era como se quando o azul parava no chão do quarto as mãos devoravam o corpo à frente. Não era como se quando o verde lhe fitava antes de desaparecer num gemido agudo se sentisse especial. Não era como se risse quando o castanho ficava molhado de suor, não era como se viesse a se deliciar com a nova descoberta de cores a cada noite.
Talvez fosse a confusão em lidar com o distanciamento ao dia enquanto ouvia gemidos no ouvido pela noite, talvez fosse a gravidade que levava um corpo a orbitar em volta de outro. Talvez fosse a forma como o suéter as vezes era colocado ao contrário por mero descuido, talvez fosse a descoberta que o verde contava com traços de marrom e azul, talvez fosse a estranha mania de procurar as cores na cidade para elencar mentalmente as que podia encontrar entre quatro paredes.
Não era como se ele estivesse se apaixonando.
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Cores
Ficção AdolescenteNão era como se os olhares se cruzassem ou como se os sorrisos destinados aos amigos chamassem a atenção. Não era como o se som do seu riso estivesse gravado na memória ou como se fosse capaz de reconhecer a silhueta de imediato ainda que ao longe. ...