Girassóis

Tatuagem

Midoriya estava parado há mais de dez minutos na frente daquele estúdio. Já havia voltado para o ponto de ônibus tantas vezes que suas pernas doíam, ele decidia ir embora e quando seu ônibus se aproximava, ele se enchia de uma coragem repentina e caminhava para a frente do estúdio de novo, onde sua coragem desaparecia por completo.  

Seu celular vibrou, anunciando uma mensagem do grupo do WhatsApp que participava com os amigos que o colocaram nessa situação. Era Kirishima, respondendo sua mensagem com alguns emojis e “deixa de ser medroso, Deku, é como uma picada de formiga”. Tão fácil dizer isso quando metade do seu corpo era feito de tatuagem, mas ele iria fazer a primeira que sequer havia escolhido o desenho ou o local, quem o fez foram os péssimos amigos que tinha.

Ele suspirou uma última vez, reunindo o restinho de coragem que havia bem no fundo do seu coração e entrou no estúdio. Os passos eram curtos e muito bem pensados antes de avançarem, o local pintado inteiramente de preto e mal iluminado o deixava ainda mais receoso. A recepção estava vazia quando terminou de cruzar o corredor da entrada e era decorada por vitrines com luzes neon que guardavam desde revistas de tatuagens à piercing para todos os lugares do corpo, de todas as formas e tamanhos.

Com o mesmo ânimo, ele se aproximou do balcão, erguendo a mão sobre o sininho de mesa que havia em uma das pontas do móvel e parou. Midoriya ainda cogitava o plano de sair correndo e esquecer essa ideia que ele sequer tinha dinheiro para bancar, mas seus amigos o trariam de volta, porque, bem, ele havia perdido na aposta e quando ele entrou nessa sabia as condições que enfrentaria ao perder e sabia que os amigos não perdoavam. 

- O que você quer? – Izuku pulou, descendo a mão e apertando o sininho. – Agora não precisa mais tocar, né, porra?!

- Desculpe, me assustei! – Ele sente que não deveria se desculpar por isso, mas é mais forte que ele. – Você é o tatuador, o Bakugou Katsuki?

- Sim! – O loiro se aproximou do balcão, parando em frente ao menino de sardas que recuou um ou dois passos. – Você é aquele amigo do Kirishima e da galera, não? Cadê aquele cabelo de merda?

Midoriya buscou em sua mente o rosto daquele rapaz, tendo total certeza de que nunca tinha o visto antes. Ele era bonito e rabugento, o típico homem que conquistaria o inocente Izuku com facilidade. O corpo possuía mais tatuagens do que todos os seus amigos juntos teriam, tornando impossível esquecer de alguém como ele.

- Ah, ele não está comigo! – Respondeu quando os dedos do outro estalaram em frente ao seu rosto, deixando-o constrangido por se distrair com a beleza agressiva do tatuador. – E, bem, vim sozinho, porque acho que quero fazer uma tatuagem... – Midoriya estava meio desajustado. – Quer dizer, eu quero fazer uma tatuagem.

- Não, você não quer! – O menino ficou sem reação com a grosseiria. - Agora pode ir embora, tenho coisas para arrumar.

- Desculpe?

- Seguinte, você não quer fazer uma tatuagem, garoto, isso é notável só pela sua cara de principezinho da mamãe. – O tom era elevado e firme. - Provavelmente quem te mandou aqui foi um daqueles panacas, talvez todos eles, o por quê? Não me interessa, o negócio é que detesto ver minhas artes sendo cobertas ou apagadas, então volte quando tiver certeza, caso contrário não irei tatuagem-lo!

Katsuki virou as costas para o menino de sardas e mexeu no computador sobre o balcão que estavam apoiados, ignorando completamente a presença do outro que ainda absorvia suas palavras. Os amigos avisaram que o tatuador era alguém arisco, mas ele não imaginou que fosse tanto assim.

- Calma! – Midoriya insistiu. Ele não queria perder todo o tempo que levou só para conseguir chegar naquele lugar, nem ter que fugir dos amigos por uma vida. – Eu, uhn, apostei com eles e se perdesse teria que tatuar algo. Não foi puramente aleatório o castigo, é que sempre elogiei as tatuagens deles e deixei escapar que queria fazer uma, algum dia.