1 - Faz de conta que não percebi

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Nota da autora: Oláaaaa!!! Tudo bem, galera? Tenho ciência que tô devendo Evidências e meu capítulo de Presente de Grego (essa tá na conta da passarinhando, quem ainda não leu, corre lá), mas nem eu e nem ela aguentávamos mais essa fic martelando nas nossas cabeças desde que Pra Me Refazer foi pro mundo. Então tá aí, pra nossa paz mental ser restaurada. Espero que vcs gostem!

Obs: relaxem que essa já tá toda escrita, não vai ser muito longa, logo a gnt posta o próximo.

Obs 2: passarinhando, obrigada por embarcar nas minhas loucuras!

Obs 3: Prometo q não abandonei evidências kkkkkkkk

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POV's Ana Clara

Passava um pouquinho de meia noite quando meu celular começou a vibrar, alertando uma ligação. A foto de Lucas apareceu na tela e eu atendi antes mesmo do segundo toque.

- Oi, miga! - falei, sorridente.

- Naclara, preciso conversar contigo. - O meu amigo dos tempos de faculdade, sempre brincalhão demais, soou sério demais.

- Que houve, Lu? - Não escondi a preocupação.

- Só me responde uma coisa, até quando tu e Vitória vão continuar fugindo uma da outra?

- Tá doido, menino? Que papo é esse? Oxe! - Forcei uma risada. Não entendi onde ele queria chegar, mas nunca vi o poeta falar naquele tom, ainda mais quando o assunto tinha a ver com Vitória.

- É o seguinte, eu acabei de ouvir a música que vocês fizeram com a Sandy e eu já tinha ficado com a pulga atrás da orelha quando soube no vídeo que a música veio de um textão pra crush, tentei de todas as formas perguntar a dona Vitória que crush era esse que nunca fiquei sabendo. - Lucas desembestou a falar e eu lutei pra segurar a risada daquele discurso. - Ela só me enrolou e fugiu do assunto, mas agora ouvindo a música eu tive certeza. Era pra você, Ana!

- HAHAHAHAHAHA - Não me aguentei. - Menino, de onde tu tá tirando essas ideias? Tu tá metido com nossas fãs, aquelas que tem certeza absoluta que eu e Vitória somos feitas uma pra outra e temos um caso em segredo?

- Garota, para de deboche que eu conheço muito bem vocês duas! - Ele me repreendeu. - Conheço também esse sentimento que vocês tanto fogem, tanto lutam contra, mas na hora de sentar e escrever é a única coisa que sai. Amor que chama.

- Lu, tu tá bebo? Por que é que tá voltando nesse assunto agora, meu Deus? - Ainda estava incrédula com aquela intervenção repentina. - Por um acaso tu já foi interrogar a própria Vitória, já que ela quem escreveu o tal texto?

- Quando se trata de amar de verdade Vitória foge o tanto quanto pode, né Aninha? É isso que ela tá fazendo, e por isso que quem vai me ouvir é tu. Ou melhor, ouvir a vocês mesmas. - Ele fez uma pausa dramática e eu só esperei a conclusão daquele raciocínio cada vez mais louco. - Faz um experimento. Ouve "Ai, amor" e logo depois "Pra me refazer". Tenta separar o máximo possível a sua percepção de autora, ouve e imagina uma história de amor alheia a ti.

Não que eu desse algum crédito pra aquele devaneio, mas resolvi embarcar na sugestão, apenas porque considerei uma boa ideia ouvir as duas músicas com aquela percepção. Apesar de ser nosso amigo próximo, Lucas era um ouvinte atento, um poeta adestrador de palavras e um exímio conhecedor do amor. A opinião dele devia ser sempre levada em consideração.

- Ok, você venceu, batata frita. - respondi com um suspiro.

- Um dia você vai me agradecer por isso! - Revirei os olhos. Ele sabia que nem de High School Musical eu gosto. - Tchau, Lucas!

- Um beijo, princesa. Qualquer coisa me liga! - Ele falou rápido antes que eu desligasse.

Antes de Lucas me interromper, eu estava fazendo minha mala para ir pro Rio. Larguei tudo como estava e me sentei no chão do lado da mala pela metade. Respirei fundo e resolvi executar a sugestão de Lucas de um jeito um pouquinho diferente: peguei o violão e comecei os primeiros acordes de "Ai, Amor".

Ei, fiz questão da promessa lembrar
Tu jurou minha mão não soltar
E se foi junto dela
Ei, cê não sabe a falta que faz
Será que teus dias 'tão iguais?
Eu me pego pensando

Visualizei o casal que, mesmo prometendo não se separar, agora já não estavam mais juntos. Esse "juntos" não necessariamente representava o fim do relacionamento, podia ser só um distanciamento entre as duas pessoas, uma nova dinâmica naquela relação.

Ai, amor
Será que tu divide a dor
Do teu peito cansado
Com alguém que não vai te sarar?
Meu amor
Eu vivo no aguardo
De ver você voltando
Cruzando a porta

Mesmo sabendo que a pessoa já tem outra pessoa, ela torce pra que seu amor volte. Passe o tempo que for, há a segurança de que nenhuma outra pessoa será como ela.

Ei, diz pra mim o que eu quero escutar
Só você sabe adivinhar
Meus desejos secretos
Ei, faz de conta que não percebi
Que você não esteve aqui
Com teu jeito singelo

Não tem mesmo ninguém igual a tu. Vamos fingir que nada aconteceu, que tudo que rolou sem ser dito ou tocado não nos afetou tanto assim.

Sem hora pra voltar
Sem rota pra tua fuga
Com tempo pra perder
Teu olho degradê pra colorir

Ou que pelo menos existisse um mundo em que não seríamos afetadas. Que eu pudesse perder a hora nos meus olhos favoritos... De olhos fechados, mais sentindo a música do que pensando no que estava fazendo, emendei nos outros acordes.

Então me diz o que é que eu faço
Dessa vida sem você
Quem é que vai me levantar agora
Eu já não tenho hora
Pra me refazer

É como estar do outro lado da história. A pessoa que se foi também está tentando lidar com a separação, mesmo não sendo fisicamente ou se tratando do fim concreto de um relacionamento.

Sabe, amor
Eu fui sem canto pra tua direção
Tava sem voz, sem rumo, só coração
Nem sei onde é que a gente se perdeu
Ou se escondeu do nosso bem

Não foi o fim do relacionamento, foram as pessoas que mudaram a ponto de não se encontrarem mais. Fugiram tanto que acabaram se perdendo uma da outra.

Sabe bem
Falar pro amor de agora que acabou
Que foi o tempo e que a lua virou
Me dói de um tanto sem tamanho

Acabou, o tempo passou, um outro amor surgiu. Mas ainda dói.

O vazio é difícil acostumar
Ainda bem que não hesitei em te abraçar
O nó afrouxa até a mão querer soltar
Mas da tua mão eu não larguei até voltar
Pra direção da tua calma

As coisas mudaram e foi difícil de lidar, mas o entrelaço das duas não se soltou. Um último fio pra elas terem pra onde voltar.

Então volta, me retoma, desafoga
Vem realinhar
Me estremece, me percebe
Eu vou ser breve
Pra gente não esfriar

Deixei a música morrer nos meus lábios e só abri os olhos quando o silêncio tomou conta. A primeira coisa que avistei foram aqueles olhos degradê, emoldurados em um porta retrato no criado mudo do meu quarto, iluminados pelo sol do Central Park, do dia em que a foto tinha sido tirada.

O mesmo dia em que, mais tarde, ela me mostrou um texto lindo, todo romântico, enquanto conversávamos no chão do banheiro do hotel e eu perguntei se podia usar o texto pra uma música.

Desejos SecretosOnde histórias criam vida. Descubra agora