Na biblioteca

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O jantar:

Eu sentei ao lado de mamãe e Molly sentou do outro lado, a nossa frente os senhores Gael Blackman, um ser de altura mediana, bigode e traços rudes, um tanto rude demais no meu ponto de vista, e seu pai Jonhn Blackman, um homem baixo e rude que era dono de um dos maiores comércios da cidade. A senhora Cooper se sentou na ponta da mesa e mandou que nos servíssemos, segui todas as irritantes exigências e fui bem. Observei o senhor Gael e notei que ele tinha um certo fascínio por Molly, a olhava discretamente sempre que podia e toda vez que ela abria a boca para comentar algo, responder alguém, ele sempre parava e prestava atenção. Notei também ela, estava inquieta, certamente notou os olhares de Gael para com ela e o destetava, não é para menos, ele parece muito rude.

Estava entediada com aquele jantar, nada me agradava ali. Porém notei uma silhueta passando pela fresta da porta e vi que era Thomas, estava vestido com trajes a rigor para servir mais comida, me senti mal por ele não poder ter esse privilégio, apesar que meu desespero era tão imenso que desejei ajuda-lo a servir a mesa, no entanto fui obrigada a me controlar para não fazer minha mãe e a dona da casa ficarem horrorizadas.

Ao se aproximar de mim deu um dos seus encantadores sorrisos e piscou para mim, tentei me manter seria e não responder com um largo sorriso no rosto, seria estranho a todos se eu ficasse tão alegre tão repentinamente.

O jantar prosseguiu igualmente chato, respondia às perguntas o melhor que podia, mas não havia muito o que fazer para disfarçar o meu descontentamento. A falsidade era o sabor principal do jantar, todos sabiam que estavam sendo observados e julgados pelos demais e fazia o melhor para não demonstrar ou dar alimento a tal situação. Se algo fosse fora dos padrões tais atos seriam comentados e julgados por toda a sociedade, sociedade essa inclui comerciantes, os ricos e nobres, os demais eram apenas servos invisíveis. Fico a pensar em Thomas, sua família e os demais como ele, desamparados e sozinhos, contando com a própria sorte. Para muitos a melhor perspectiva é encontrar um emprego em uma casa de uma viúva rica. Não posso ignorar o fato de que seu eu não fosse um dos bibelôs da madame estaria nesse momento junto a ele na cozinha ou pior jogada ao mundo implorando por comida, como tantos.

Na biblioteca:

Estava a sonhar, escrevia meus devaneios no papel e mal via a hora passar até ser surpreendida com Thomas e seu espanador. Ele pediu licença e pós a limpar os livros mais empoeirados e suas prateleiras igualmente velhas. Não resisti ao impulso desconhecido de me aproximar e sentir a melodia de sua voz.

— Atrapalho?

— Certamente que não Emily.

— Como veio parar aqui? — não contive a curiosidade.

— Vim tentar a sorte na capital, com essas novas fábricas entrando em progresso todos estão optando por vir.

— E sua família? Não veio junto?

— Não tenho família, todos morreram por doença. — seu olhar era melancólico, sentia sua tristeza.

— Escarlatina? — confirmou com a cabeça — Sinto muito mesmo.

— Era meu pai, minha mãe e um irmão mais novo. Assim que minha mãe estava doente implorou para meu pai nos deixar com uma tia distante, meu pai recusou e todos pegaram a doença, minha mãe foi a primeira a pegar e falecer, meu irmão em seguida e meu pai por último, eu também peguei, no entanto conseguiram-me tratar apenas para me ver sozinho no mundo. Não consegui pagar as contas sozinho e vendi minha pequena casa para me aventurar na capital e logo consegui esse trabalho, é melhor do que nada.

— Sinto muito pela sua história. Qual era o nome deles?

— Marie, Trenton e Matt. E a senhorita?

Doce Liberdade - Conto 2Onde histórias criam vida. Descubra agora