único; mas era um garoto

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[ele era amor]

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[ele era amor]

Eu encontrei o amor uma vez. Foi aos meus dezesseis anos, após meus pais decidirem que a capital era um ótimo lugar para vivermos. Seu nome era Lee Felix, pouco mais novo que eu, dono de um sorriso brilhante e uma risada contagiante, sem contar todas as pequenas pintinhas em seu rosto, que formavam constelações.

Lee Felix era o sol do meu sistema solar, mas era um garoto.

A princípio, meus sentimentos por Felix eram os de mais pura amizade. Corríamos dos mentores da escola quando cabulávamos aula juntos, gastávamos toda nossa mesada em doces e os comíamos na varanda da casa do Lee.

Lee Felix era meu porto seguro, mas era um garoto.

Ah, Felix, fazem tantos anos, porém ainda lembro dele como se o tivesse visto ontem, ao entardecer. Lee Felix cheirava a goma de mascar, chuva e morangos. Tinha os olhos castanhos e lábios avermelhados, parecia ter sido pintado cuidadosamente por um artista, um sorriso lindo que abrigava o sol e todas as estrelas do universo e a curiosa mania de andar descalço. Por vezes tive que lhe obrigar a calçar sapatos para andar na rua, ele reclamava deveras, mas sempre obedecia. Por vezes também, me fizera ficar descalço, para assim dançarmos na chuva no quintal de minha casa, sentindo a lama sujar nossos pés e a água limpar todos os medos.

Lee Felix era tudo o que faltava em mim, mas era um garoto.

Tomei consciência dos meus sentimentos por ele quando, numa tarde enquanto passeávamos com meu cachorro, senti meu coração acelerar e quase sair do peito, rasgando minha pele e indo em direção ao Lee, assim que ele segurou a minha mão o que era uma outra mania sua, mas que nunca tinha me feito sentir daquela forma. Aquele sentimento sempre descrito nos livros de romance que líamos juntos durante as horas ociosas.

Lee Felix segurava minha mão e fazia meu coração acelerar, mas era um garoto.

A noite do meu aniversário de dezessete anos, com certeza foi a mais memorável. Felix fez-me um bolo, com a ajuda de minha mãe, e me presenteou com uma gravata azul marinho. Deitamos no gramado e observamos as estrelas, quando percebi, encarava os olhos escuros que abrigavam todo o meu universo. Beijei Felix, e pude concluir que, seus lábios eram tão doces quanto meu bolo de aniversário.

Lee Felix era doce, mas era um garoto.

Eu e Felix éramos uma combinação estranha de incertezas e medos. Nos beijávanos às escondidas, dormíamos abraçados sem malícia alguma e compartilhavámos segredos. Descobrimos coisas juntos, e nos tornamos parte essencial um do outro.

Lee Felix tinha meu coração, mas era um garoto.

Quando meu pai disse que me mandaria para outro país, para estudar, foi a primeira vez que vi o Lee desabar em lágrimas. Ele era soluços e chuva morna.

Lee Felix chorava por mim, mas era um garoto.

Meu pai era inflexível, e eu não esperaria menos, já que minha família sempre prezara os valores tradicionais e dava mais valor aos bens materiais e o nome da família. Felix disse para fugirmos, disse para vivermos nosso amor longe daquela sociedade repugnante, mas eu era covarde demais, acomodado demais.

— Não esperava que teu medo fosse maior do que teu amor por mim, Hyunjin. — disse-me e deu-me as costas, se afastando do eu, mergulhado em medos.

Lee Felix largaria tudo por mim, mas era um garoto.

Felix se foi uma semana antes da minha partida, logo após fazermos juras que nunca seriam cumpridas e memórias que nunca seriam apagadas, junto a lua, as nossas vozes soando juntas e o calor abraçando nossos corpos apaixonados. Era uma despedida de almas, corpos e de corações.

Ele foi morar com uma tia distante, foi embora sem dizer um adeus ou um até breve.

Embarquei, sentindo o peito arder, e uma parte de mim ficando no solo australiano. Talvez, se eu tivesse sido corajoso o suficiente para enfrentar meu pai e ido atrás dele, estaríamos juntos agora.

Soube por sua mãe — a qual eu visitava com frequência — que ele se tornou professor de literatura, que viajou pelo país inteiro, que não se casou, e que vive feliz em sua casa, que fica em outro estado, repleta de livros e quinquilharias antiquadas. Parte de mim fica aliviada com isso, outra machuca-me ao pensar: eu poderia ter segurado sua mão, viajado com ele e visto todas as marcas de expressão surgirem em seu rosto nos últimos dez anos; poderia estar fazendo carinho em seus fios escuros e com cheiro de morango, relembrando momentos de nossa vida juntos. Poderia ter visto mais milhões dos seus sorrisos, podia tê-lo beijado mais inúmeras vezes, podia ter terminado de contar e catalogar todas as sardas de seu rosto e corpo.

Agora, falo eu, numa tarde nublada e com cheiro de terra molhada, sobre meu primeiro e único amor, atemporal e desbotado pelo tempo, mas ainda com todas as cores, que eu conseguia me lembrar, vívidas.

Lee Felix era parte das minhas mais doces lembranças, mas era um garoto.

— Se você o amava tanto, por que o deixou ir? Por que não foi atrás dele? — o pequeno Jeongin perguntou-me. O garoto de olhos pequenos, neto de minha vizinha, adorava que eu contasse aventuras fictícias com um quê de verdade, e sempre fazia milhares de perguntas.

—  Felix era lindo, era o sol, a lua e as estrelas. Ele era o universo e o dono do meu coração, mas era um garoto, Jeongin. — suspirei, levando a xícara de café até minha boca. — Ele era um garoto, e isso me assustou, me deixou imóvel quando o vi se afastar, me cobriu a boca e me impediu de chamar seu nome. Eu temi mais do que amei, Jeongin, por isso o deixei ir. — o pequeno pareceu me entender, e logo se levantou do chão da varanda, ficando de frente para mim.

— Eu sou muito corajoso Senhor Hwang, posso te emprestar um pouco da minha coragem. — estufou o peito magricelo, com as mãos no lado do corpo.

— Obrigado garoto, mas depois de tantos anos, não adiantaria de nada. Guarde sua coragem para quando precisar usá-la.

E assim, me levantei da cadeira, a idade pesando minhas costas. Mandei o garoto ir brincar com seus amigos e entrei em minha casa. Eu tinha vinte e oito anos completos, e um coração incompleto desde meus dezoito. Completava dez anos sem ele. Era verão de 1896, porém chovia o céu inteiro sobre a cidade.

Lee Felix era o meu amor, mas era um garoto.

[ele era amor]

Eu estava assistindo memórias póstumas de Brás Cubas e fiquei com "ela era linda, mas era coxa" na cabeça

hyunlix é lindo demais amores

Lee Felix é o amor da minha vida, mas também te amo demais Hyunjin

iae bbs já deram view no hino i am you hoje?

espero que tenham gostado da o.s.

[xoxo]


ele era amorOnde histórias criam vida. Descubra agora