28

4K 226 14
                                    

                 Ela me olha confusa, talvez pensando do porquê desse meu mal humor todo, eu realmente não sabia o que falar.

                - Vou pra casa- digo seco- depois pede pra o Cam te levar em um dos carros alugados.

                 - Ué...Por que? Eu não consigo entender o que está acontecendo com você- diz completamente confusa.

                - Então não tente entender Amélia- digo olhando em seus olhos.

               - Eu vou com você.

               - Não...Você não vai.

              - Eu vou e ponto final- diz decidida.

             - Tá bom então Amélia- desisto- mas vai se arrepender de ter feito essa escolha.

             Se tinha uma coisa certa sobre a Erika era que ela me tira do sério, e por mais que a Amelia me desse sanidade, eu achava que dessa vez ninguém me segurava.

            Dirijo pela estrada com o carro em uma velocidade alta, bem alta podemos dizer, consigo perceber Amélia encolhida com medo que algo acontecesse. Meu peito se aperta, por mais que eu fosse incapaz de fazer algum mal a ela, eu sabia que ela se assustaria com meu comportamento hoje. 

         A última vez que eu tive um surto assim eu quebrei tudo que vi pela frente, e era exatamente isso que eu queria fazer agora.

        - Shawn podemos parar e conversar por favor?- pergunta ela com a voz trêmula.

       - Você que quis vir, eu avisei para ficar- digo ríspido.

         Droga, por que eu tinha que ser um babaca?

          - E deixar você sair na rua sozinho desse jeito? Ia acabar fazendo merda.

         - E por que acha que estando aqui ira me impedir?

           - Shawn quer parar? Por quê esta agindo como se eu fosse o inimigo? Quando foi que eu quis te fazer mal? Quando foi que eu te dei motivos para não confiar em mim?- ela pergunta com lágrimas nos olhos.

         O velocímetro começa a diminuir e minhas mãos agora não seguram o volante com tanta força.   

          - Eu só quero te ajudar, eu sempre quis te ajudar. Eu sei que, o que quer que tenha acontecido com você, ira melhorar, sempre melhora. Se quiser, e somente se quiser, eu vou estar aqui para ouvir. Mas se escolher não contar, eu continuarei aqui, nem que seja só para te abraçar. 

         Paro o carro em qualquer lugar onde havia vaga, olho no visor do carro e são 3:00 da manhã. De repente um choro me vem de uma forma que a muito tempo não sentia, era muito raro alguém me ver chorar. Pra mim isso tudo mostrava fraqueza, mostrava que eu era fraco e que ninguém deveria me ver assim, por isso passei a ser frio.

         Amélia nunca me viu chorar, consigo perceber sua expressão de preocupada e assustada ao mesmo tempo. Enquanto eu estava em prantos ela atravessa o banco e senta em meu colo de frente pra mim, segura meu rosto em suas mãos e limpa minhas lágrimas.

          - Tá tudo bem, eu estou aqui...tudo bem- ela sussurra.

       Depois de muito chorar eu finalmente me recomponho, pelo menos na minha fala.

       - Vou dirigir pra casa antes que eu faça alguma merda.

           Ela concorda e volta a se sentar no banco, dou partida e dirijo seguramente até em casa. 

           Ao chegar abro a porta da casa e sigo em silêncio até as escadas, sinto Amélia atrás de mim me acompanhando a cada movimento. Subo e paro no corredor me virando pra ela, fico um tempo em silêncio, não sabia o que dizer nem como contar.

          - Desculpa por hoje- falo em um sussurro.

          - Não tem problema, eu sei que foi um dia difícil pra você.

         Depois disso eu volto a ficar em silêncio e encaro o chão, a coragem pra olhar pra ela era pouca.

         - Bom...então vou dormir e deixar você um pouco sozinho, já que era isso que você queria - ela me olha com carinho.

        Quando ela se vira em direção do quarto dela eu seguro sua mão a impedindo de continuar.

         - Não preciso ficar sozinho, preciso de você- tomo coragem e falo mesmo.

        Ela me olha e volta a se aproximar de mim.

         - Então é exatamente do seu lado  que eu vou ficar- ela sorri.

         Abraço ela e isso me traz paz, subestimei o poder que ela tem sobre mim, de me trazer sanidade.

         - Vem vamos entrar- ela diz me guiando para o meu quarto.

        Tiro meu terno e coloco minha gravata em cima da poltrona, sento na cama enquanto me perco em meus pensamentos, aquele momento com Erika, tudo o que ela disse e como me tratou, tudo ecoava como tiroteio na minha cabeça.

        - Shawn?!- saio dos meus devaneios quando sinto a mão de Amélia me tocar.

       - Oi?!

       - Estou te chamando a um tempão, no que estava pensando?

        - Só... No que aconteceu hoje.

        - E o que seria esse acontecimento?

       - Reencontrei a minha ex- digo em um suspiro pesado.

       - Ahh- ela exclama.

       Volto ao silêncio até que ela fizesse outra pergunta.

        - E como foi?

        - Pior do que eu esperava- respondo simples.

        - Quer falar sobre isso?- ela pergunta indecisa.

        - Ninguém sabe da verdadeira história- finalmente tomo coragem para começar.

        - Mas Miguel e os outros me disseram que...

        - Primeiro, eles não deveriam ter dito nada- digo grosso- e segundo, eu menti pra todos o que havia acontecido.

        - Por quê?

        - Porque eu sou covarde.

        - Isso não é verdade- ela começa- Shawn, traumas são coisas difíceis de se superar, isso não te faz fraco... na verdade só mostra o quão humano você é.

        - Seria bem melhor ser menos humano então.

        - Não seria melhor, seria mais fácil- ela diz.

        - E o caminho mais fácil, na maioria das vezes, não é a melhor opção- completo.

         Ela concorda com a cabeça e me observa cuidadosamente.

         - Se mentiu pra eles então o que você disse?

         - Que Erika havia me torturado psicologicamente- olho pra ela pela primeira vez- Eu sabia que se falasse isso me pouparia pessoas não acreditando em mim. É claro que minha família acreditaria mas o resto me julgaria e me apontaria o dedo. Eu só não queria que me vissem fraco como sou, por isso menti, assim eles não acusariam ela.

         - Se não foi isso o que ela fez então o que foi?- pergunta com medo da resposta.

        Finalmente eu estava contando minha história pra alguém que não fosse minha mente ou os fantasmas que me assombram todos os dias, só não sabia o que ela iria achar disso, será que iria pensar que sou ridículo? Ou me acharia tolo? Só contando para saber.

      

        

 

You changed me || Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora