Capítulo Único

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Lily Evans não precisava de um despertador.

Era completamente inútil para ela, que não tinha um horário exato para acordar todos os dias. Além do mais, o próprio sol a acordava quando subia ao céu, e ela não fazia questão de fechar as suas cortinas para impedir isso.

Acordar cedo era sinônimo de aproveitar o seu dia ao máximo.

Ela levantou-se da cama, indo até o banheiro anexado ao seu quarto. Era realmente bom não precisar dividir com Petúnia, mas sabia que essa mudança não era por culpa da sua irmã vaidosa e reclamona. A culpa era dela. Grande parte das coisas era culpa dela.

O fato de terem se mudado da casa em que seus pais moraram por toda uma vida, por exemplo, foi culpa dela, mesmo que nunca tenha pedido por isso.

Olhou para o seu reflexo no espelho, conseguindo enumerar cada uma das suas imperfeições físicas em apenas alguns segundos. Fechou os olhos, tentando ter o controle de sua respiração, e sua mão girou o registro da pia, fazendo algumas gotas caírem da torneira lentamente.

Se Petúnia estivesse ali, com certeza começaria a surtar por causa do som. Sua mãe brigaria com ela por causa do desperdício de água.

Não abriu os olhos quando aumentou a quantidade de água, pondo as mãos em concha para pegá-la e jogá-la em seu rosto cansado, nem quando desligou o registro e foi pegar a toalha para secar o rosto.

Voltou para o quarto, pegando o seu celular de cima da mesa de cabeceira para ver que horas eram, sentando-se na cama.

— Lils, você está acordada?

Ela levantou o olhar, sem vontade de responder ou de levantar-se para abrir a porta. Não podia trancá-la, sua mãe tinha tirado a sua chave, provavelmente preocupada que ela pudesse se matar ou algo assim.

Não, nunca tinha sentido vontade de se matar.

— Estou — Lily respondeu, por fim, concluindo que estava com mais preguiça de levantar-se para abrir a porta do que de falar.

Petúnia pôs a sua cabeça para dentro, como sempre desconfortável de dizer ou fazer algo de errado. Definitivamente não merecia a irmã que tinha. Não podia acreditar que, quando mais novas, as duas se odiavam.

— Eu já vou descer — disse Lily, olhando para a tela do celular.

Nunca olhava as pessoas nos olhos. Era desconfortável, era íntimo demais.

Os olhos eram a janela para a alma. Talvez por isso preferia manter sempre os seus olhos virados para outro lado ou para baixo, não precisaria se preocupar com a quantidade e duração de piscadas, ou com o tempo em que era considerado normal olhar a pessoa nos olhos.

Outro motivo para não ter fotos da família ou de artistas no seu quarto, era como se esses mesmos olhos sempre a seguissem, não importava por onde caminhava.

— Eu vou fazer um trabalho da escola hoje — Petúnia pôs uma mecha de cabelo atrás da orelha, apoiando-se no batente da porta — Você tem algum problema com isso?

Um monte de adolescentes mais rindo e fofocando do que fazendo um trabalho escolar. Ela sempre teria algum problema em relação a isso.

Geralmente, não tinha problemas em ficar em casa.

Acordava quase sempre de manhã, por volta das 9 da manhã, uma hora depois das aulas de sua irmã iniciarem-se em Hogwarts High. Ela sentava-se na sua cama, pegava o seu notebook e começava a ver vídeo aulas de cursos pré-vestibulares, que substituíam a experiência de sentar-se em uma carteira e passar horas assistindo aulas presenciais.

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