Transcendete

4 0 0
                                    


Nunca achei que tudo poderia chegar ao fim tão rápido. Um dia você está bem, sentado ao sofá enquanto assiste a um filme com a pessoa que você tem plena certeza de que passará o resto da vida. Vocês dois brigam para saber quem escolherá o próximo filme, mas ele cede por saber que você não aguentará assistir metade. E no outro, você está de pé em uma sala branca e fria cheia de gavetas com sabe-se lá o que dentro enquanto uma pessoa que você não faz a mínima ideia de quem seja mexe em seu corpo pálido deitado em uma maca.

Não consigo lembrar bem de como tudo aconteceu, apenas flash's de possíveis memórias passam por minha cabeça tão rápido que não consigo me ater a nenhum detalhe específico. Todavia, há uma cena a qual vejo claramente. Seus olhos cheios de lágrimas e sua sempre calada voz, gritando em plenos pulmões meu nome enquanto a escuridão tomava conta de mim.

E então eu acordei aqui.

Bom, acordar não é bem o correto. Não é preciso ser um gênio para saber que o meu fim chegou, mas esperava uma luz branca puxando meu corpo. Não sabia que tinha uma cessão especial para assistirmos o que fazem com o nosso corpo antes de seguirmos viagem. Pelo menos eu dispensaria. Seu corpo todo aberto não é algo bonito de se ver. Acredite em mim. Se eu ainda tivesse um estomago, ele com certeza estaria embrulhado agora.

— Uma menina tão jovem. – um dos caras de branco diz olhando para o meu rosto cheio de hematomas.

Poxa! Se ele me acha bonita assim, imagine se tivesse me conhecido antes.

— Sim, muito bonita. Uma pena esses jovens de hoje em dia acharem que são imortais. – o senhor mais velho que está com o bisturi na mão responde o outro.

Nunca achei que eu fosse invencível. Afinal, olha onde eu acabei. Com toda a certeza não posso me chamar de mulher maravilha. Infelizmente não poderei entrar para a liga da justiça. Mas quem sabe para uma liga dos anjos? Eu sei piada bosta. Mas bem, quando se está morta não há muito o que fazer.

— E o outro jovem? O que estava pilotando? – acho que o homem mais novo não está muito interessado no seu trabalho, quem fica de fofoca quando se está mexendo em um corpo sem vida?

— Ele parece bem. Algumas escoriações, mas nada de grave. Essa não teve a mesma sorte. Espero que tenha curtido o máximo do baile, pelo menos. – o suspiro do mais velho deixa evidente a sua dor por mais uma vida jovem perdida. Parece que ainda existem pessoas que se compadecem pelo próximo.

O baile! Sim, eu começo a lembrar.

Ele nunca esteve tão lindo quanto vestido em um fraque que era tão preto quanto seus cabelos. Seus sapatos tão brilhosos que por um momento achei que tinham mergulhado em uma bacia de graxa. O cabelo rebelde como sempre continuava lá para provar que embora seu exterior estivesse diferente, por dentro era a mesma alma indomável.

Vocês devem estar achando que isso não é grande coisa. Mas acreditem, torna-se uma coisa grande quando alguém que diz "fraques e ternos são coisas de mauricinhos playboys. Não espere isso de mim. Se for para ir nesse "treco" irei com as minhas próprias roupas", usa exatamente o que jurou não vestir. Para quem não entendeu "treco" refere-se ao baile.

Podem imaginar minha surpresa quando ele chegou na porta da minha casa vestido de maneira formal e trazendo um corsage em mãos? Pois é, ela foi emocionantemente grande. Não sei como não chorei. Meu badboy estava disposto a transformar-se em um príncipe por uma noite apenas para agradar sua dama e dar a ela seu momento de princesa. Lindo, né?! Seria se a carruagem fosse uma limousine, até mesmo um carro mais esportivo. Porém, ele era incapaz de largar Honda para trás. Quem é essa? Oh, não se preocupem, ele não estava me traindo. Pelo menos não carnalmente. Honda é sua inseparável moto. Afinal, um badboy não pode se chamar assim se não vier acompanho de uma fucking moto, certo?

Além da VidaWhere stories live. Discover now