Alexander queria dar um soco em si mesmo. Ele queria dar muitos socos em si mesmo por vários motivos, é verdade, mas dessa vez era especial.
A manifestação era hoje, às 9h da manhã. Mas ele estava em pé desde as 5h. Em pleno sábado. Quando podia dormir até mais tarde.
Não é que ele tivesse se programado pra levantar tão cedo... Ele simplesmente acordou e já não conseguiu dormir mais. E entre rolar para um lado e rolar para o outro, decidiu dar o sono como perdido e foi tomar um café.
A noite anterior ainda parecia um pouco estranha. Mulligan, Lafayette e Laurens... eles eram seus amigos agora? Quer dizer, eles beberam, conversaram e riram até às 2h da manhã (mais um motivo para Alex querer chorar por ter acordado tão cedo). Isso significava que eram amigos, certo? Mas e se não fossem? E se o jovem Hamilton chegasse na manifestação hoje, e os três agissem como se ele fosse só um cara qualquer que eles conheceram?
Alexander ficou nervoso de repente. Ele sempre foi um garoto solitário, nunca teve um grupo de amigos, mas realmente gostara da noite anterior. E se ele tivesse falado demais? E se Burr tivesse razão quando deu aquele conselho?
Ele decidiu ir tomar banho e tentar se livrar desses "e se" que fervilhavam em sua mente.
O dia parecia bonito quando Hamilton saiu de casa. Usava uma camisa xadrez azul e jeans. Sua casa não ficava tão perto assim do lugar onde aconteceria a manifestação, mas dava para ir a pé.
Não que ele tivesse outra opção. O garoto de rabo de cavalo só tinha dinheiro para pagar o aluguel e olhe lá. Ele precisava de um emprego, desesperadamente, mas nenhum dos lugares onde ele entregou o currículo o tinha chamado ainda.
Assim, ele se preparou para enfrentar os quarteirões.
Até uma moto parar do seu lado.
"Continue andando, continue andando" Alex encarou o chão.
- Ei!
"Porra, porra, porra, porra, fudeu" pensou, já imaginando como iria dizer para o ladrão que ele mesmo estava pra começar a assaltar de tão pobre que estava.
- Monsieur Hamilton! - um sotaque francês chamou sua atenção. Ele parou e se virou, suspirando aliviado ao ver Lafayette montado na moto, rindo dele.
- Monsieur Lafayette. - Alex cumprimentou.
- Desculpe assustá-lo, mon ami. - o francês sorriu. Seu cabelo crespo estava solto e ele segurava o capacete debaixo do braço. Usava o mesmo coturno da noite passada. - Está indo pro orfanato? Quer uma carona?
O garoto de camisa xadrez quase chorou de emoção. Quem ele queria enganar quando disse para si mesmo que dava para ir a pé? Ele chegaria lá quando a manifestação tivesse acabado.
Hamilton sorriu e subiu na moto, mas logo ficou tenso. Ele nunca tinha andado de moto em seus 19 anos de vida, e de repente a viagem já não parecia tão agradável assim.
- Só tenho um capacete, mas vou devagar, não se preocupe.
Ele não foi.
Ele andava rápido. Muito rápido. E desviava de carros. E ele andava muito rápido.
Alex ia morrer, ele conseguia sentir isso. Quando a morte chegasse ele a acolheria ou lutaria contra ela? Alguém identificaria seu corpo? Quem iria no seu funeral? Quem pagaria pelo seu funeral?!
Ele não reparou que estava abraçando o francês com força e com os olhos fechados até Lafayette dizer que ele podia sair da moto agora.
Quando ele abriu os olhos, estavam no centro. Ele deu graças a todas as entidades existentes e jurou que não andaria mais de moto tão cedo.
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Tomorrow
RomanceAlexander Hamilton não tivera uma vida nada fácil. Cresceu pobre e sozinho numa cidadezinha do interior, e viu na educação a única forma de mudar de vida. Foi assim que, aos 19 anos, conseguiu se matricular em Direito na Universidade de Longshire, E...