a.m

745 108 88
                                    

Mark suspirou, jogando a cabeça para trás enquanto passava as mãos na cabeça em um gesto desesperado para que sua dor de cabeça amenizasse ao menos um pouco, o que não funcionava.

Levou o olhar até o relógio, que se encontrava perfeitamente pendurado na parede lisa e de tom pastel de seu quarto, percebendo quanto tempo havia passado desde que havia sentado naquela cadeira, focado em estudar. Já estava de madrugada, e o canadense odiava as madrugadas. Era tudo muito quieto, o sono sempre lhe fazia companhia e quando não sentia sono, sentia saudade.

Era sempre no silêncio inquebrável da madrugada que Mark se pegava pensando nele, pensando em como tudo havia chegado naquele fim. Sentia saudade do cheirinho doce de morango que os cabelos de Donghyuck sempre exalavam, o deixando quase embriagado. Sentia saudade dos braços do coreano lhe envolvendo, enquanto fazia um carinho singelo em sua nuca e, às vezes, em seu braço, o fazendo respirar fundo e pender a cabeça em seu peito, aproveitando do calor alheio, já que as madrugadas em seu quarto sempre eram mais frias que o normal. Sentia saudade da risada do outro, que sempre vinha acompanhada de um sorriso tão brilhante quanto o sol.

Mark poderia fechar os olhos e imaginar perfeitamente os traços bem desenhados do coreano em sua mente. O tom bronzeado de sua pele, os olhos puxados, a feição infantil e adorável que sempre fazia qualquer um que o conhecesse derreter por dentro era dono dos sentimentos mais profundos e verdadeiros do canadense.

Levantou da cadeira e logo após dirigiu seu olhar até a cama, ligeiramente bagunçada, que parecia enorme sem Donghyuck esparramado sobre ela.

Tudo aquilo parecia clichê demais, e era. A falta que o coreano fazia ao canadense era de enlouquecer genuinamente qualquer amante de clichês que encontrasse, principalmente se fosse somado ao fato que a famosa frase "Só dá valor quando perde" se encaixava tão perfeitamente na situação que entristecia — e enraivecia — Mark em todos os momentos.

Suspirou mais uma vez, se deitando desajeitadamente em cima da cama, desejando que o perfume doce do coreano que tomava noventa e nove por cento dos pensamentos do canadense estivesse impregnado ali, mas não estava, não mais.

Já fazia quase um mês que os dois estavam separados, e Mark nem ao menos havia ouvido uma notícia de Donghyuck. O coreano voltou o mais rápido possível para Jeju, onde reside sua mãe, e ficou praticamente incomunicável. O Lee mais velho havia perdido a conta de quantas vezes havia tentado mandar mensagens e ligar para ele, inutilmente ocupando seu tempo, já que ele nunca respondia, nem retornava ou atendia suas ligações, era frustrante.

Seus amigos, que também faziam parte do círculo de amigos de Donghyuck, se recusavam a dar qualquer informação, pois, segundo eles, o mesmo é quem deveria fazer isso por conta própria. Respirando fundo, Mark pensou, novamente, como havia chegado no fundo do poço. Em um momento, estava tudo bem, tinha Donghyuck ao seu lado, no outro, tudo estava desmoronando e não tinha nada que o canadense podia fazer para evitar, só conseguiu assistir tudo se desfazer em frente aos seus olhos, o namorado — agora ex — ir embora, o deixando sozinho, com o sentimento de culpa e inutilidade lhe fazendo uma companhia marcante.

Mexeu a cabeça para o lado somente o suficiente para que pudesse enxergar seu celular em cima do criado-mudo e estendeu a mão para pega-lo. Começou a mexer em alguns aplicativos, mas no fim acabou voltando para o velho e clássico fazedor de chamadas, discando inconscientemente o número de Donghyuck, que já estava gravado em sua mente. Levou o aparelho até o ouvido e ouviu os costumeiros sons que escutava regularmente indicando que a chamada estava em andamento.

Imerso no próprio mar de pensamentos, não percebeu quando a linha ficou quase muda e tudo que se podia ouvir era a respiração acelerada e nervosa do Lee mais novo do outro lado. Suspirou outra vez, dessa vez mais audivelmente e como sempre fazia, começou a despejar todas suas lamúrias, enquanto imaginava estar falando sozinho.

❝ MIDDLE OF THE NIGHT ❞ mark.hyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora