p.m

536 101 61
                                    

Mark acordou ouvindo o som da campainha de sua casa. Preguiçosamente, abriu somente um dos um dos olhos, tentando verificar que horas são com o único olho aberto ainda um pouco fechado.

Viu os ponteiros do relógio em sua parede marcarem as exatas duas e quarenta da tarde e suspirou, levantando um tanto quanto devagar devido todo o sono que ainda sentia. Seu corpo se movia o mais lento possível e a campainha tocando audivelmente irritava todos os neurônios restantes do canadense.

Foi se balançando, pelo corredor que tinha os móveis de cor marrom perfeitamente alinhados em seus devidos lugares, como sua mãe sempre fazia questão de deixar quanto o visitava, não que o canadense ousasse mudar qualquer coisa naquela casa.

Ouviu o som estridente mais uma vez soar dentro da casa e quase deu um grito dirigido à pessoa que estava ocasionando tudo aquilo. Quando finalmente chegou até a porta, abriu a mesma com preguiça, encarando a pessoa a sua frente com tédio.

Foi questão de milésimos para que Mark analisasse cada traço da pessoa em pé a sua frente, e o mesmo quase teve um pequeno ataque ali mesmo. O canadense nem ao menos conseguia acreditar que estava vendo os traços delicados de Donghyuck tão perto de si, o tão conhecido perfume com cheirinho de morango o fez respirar fundo, querendo guardar aquele momento congelado em sua memória para sempre.

Donghyuck parecia cansado na visão de Mark, as olheiras eram facilmente notadas e os cabelos bagunçados só demonstravam que o coreano simplesmente havia desistido de sua aparência naquele dia.

A tensão havia se instalado no local quase imperceptivelmente, aconteceu de forma tão natural que os pensamentos do canadense ficaram um pouco mais desnorteados que antes, não tinha ideia do que fazer no momento. Não sabia se perguntava o porquê de Donghyuck estar ali, se o abraçava com toda a força que tinha, com medo de que ele sumisse, se fechava a porta e se escondia ou se abria passagem para o coreano entrar. Mark estava colapsando.

Nenhuma das opções parecia coerente o suficiente, todas tinham possibilidades para o lado negativo. Por exemplo, se o deixasse entrar, sua estabilidade mental poderia ir toda pelos ares, uma vez que não conseguia pensar racionalmente quando tinha Donghyuck tão perto de si depois de tanto tempo. Se o perguntasse o porquê de estar ali, talvez recebesse uma resposta não tão agradável e talvez soaria rude, como se não o quisesse ali, o que era uma completa mentira, afinal, tudo o que o canadense mais queria era a companhia do coreano. Se o abraçasse talvez parecesse estranho demais e teria muitas chances de deixar os dois desconfortáveis depois de toda a demonstração de afeto. Se fechasse a porta e se escondesse, talvez perdesse a chance de finalmente se resolver com Donghyuck, mas o conforto de seu cobertor parecia muito mais aconchegante do que a conversa que estava prestes a ter com o ex-namorado.

Mark devia ter passado muito tempo ali, estático, encarando Donghyuck, pois depois de um tempo começou a perceber o nervosismo do moreno ficar cada vez mais evidente, por isso, afastou seu corpo um pouco para o lado, dando passagem para o coreano.

Aquilo tudo continuava parecendo um filme clichê americano, mas Mark simplesmente não ligava mais. Quando viu e sentiu o outro passar por perto de si, o deixando tonto com a mínima aproximação e o perfume cheiroso apertou a maçaneta da porta com tanta força que temia que ela pudesse se despedaçar em sua mão a qualquer momento.

Viu Donghyuck se sentar confortavelmente no sofá que era tão conhecido pelos dois e fechou a porta, fazendo a mesma coisa que o de estatura mediana, quase idêntica à sua, e quase respirou tranquilamente novamente.

Os dois estavam tendo aquele famigerado Deja Vu, algo que sempre ouviam falar mas não haviam acreditado, até aquele momento. Pareciam que haviam vivido aquela cena milhões de vezes, e talvez tivessem, eram constantes as conversas distraídas que sempre trocavam, sentados ou deitados em cima daquele sofá.

Silenciosamente, os dois analisavam os traços um do outro que haviam mudado minimamente. Os cabelos de Donghyuck, que antes estavam coloridos de várias cores, agora estavam tingidos em um castanho claro, os traços do rosto pareciam um pouco mais maduros, mudança ocasionado pela perda de peso a qual o coreano havia passado. Já Mark, só havia tingido os cabelos de preto, como sempre fazia, mas seus traços continuavam quase os mesmos, com mudanças imperceptíveis a qualquer um.

Nenhum dos garotos queriam ao menos ousar quebrar o silêncio que havia se instalado ali, onde o máximo que podiam ouvir eram as respirações aceleradas um do outro, o que os deixavam cada vez mais apreensivos.

— O quê... Como... Por quê? — Mark não conseguiu formular nenhuma frase descente para que pudesse falar a Donghyuck, pois a adrenalina por ver o moreno ainda corria forte em suas veias, o que dificultava o surgimento de qualquer pensamento útil ao canadense.

Uma pequena risada nervosa acabou escapando pelos lábios do coreano, o fazendo apertar as próprias unhas contra as mãos, um hábito horrível que tinha quando ficava nervoso e ansioso ao extremo, como era o caso.

— Eu não sei. — As palavras do Lee mais novo esbanjavam a sinceridade que o canadense não esperava receber. — Eu só... Senti vontade de te ver.

As palavras foram como facas no estômago do canadense, lhe trazendo sentimentos ruins, mas também foram como se estivesse sido libertado de uma prisão de sentimentos angustiantes dolorosos e duradouros.

— Eu ouvi o que disse ontem. — Donghyuck continuou, vendo as sobrancelhas de Mark se franzirem e o corpo ficar tenso, logo emendou: — Na ligação, atendi.

O rosto do canadense havia ficado na tonalidade mais forte de vermelho numa velocidade tão rápido que o mais novo não conseguiu acompanhar. Viu quando o mesmo abaixou a cabeça, envergonhado, enquanto encolhia todo o seu corpo, brincando com os próprios dedos nervosamente.

— Eu queria que soubesse que não foi completamente culpa sua. — Mark levantou o olhar e teve uma surpresa quando viu que, os olhos do coreano, que antes estavam evitando o canadense sempre que possível, agora o encarava fervorosamente, como se pudesse ver a alma do mais velho clamando por socorro por conta de todos os sentimentos emaranhados em sua cabeça agora. — Eu também tive minha parcela de culpa, Mark.

Se você acha que Mark está parecendo uma adolescente de filme americano, você está completamente certo. Só o modo como Donghyuck pronunciava seu nome o fazia derreter por dentro e deixar de lado toda o resto da frase, e o pior, não havia nada de diferente na pronúncia de Donghyuck para os demais, mas Mark estava tão apaixonado que cada pequeno detalhe do coreano parecia feito sob medida.

Mark se amaldiçoou milhões de vezes por ser tão fraco e chorar facilmente, pois, quando menos percebeu, já estava debulhando em lágrimas novamente. Viu o outro fazer a menção de se aproximar, mas também viu o mesmo hesitando.

Na cabeça de Donghyuck, tudo estava uma confusão. Tinha medo da reação do outro se tentasse o consolar, mas também tinha medo de parecer frio diante daquele que sempre lhe ajudou em todos os momentos de sua vida. Deu uma chance ao impulso e se aproximou de Mark lentamente, o abraçando desajeitadamente, ainda um pouco envergonhado.

Já Mark, estava se sentindo acolhido, uma sensação de paz o preencheu ao mesmo tempo que sentiu os braços do coreano lhe envolverem com carinho e suspirou. Foi como se todo o seu cansaço tivesse desaparecido magicamente e só mais uma coisa importava: O calor do corpo de Donghyuck, lhe trazendo o sentimento de nostalgia e carinho, que não sentia há tanto tempo que nem ao menos se lembrava de qual era a sensação.

Poderiam ter se passados horas, minutos ou segundos desde o início do contato, mas continuavam sentindo a vontade de nunca mais sair dali, e quando o mais novo fez menção de se afastar, sentiu os braços de Mark o envolverem, com força, mantendo seu corpo colado ao dele, como tinha o costume de fazer.

A conversa dos dois surgiu naturalmente, de maneira totalmente não esperada, afinal, sempre que imaginavam o reencontro, pensavam em sentimentos de constrangimento e receio, mas na verdade, estava tudo ao contrário. Os dois estavam perfeitamente confortáveis, conversando em cima do sutil sofá de Mark, os sorrisos não podiam ser poupados e tudo que um fazia resultava no fascínio do outro.

Os dois havia desistido de contar quantas vezes haviam suspirado, apaixonados, e quando finalmente se encararam, olho a olho, sentiram o mundo a sua volta desmoronar e só conseguiam focar nos lábios trabalhando rapidamente, cada um tentando demonstrar a saudade e o amor que estavam sentindo naquele pequeno e demorado ósculo.

❝ MIDDLE OF THE NIGHT ❞ mark.hyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora