Inacreditável. A cada milésimo de segundo que passa, a situação torna-se mais constrangedora. Não sei onde enfiar a cara; pensei nos seus peitos, mas eles me remetem ao fracasso escancarado e categórico que permeia minha existência neste exato momento. Ela me olha, ora de soslaio, ora fixamente, acarando meu rosto com um discreto sorriso irônico, lábios cerrados e sobrancelhas levemente inclinadas para cima.
A culpa é minha. Durante nosso papo no bar, fiz questão de me gabar, enumerando experiências bem sucedidas na cama, deixando o terreno propício para o despertar de sua curiosidade. É uma tática quase infalível: "vou para a cama com ele, testar se é tudo isso mesmo". Mesmo que não seja, voilà: objetivo conquistado.
Onde estávamos? Ah, sim, no imbróglio do fecho. O pior é que, de fato, meu aproveitamento é bom nessas coisas. É que nem andar de bicicleta; uma vez que se aprende, não se esquece jamais. Pelo menos é o que dizem, eu nem sei mexer nesse troço. Meus dedos deslizavam de forma patética pelas alças, em busca de alguma novidade que havia passado despercebida. A moça decidiu ultrajar-me, bocejando na minha frente e desdenhando do meu patente esforço. Uma tática inteligente: mexer com os brios do homem que achava que sabia tudo, mas que viu seu castelo de cartas desmoronar frente a um obstáculo nunca antes visto.
As gotas de suor já não se furtam a percorrer minha testa. Os dedos, outrora rijos e estáveis, começam a tremular, perdendo-se na confusão de pensamentos e ações que não dialogam entre si. Sou refém de minha língua e estou pagando o preço pela soberba, pela arrogância... Devia ter ficado calado no bar, ou melhor, exposto certa fragilidade, deixado a condução da situação com a honrosa dama, que agora flagra a vexatória derrota do macho alfa.
Incrível o tempo que sobra para devanear enquanto toda essa situação se desenrola. É quase um sonho, em que as escalas de segundos, minutos e horas comportam-se de maneira diferente. Acho que, em vez de ficar aqui lamentando e praguejando, vou usar o tempo ocioso para pensar numa alternativa. Pronto, já foi.
Constatando a impossibilidade de dar prosseguimento aquele espetáculo de forma satisfatória, deixo a ortodoxia de lado e, com o uso de minhas duas mãos, abaixo as alças da jovem senhorita. Não contava com essa! Atônita, mas com tesão, ela assiste o desenrolar de minha atitude, que culmina com uma jogada ousada, suicida, mas necessária: vou rasgar o sutiã.
Com minhas duas mãos, aperto cada lado da parte da frente da peça de roupa e preparo-me para o pior. Imagina, eu faço um esforço hercúleo e o danado teima em não se partir, machucando a menina por fora e meu ego por dentro?O fim se aproxima. Antes da cartada final, eu olho uma última vez para o sutiã e percebo que o fecho, na verdade verdadeira, encontra-se bem ali e não nas costas. Rapidamente, me recupero do susto e apoio meus dedos naquele perverso cadeado. A pressão do elástico se esvai e a peça de roupa, enfim, deixa o corpo da menina, para delírio completo de todos os presentes no recinto.
Extasiado e ofegante, comemoro discretamente e dou início ao ato sexual. Agora, eu mereço.
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Eu não consigo tirar seu sutiã
HumorAs imensas dificuldades de um amante na hora de tirar o famigerado sutiã de sua companheira