Prólogo

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Você sente quando seu coração dá as últimas batidas. Sente quando respirar parece ser a coisa mais difícil de se fazer. Olha para aquele céu alaranjado sobre sua cabeça e se pergunta como algo tão lindo pode estar camuflando tantas tragédias.

Sempre achei que a morte surgia através de nuvens escuras e noites chuvosas. Garoas finas que deixam a lama pegajosa e gelada. Você corre em uma floresta escura, com árvores secas, corvos gritando ao seu ouvido e se misturando com os passos da pessoa que te persegue. Você geralmente tropeça em seus próprios pés, cai de joelhos e isso torna ainda mais fácil de ser pega.

Bom, não foi assim que aconteceu comigo e acho que não é assim que acontece com milhares de mulheres com maridos como os meus. Não precisamos estar em uma floresta escura para sermos pegas, pois a morte dorme em nossa cama todas as noites.

Meu nome é Luz, não há nada que vem antes disso e o que vem depois não importa. Tudo o que você precisa saber é o que te direi aqui.

Em 1982 eu conheci o que seria o meu grande amor. Era baile de carnaval. Eu dançava e rodopiava, fazendo com que meu vestido amarelo iluminasse todo aquele belo salão decorado. Eu notei quando os olhos verdes do rapaz alto me penetraram como se eu fosse a única mulher ali e não demorou para que ele se aproximasse de mim com sua boa fala e galanteios, me deixando impressionada e encantada.

Sempre fui uma boa sonhadora e uma romântica incorrigível. Desde criança planejei meu casamento, a minha casa branca com janelas azuis e meus filhos correndo por ela. No entanto, a vida havia me preparado algo muito diferente de tudo que já sonhei.

Foi no final da festa a primeira vez em que nos beijamos e eu senti como se estivesse pisando em nuvens de algodão.

Namorei o rapaz de olhos verdes às escondidas antes de finalmente apresentá-lo à minha família portuguesa tradicional. Um tempo depois, marcamos a data do nosso casamento e foi então que a tormenta começou. As nuvens deixaram de ser de algodão e se tornaram cacos de vidro queimando como em brasa.

Eu poderia te contar sobre os momentos felizes que tive com esse belo rapaz, porém não quero que você se sinta nas estrelas para depois te fazer sentir como se estivesse andando em um túnel escuro, com cheiro de podridão.

Eu poderia passar horas te contando sobre os beijos apaixonados, sobre as caricias e as palavras doces. Sobre as promessas e as juras de amor e proteção. Mas, se eu te contasse sobre os dias felizes, eu teria que partir seu coração em seguida e talvez você nunca mais se recupere disso.

A verdade é que eu não fui feliz.

Essa não é uma linda história de amor.

Essa é a história da minha vida.

Os detalhes sórdidos de como fui assassinada.

Minhas três primaveras Onde histórias criam vida. Descubra agora