1.O começo

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Luzes coloridas dançavam ao redor do meu corpo enquanto me movimentava ao som de uma música desconhecida. O copo em minha mão estava quase vazio, com seu líquido vermelho quase completamente consumido. Corpos suados balançavam em sincronia comigo, enquanto eu tentava desesperadamente afastar qualquer pensamento perturbador da minha mente.

Dirigi-me ao bar e pedi ao barman uma bebida forte. Ele me lançou um olhar de reprovação, mas pouco me importei. Eu precisava ficar ainda mais embriagada do que já estava, pois a embriaguez parecia ser minha única fuga do turbilhão de pensamentos.

Um banco ao meu lado foi arrastado, indicando que alguém havia se sentado. Um perfume amadeirado invadiu minhas narinas, e eu rezei silenciosamente para que não fosse quem eu temia que fosse.

Você não deveria beber tanto, Amanda", disse a voz rouca e irresistivelmente sedutora do meu tormento diário. Era definitivamente ele; nunca confundiria aquele cheiro de perfume.

"Eu estou longe de ficar bêbada, Miguel", exclamei, tentando parecer convincente. O barman colocou outro copo na minha frente, e eu o peguei e bebi tudo de uma vez, pedindo outra rodada.

"Bem, tenho certeza de que você está. E acho que deveria parar de beber agora", ele respondeu. Olhei para ele, chocada com suas palavras.

"Já não basta mandar em mim na empresa, e agora quer mandar também fora dela?", questionei.

"Eu anseio por isso, Amanda", ele disse, levantando-se e se aproximando de mim.

"Ansiar por quê?", perguntei.

"Pelo dia em que estarei no comando da sua vida, não apenas na empresa, mas fora dela também, especialmente em nossas relações íntimas", ele disse, deixando-me atordoada. Bebi a bebida que foi colocada na minha frente e decidi ir embora da balada, pois eu sabia que já estava mais do que bêbada.

Em frente à balada, aproveitei o ar fresco da madrugada e comecei a procurar um táxi. Antes que eu conseguisse alcançar um que acabara de se desocupar, um carro preto parou na minha frente. Quando o vidro abaixou, vi a figura de Miguel no banco do motorista.

"Entre no carro", sua voz soou autoritária.

"Não", respondi, virando as costas.

"Eu não estou pedindo, Amanda", ele curvou-se sobre o banco do passageiro e abriu a porta. Então, com uma voz ainda mais firme, disse: "Entre no carro agora".

Sem saber o que fazer, entrei no carro, enquanto ele partia em alta velocidade pelas ruas do Rio de Janeiro.

(...)

As rodas do carro giravam em uma velocidade absurda, mas nada comparado à velocidade dos pensamentos em minha mente. Eu estava definitivamente mais embriagada do que imaginava.
Com a cabeça apoiada no vidro da janela e os olhos cerrados, evito abrir os olhos, temendo que meu estômago não suporte a visão. O pensamento em comida me lembra que só tive tempo para almoçar hoje, e isso tudo por causa desse ser diabólico ao meu lado: Miguel. Ele é o dono dos meus sonhos eróticos durante a noite e dos meus pesadelos durante o dia.

O carro diminui a velocidade e, ao abrir os olhos, percebo que não estou em casa. Em vez disso, me deparo com grandes portões brancos que levam a um caminho de pedras, direcionando à mansão dos Ribeiros, ou melhor, do senhor Miguel Ribeiro. A casa é uma verdadeira beleza, e mesmo sem nunca ter estado dentro dela, consigo descrevê-la perfeitamente, pois já a vi muitas vezes.

"O que estou fazendo aqui?"pergunto a Miguel.

"Você realmente achou que eu te levaria para casa nesse estado?", ele responde.

"Que estado?", questiono.

"Você está bêbada, Amanda", ele afirma.

"Já estive em situações piores, muito piores, na verdade. Agora, por favor, me leve para casa", insisto.

"Não diga isso, Amanda. Só de imaginar você bêbada e sozinha por aí, me dá vontade de te dar umas palmadas nessa sua bunda. E quanto a te levar para casa, não há discussão", ele diz, finalizando. Miguel sai do carro e caminha em direção à porta da casa, enquanto fico lá dentro, atordoada, processando o que ele acabou de dizer. Palmadas? Na minha bunda? Minha bunda?

Quando finalmente compreendo o que ele falou, saio do carro e o sigo.

"Você não é meu pai para pensar em bater na minha bunda, Miguel!", exclamo.

"Bom, isso não tira o meu direito de pensar e querer fazer isso, e muito mais. Fique à vontade, vou tomar um banho", diz Miguel, subindo as escadas. Curiosa sobre o que ele quer dizer com "muito mais", continuo seguindo-o.

"O que mais?", insisto com uma voz manhosa, claramente afetada pelo álcool em meu corpo. Quando o som da minha voz chega aos ouvidos de Miguel, seus olhos adquirem uma cor mais intensa e me perco naquela imensidão azul.

"Eu prefiro te mostrar do que falar", responde ele.

"Mostrar o quê?", questiono. Miguel se aproxima de mim, delicadamente retira uma mecha de cabelo do meu rosto e se inclina na minha direção.

"Isso", a palavra escapa de seus lábios enquanto Miguel coloca os seus nos meus em um beijo. Mas não é apenas um beijo comum, é um beijo digno das telas de cinema, aquele que só de olhar faz com que a minha calcinha fique molhada. Na verdade, encharcada. Quando as mãos de Miguel deslizam até a minha bunda, pressionando-me contra ele, um gemido escapa da minha boca. Sinto algo duro roçar na minha barriga. Parece que não sou a única excitada.

Nossos lábios se separam e um gemido de frustração escapa por entre os meus lábios.

"Seria melhor pararmos com isso", sussurra Miguel.

"Não, eu preciso de você dentro de mim", digo enquanto minha mão desliza pelo seu abdômen definido. Mas a mão de Miguel captura a minha, interrompendo a minha pequena felicidade.

Você não sabe o que está dizendo, Amanda. Você está bêbada", responde ele. Bem, a parte de estar bêbada pode até ser um pouco verdadeira, mas eu já não me sentia tão embriagada como antes. Já fiz isso outras vezes, sair, beber e transar com um cara qualquer. Essa não seria a primeira vez, e tenho absoluta certeza de que não vou me arrepender disso hoje.


"Miguel, se você não me satisfizer agora, vou sair por aquela porta e encontrar alguém que esteja disposto a me dar prazer. A escolha é sua", digo com um brilho de luxúria nos olhos. Miguel avança em minha direção novamente, mas dessa vez ele me carrega até sua cama.

Só espero sinceramente não me arrepender dessa decisão.


Entre Traumas e RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora