A voz do atroz (parte 1)

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30/09/1990

Sabe aquela coisa que nos move em uma direção, que faz a vida ter sentido, que faz nos sentir orgulhosos em conquistá-las. É sobre isso que minha vida se resume, a incansável busca por uma resposta, seja ela por mera vontade de algo grandioso ou por simplesmente preencher o vazio em que em meu âmago se aloja. O fato é que essa árdua busca me levou muitas vezes ao ápice da loucura ou me levou a contemplar os mais profundos e escuros lados da minha natureza.

Mas conto-lhe a ti, meu caro amigo, que a busca nem sempre é aquilo que achamos. Ao longo dos anos de minha angustiante e incessante procura pela razão de minha existência e minha natureza previsível. Deparei-me apenas com mais dúvidas a serem respondidas. E eu lhe garanto que isso é muito ruim, principalmente para pessoas como eu, pois esse fato me levou a perda da sanidade e a obtenção da frieza e a ausência do simples sentimento, seja amor, felicidade ou tristeza. Tornei-me uma estátua de pedra e carne, feita pelas mão de um destino conturbado em uma mente fadada a perdição.

Meu nome é Owen Newo. Não estou aqui para lhe dizer o que fazer ou lhe dar uma lição de moral, ou algo parecido. Só quero que me veja primeiramente como alguém normal, levando uma vida normal, com seu cão "normal" e sua esposa "normal". Se você conseguir levar tudo isso em conta, aposto que vai se sentir como uma pessoa normal também. Ou não.

24/07/1977

Minha história começa no verão de 1977, quando o ônibus escolar do senhor Morton esperava os alunos da Escola Estadual Sutton, em Ohio. É só imaginar uma parede cheia de chiclete e desenhos de pênis desenhados por todo lado, e você minha tem a pior escola do estado. Eu não poderia exigir demais, já que tinha total noção da situação financeira da minha família. 

Mesmo no auge dos 12 anos de idade eu suportei toda a responsabilidade de começar a trabalhar na loja de conveniência do senhor Wilbur todos os dias da semana a fim de ajudar nas contas de casa. E assim eu ficava por dentro de todos os assuntos que envolviam as despesas da casa. Tirando as frequentes discussões entre meus pais.

Vivi a maior parte da minha no subúrbio de Chicago. Não tínhamos uma casa daquelas que se veem na TV. Com gramas verdes e uma cerca branca. Era uma casa simples de madeira com uma pequena varanda na frente. Tínhamos um quintal gramado também, mas o verde tornou-se marrom com o tempo.

Minha mãe chama-se Mary. É uma boa mãe, não posso reclamar. Ela entrava no meu todas as noites e me desejava bons sonhos. Me acordava de manhã e me servia o café.

Já meu pai era um homem bem esquisito, assim como eu. Ele tinha dois empregos, então não era muito presente no meu dia dia. Ele também torcia para Yankee, assim como o Sr. Morton, e gostava de discutir sobre os jogos no bar em frente a nossa casa.

E claro o jovem Owen. Não contei muito de mim para você.

Eu odiava os Yankee. Na verdade não gostava de nenhum time idiota de basquete. A minha verdadeira paixão era por livros de guerra e filmes de terror. Ficava chocado quando um demônio pegava a garota indefesa ou quando o guerreiro se enfrentavam no campo de batalha.

Na escola eu não me entendia com os garotos e muito menos com garotas. Era difícil criar uma amizade. Passava a maior parte do intervalo, lendo meus livros e imaginando como seria estar em uma guerra de verdade, como seria carregar uma espada nas mãos, ou segurar uma arma, como seria sentir o gosto de sangue dos inimigos na minha boca e como seria ver a almas saindo de seus corpos apodrecidos.

Enquanto as minhas notas no colégio? Eu sempre me sai bem, principalmente em história e geografia. Eu tinha muito tempo para estudar depois das aulas, quando ficava trancado no meu quanto lendo e assistindo filmes antigos.

A voz do atrozWhere stories live. Discover now