A minha vida era normal, nem tanto porém era. Sou o filho do meio de quatro irmãos e uma deles é minha irmã gêmea. Morávamos eu, meus irmãos, meus pais e minha avó em uma casa muito legal e grande, todos tinham seus quartos e o quintal era enorme, diria até que se assemelha a uma mansão.
Meus pais não brigavam tanto, pelo menos era o que parecia, aos domingos quando a casa ficava cheia dos familiares eles iam pro quarto e "conversavam". Meu pai nunca era agressivo nos dias de semana, mas aos domingos ele bebia muito ao ponto de querer confrontar qualquer um.
Éramos felizes, meus irmãos e eu sempre brincávamos de diferentes coisas, jogava videogame com meu irmão mais velho e minha irmã, brincávamos de casinha com a minha irmã mais nova e quando nossos pais saiam para o trabalho fazíamos uma cabana no meio da sala. Aqueles eram bons tempos, até que algo aconteceu ...
Na madrugada de uma segunda eu ouvi barulho de coisas quebrando dentro de um quarto e minha mente tentava ignorar o barulho porém algo me dizia que coisa boa não era. Levantei da cama e fui em direção ao barulho, vinha do quarto dos meus pais e assim que entrei vi uma das piores cenas que jamais queria ter visto pela fresta da porta. Meu pai enforcando a minha mãe com as mãos. Eu não sabia o que fazer, então eu bati na parede, já que meu pai não gostava do barulho que a madeira fazia e ele parou o que estava fazendo. A desculpa que eu dei é que tinha escutado uns barulhos e fiquei com medo e que queria que a minha mãe dormisse comigo.
Não consegui dormir, minha mãe chorava enquanto me abraçava e tudo aquilo vinha na minha cabeça como uma facada no peito, era muita dor que sentia.
Algum tempo depois minha mãe teve outra briga, mas essa era com a minha avó e ela foi expulsa de casa. Então as únicas pessoas com quem poderia contar eram meus irmãos. Nos fins de semana meu pai nos levava até minha mãe, ela sempre foi a minha melhor amiga, depois vinha os meus irmãos e depois disso não tinha mais amigos.
Mais um tempo se passa e meu pai faz um acordo com a minha mãe, ele pagaria o aluguel de uma casa e nos deixaria com ela a semana toda mas nos finais de semana ficávamos com ele. Não vi problema nenhum nisso e aparentemente ela também não, então aceitou.
E foi assim que vivemos por muito tempo, até que ela e meu pai se desentenderam cada vez mais, cobranças, mentiras, tudo culminando em uma bola de neve que estourou em mim, infelizmente tenho a pior doença do mundo, depressão. Por causa daquele inferno que meu pai me fazia passar todos os dias da minha vida miserável. Todos os dias sentia a vontade de morrer me consumindo e poucos ligavam pra isso, esses poucos são aqueles que eu considerava a minha família de verdade, minha mãe, meu irmão mais velho e minha irmã. A mais nova era uma fofoqueira e contava tudo para o meu pai, literalmente tudo, o que cada um fazia, o que cada um dizia, e por causa disso eu sabia que meu pai sempre ia brigar comigo.
Minha mãe e meus dois irmãos eram os únicos que sabiam meus segredos, não são segredos mas era necessário ser. Eu sou gay e meu pai preconceituoso, se minha irmã soubesse disso eu estava uma pessoa morta. E por causa de certas atitudes minhas meu pai sempre me castigava, na verdade, me torturava.
Suas palavras eram como facas entrando em todas as partes do meu corpo, suas ações eram repugnantes. Eu, sem dúvida alguma, odiava ele.
Mas todo esse inferno não era o bastante. Na escola eu sofria bullying por ser diferente e a minha defensora era a minha irmã e o namorado dela. Por que um adolescente de 16 anos sofria bullying? Por ser gay em uma escola totalmente hetero-normativa. Perdi a conta de quantas vezes fui espancado e levado para o hospital, perdi a conta de quantas vezes eu chorei e me questionei o por quê de aquela ser a minha vida.
Para completar esse bolo de ódio e rancor, a minha avó, que era religiosa até com que tipo de cor usar, não poder usar tons escuros "porque são do Diabo", não ouvir tal tipo de música "porque são do Diabo", não ver tal coisa "porque é do Diabo", eu nunca peguei tanta raiva de uma frase como essa. E nunca vou esquecer o dia em que ela fez um escândalo porque coloquei piercings na orelha, ela queria me exorcizar por tal ato e sinceramente a cena toda que ela fez chorando só não foi digna de Oscar porque foi uma merda.
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The Club
Teen FictionBruno era uma pessoa normal até que tal tragédia acontece, o que faz querer tirar sua vida porém infelizmente não consegue e sofre com as consequências. Morar com o pai seria seu inferno particular e ir para uma escola nova seria sua perdição, nem t...