Wonder

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 — Espere Astolfo! Você está fazendo isso de novo, inferno! — Minha respiração já estava no limite. Sair de um treinamento e começar a correr atrás de uma chinchila não é muito gratificante e nem recomendável.

Parei por um momento me apoiando em uma parede qualquer, descansando. Era só meio-dia, no entanto, eu estive treinando desde antes do sol nascer. Não podia culpar a impaciência do meu animal para finalmente comer.

Astolfo seguia um caminho sincronizado já, direto para um pequeno café. O cheiro de pães e doces recém tirados do forno invadia minhas narinas. A fome era minha inimiga capaz de deixar toda a minha ética e comportamento pra trás e me fazer correr ao lado do meu amigo roedor.

Suspirei em satisfação pela torta deliciosa que acabei de comer. — Obrigado pela comida Sra. Darcy! — Me levantei e fui em direção a senhora de idade a agradecendo de maneira gentil como sempre fazia enquanto Astolfo, em meu ombro, roía seu petisco costumeiro.

— Você age como se fosse de graça, mas sempre paga. — Resmungou em seu jeito costumeiro. — Mesmo que seja seu trabalho, é um bom trabalho. Bons trabalhos devem ser reconhecidos certo? — Ela imitiu um pequeno sorriso antes de rir. Astolfo fez o mesmo de sua maneira. "Como você é puxa-saco", se ele entendesse a nossa linguagem, provavelmente seria isso que falaria.

— É um bom rapaz! Contudo, continue prestando atenção aos seus arredores falcãozinho! — Aquele apelido, um típico apelido de uma mãe. Carinho, porém, um pouco vergonhoso dependendo da forma que fala. Era uma dica clara do que deveria fazer a seguir.

Levei minha mão até meu peito e em um gesto solene, me curvei apenas um pouco como se agradecesse. — Agradeço as belas palavras e não preocupe. Afinal você me ensinou bem essa última parte! — Sra. Darcy novamente riu como fazia todas as vezes. Aquela mulher realmente era como uma mãe pra mim.

— Deixemos esse papo de lado. Seu aniversário de 19 anos está chegando querido. — Fez uma pausa. Aquele assunto era um pouco pesado para mim, não queria que continuasse. Mas ela continuou. — Vamos, você treina atoa não é.

Fechei meus olhos prendendo a respiração como uma criança que quer fugir problemas imaginários. Sentia Astolfo se remexer em meu ombro, o roedor entendia estranhamente meus sentimentos toda vez. Antes que pudesse achar uma desculpa esfarrapada e fugir para qualquer lugar, algo muito melhor me salvou.

A campainha que sempre tocava quando alguém adentrava o local foi minha salvadora, ou talvez a mulher que a fez voltar a vida. A figura que agora fechava a porta tinha longas madeixas da cor violeta que caiam sobre a jaqueta. Por um breve momento consegui enxergar seu único olho que estava à vista. "Carmesim", vou lembrar dessa cor como a cor que me salvou de mais uma discussão. Ainda por cima, uma aura muito estranha residia nela. Não era algo maligno ou "uau", era apenas algo tão neutro e indeciso que chamava atenção por si só. Talvez fosse pelo fato de estarmos tão perto da capital, quanto mais próximo da entrada principal do Éden, mais bizarra ficam as auras.

Conversamos depois! — Darcy sussurrou e sua postura de vendedora retornou em um piscar de olhos. — Bem-vinda! O que deseja! — Me retirei aos poucos da bancada principal me colocando perto a parede observando a nova cliente. Não parecia mais velha e nem mais nova do que eu, contudo, aquela aura neutra tinha algo, como se estivesse cansada depois de uma vida inteira trabalhando.

— Desculpe incomodar, mas você saberia me informar quando um novo Pýli vai estar disponível para a capital? — Admito que aquilo me pegou de surpresa. Uma voz tão calma pronunciando o nome dos veículos que só funcionam uma vez por ano, se tornava engraçada e fazia uma vontade estranha de ouvir aquilo mais vezes surgir.

Pandora - DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora