HÁ UM TEMPO ATRÁS, uma jovem muito bonita e doce se perdeu em uma floresta próxima à sua casa. Uma floresta imensa e cheia de segredos, segredos que estavam prestes a serem revelados. A menina andou e andou, não encontrando o caminho de volta para casa. Ela temia pela sua vida, temia que tivesse algo ali que pudesse lhe fazer mal. Mas ela não cessou, continuou a andar e andar, entrando cada vez mais na floresta escura e sombria, que estava fria como numa noite de inverno.
A garota esfregou as mãos uma na outra, procurando aquecê-las. Ela ergueu a saia de seu vestido para evitar uma possível queda, considerando que ela era uma pessoa muito desastrada. A bela moça de cabelos negros já estava perdendo as esperanças de voltar para casa, até que deu de cara com um lindo chalé rústico, feito de uma madeira escura e aparentemente resistente. Um design que a jovem nunca havia visto em todos os seus vinte e dois anos de vida, era novo e ousado, porém muito bonito.
Esse lindo chalé a fez pensar no motivo de vir para a floresta no meio da noite. Ela, a garota que estava em seus mais lindos sonhos. Ela dava cor à sua vida. O cheiro de seus cabelos loiros e macios estava grudado em suas narinas, e a morena ansiava por senti-lo mais uma vez. Mais cedo, a menina de cabelos negros havia recebido uma carta. A carta, enviada por sua amada, dizia claramente para encontrá-la na floresta à noite, no seu lugar especial, uma árvore gigantesca onde elas se beijaram pela primeira vez. Na árvore estavam gravadas as iniciais de ambas, G e R. Ruby, a garota de cabelos negros, tinha certeza absoluta de que fora naquela árvore que ela percebeu que Grace seria o amor de sua vida. E Grace sentia o mesmo.
Ruby se aproximou do chalé e bateu na porta, em busca de ajuda para sair daquela floresta. Rapidamente, uma senhora sorridente abriu a porta. Seus cabelos presos em uma touca preta e seus olhos eram azuis como o oceano, contrastando com sua pele negra. Ruby sorriu gentilmente e perguntou se a senhora conhecia bem a floresta. Apesar de ir muito ali, Ruby não conhecia muito bem a floresta, pois sempre que visitava o lugar, Grace, que morava do outro lado da floresta, a acompanhava até sua casa. Mas, quando Ruby foi encontrar a menina de olhos azuis em seu lugar especial, a garota não apareceu. Ruby esperou por horas, mas nenhum sinal de Grace. Ela não sabia ao certo o que impediria sua amada de vir até ela. Talvez sua mãe a tivesse pedido para fazer algo, e não dera tempo de ela vir, eram infinitas possibilidades.
A senhora, que aparentava ter mais ou menos cinquenta anos, contou a Ruby que crescera naquela floresta, e que a conhecia como a palma da mão. A jovem, então, explicou-lhe que estava perdida e pediu humildemente a ajuda da senhora. A senhora disse que a ajudaria, mas que achava melhor que a garota passasse a noite em seu quarto de hóspedes, pois a mulher não enxergava bem à noite. Ruby aceitou prontamente e agradeceu a gentileza da senhora.
Sinceramente, Ruby estava um pouco insegura em aceitar a oferta, pois não conhecia aquela mulher e ela aprendera que não se deve confiar em estranhos. Mas quem disse que ela confiava? Ela, certamente, aceitara aquilo apenas para sobreviver. Ela sabia que não duraria muito naquela floresta desconhecida e muito sombria, em sua opinião. E para aumentar seu temor, sua aldeia estava sendo atacada por algo, mas ninguém tinha certeza do que era, a única certeza que tinham era de que a coisa era bizarra. Nos ataques, os moradores eram transformados em pedra, e todos ficaram horrorizados com isso. Desprotegida e indefesa, tentando lutar contra o desconhecido. Essa é com certeza uma situação muito complicada para uma simples camponesa.
A garota subiu para o quarto de hóspedes, tirou sua capa e a jogou no cabideiro. Ela se deitou na cama macia que ficava no centro do quarto, sua cabeça afundando nos travesseiros. Ruby fechou os olhos e o sono se apoderou de seu corpo, ela finalmente dormiu. Mas não por muito tempo.
A menina abriu os olhos e viu que ainda era noite. Ela ouviu gritos, por isso acordara. Mas não porque eram apenas gritos, não. Não eram gritos qualquer, eram gritos que ela conhecia muito bem. Eram os gritos de Grace. Ruby levantou da cama bruscamente e correu até a porta do quarto. A garota abriu-a e saiu em disparada na direção do som. Ela atravessou a casa e, chegando no canto da sala, avistou um alçapão, de onde vinham os gritos. Ruby o abriu e desceu, correndo pela escada. Os gritos já haviam cessado. Quando acendeu um lampião que havia ali, pôde finalmente ver o que acontecia. Sua amada agora era pedra, uma linda estátua que poderia facilmente enfeitar os aposentos do rei. Seus olhos lacrimejaram e, enfim, ela percebeu. Se apressou em fechar seus olhos castanhos e apagar o lampião. A garota sentiu uma mão em suas costas, e todo seu corpo estremeceu.
Tudo ficara mais claro para Ruby naquela noite, tudo se encaixou. Ela lembrara da história que sua vó lhe contava quando era criança, a história sobre a mulher com cabelos de cobra. Ela dizia que se olhasse diretamente em seus olhos, a pessoa viraria pedra. Ruby nunca imaginou que alguma das histórias malucas da sua falecida avó seria real, mas assim que reparou na touca preta da gentil proprietária do chalé, no fundo, ela soube. Os ataques misteriosos na sua aldeia, era ela.
Ruby mantinha seus olhos fechados, tentando não ser a próxima vítima da mulher. Lágrimas rolavam pelo seu rosto com a dor da perda de Grace. Ela sentia a mulher se aproximar, ela podia ouvir os barulhos das cobras na cabeça da mulher e lutava para não abrir os olhos. Então Ruby lembrou do final da história de sua avó, lembrou de como derrotá-la. Um espelho, ela precisava de um espelho. A garota, que até agora se mantinha imóvel, correu rapidamente para fora do porão e trancou o alçapão. Ela subiu para o quarto de hóspedes e pegou um espelho que estava ali, pegou também uma lamparina, que iluminava o belo aposento.
Ruby voltou para o porão. Ela segurava o espelho na frente de seu rosto, a impedindo de olhar nos olhos da mulher. Ela se aproximou de Grace e ouviu barulhos de cobras atrás de si. Ela estava prestes a se virar, mas o espelho escorregou de suas mãos e se estilhaçou em milhões de pedacinhos, alguns penetrando seus pés. Ela fechou seus olhos o mais depressa que pôde, quando sentiu a mulher se aproximar. Ruby sentiu uma mão em seus cabelos ondulados e seu coração falhou uma batida. O medo subia por sua coluna como um calafrio. Não podia abrir os olhos, mas sabia que não aguentaria deixá-los fechados por muito tempo. A garota sentiu uma respiração em seu rosto e recuou um passo. Ela tentou chegar até a escada, mas uma mão segurou seu pulso, fazendo-a parar. Ela então ouviu a voz de sua amada e, por extinto, abriu seus lindos olhos castanhos e se virou em direção sou som.
Não foi Grace que ela viu ao se virar, não. Era ela. A mulher de cabelos de cobra. Ruby fechou seus olhos, tentando evitar seu triste destino. Mas já era tarde demais, ela já havia olhados nos olhos azuis da mulher. Ela podia sentir seu corpo petrificar, e essa era a pior sensação que Ruby já havia sentido. Ela usou seu último suspiro para pronunciar o nome de sua amada. E Então, estava feito, ela agora era apenas uma linda estátua, e todo o brilho fugira de seu olhar.Ruby acordou em um pulo e suspirou aliviada ao perceber que tudo aquilo fora um sonho. A garota olhou para a janela e viu que já amanhecera. Ela levantou da cama, tirou sua capa do cabideiro e vestiu-a. Ela desceu as escadas e deu de cara com a senhora, que estava de pé ao lado da escada, encostada no corrimão. Ruby sorriu docemente e as duas saíram em direção à sua casa. Chegando lá, a garota de olhos castanhos agradeceu a gentileza de senhora e acenou, vendo a mulher partir.
A senhora de olhos azuis oceano entrou em seu magnífico chalé e foi até o canto da sala, onde havia um alçapão. Ela acendeu um lampião e desceu as escadas do porão. A mulher se aproximou da garota loira amarrada em uma cadeira, no centro do cômodo, e tirou sua touca preta, revelando seus cabelos de cobra. Grace tentou fechar os olhos, mas já era tarde demais. A garota de olhos azuis, em um piscar de olhos, já não era mais humana, agora era apenas uma linda estátua que poderia facilmente enfeitar os aposentos do rei.
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Serpent Hair
FantasyAlgo estava atacando uma pequena aldeia, a aldeia onde Ruby vivia. A garota cresceu escutando histórias sobre uma mulher misteriosa e desconhecida, uma mulher com poderes além do imaginável. Mas, sem dar muita importância, cresceu e viveu normalment...