Capítulo 9

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    - Posso morrer? – Elis me pergunta quando entra no seu c  arro ainda estacionando na minha garagem.

            São quase três da tarde e ela está um trapo. Ressaca pura. Dormiu até agora pouco, só a acordei porque temos que trabalhar daqui a pouco. Ela continua com um pouco de maquiagem no rosto e colocou as mesmas roupas de ontem. Estamos indo até o seu apartamento para ela se trocar e tentar ficar apresentável a tempo para o aniversário de hoje. Ela mora no outro lado da cidade, temos que fazer um desvio que entra num parte quase abandonada. Morro de medo de passar esse trecho à noite.

            - Só depois de hoje à noite. – Aviso quando saímos da garagem e entramos no asfalto.

            - Aiiii, maldito sol! – ela abaixa a viseira do lado do motorista e eu começo a rir.

            - Bem feito! Isso é por tudo o que tu me fez passar ontem.

            - Não pragueja Su, estou morta demais para entender o porquê disso. – ela abre uma garrafa de água que entreguei a ela quando acordou e toma mais uns comprimidos para a dor de cabeça que deve estar sentindo.

            - Amnésia alcoólica? Não te faz Elis! – Ela ri e olha para mim.

            - Certo, lembro sim. Clichezinho comigo no colo, impossível esquecer disso! – reviro os olhos e ela continua – Cheiroso que só.

            - Mesmo com o teu cheiro de vômito e tequila, ainda consegui sentir o perfume dele. – Meu carro vai carregar o seu perfume por um bom tempo ainda. Conto para ela tudo o que aconteceu ontem, desde como ele nos achou, a carregou no colo, loucuras que ela falou e como ele fez a proposta para aquele acordo idiota. Elis tenta dar pulos de animações, mas a ressaca não deixa.

            - E tu! Para de ser arredia com ele. – ela avisa - Se der sopa, vai de colher! Te joga como carro velho sem freio descendo uma ladeira. – balanço a cabeça e começamos a rir.

            Elis ainda está bêbada, só pode! O que o Noah, um modelo, lindo de morrer, iria querer com uma mulher como eu? Baixinha, uns bons 10-15 kg a mais do que o normal, irritada e que não está nem ai para a moda e coisas desse tipo. Nunca. Nem em livros isso acontece. Geralmente a mocinha é linda, esbelta, determinada, sem medo de nada. Ou seja, um mundo quase perfeito, onde não há nada que o amor não supere. Bem diferente do mundo real. Onde por exemplo, os pneus dos carros furam do meio da rua.

            - O que foi isso? – Elis me pergunta quando o carro dela, um Ford Fiesta, faz um barulho estranho e eu sinto a direção dando um pulo na minha mão.

            - Eu espero que nada. – Falo estacionando o carro em um acostamento, no meio do nada.

             Descemos do carro, eu já estou pronta para encarar a noite trabalhando, uniforme preto e sapatilhas, Elis com um par de havaianas para não ter que usar os saltos. Vou até o pneu da frente do lado do carona e o pneu completamente sem ar. Nada que ligar para o seguro e esperar um pouco, não resolva.

            - Liga para o seguro Elis, o pneu dianteiro furou. – Elis arregala os olhos e me olha.

            - Não surta. – ela avisa.

            - Não me diz que tu não pagou o seguro Elis! – óbvio que eu começo a surtar.

            - Não, tá pago sim! – solto o ar aliviada – Mas o cartão com o número está na outra bolsa!

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