Sábado, 01 de Novembro de 1969
As ruas ainda estavam levemente iluminadas pelas lâmpadas decorativas que decoravam os postes e árvores naquela noite. As calçadas e a pista de carros viam-se coloridas e prateadas pelas embalagens de doces e chocolates que as crianças consumiram no decorrer da noite, e ainda era possível encontrar alguns pedaços de fantasias infantis espalhadas aqui e ali.
Era por volta de três da manhã, amplamente conhecida como Hora Morta, o momento da noite em que os seres sobrenaturais saem para passear. Talvez tenha sido por esse motivo que ninguém admitiu ter escutado os choros fantasmagóricos que ecoavam pelo parque naquela hora da madrugada, ou simplesmente tenham ficado envergonhados demais em assumir que pensaram ser apenas uma brincadeira de Halloween.
O choro vinha de uma mulher ruiva e descabelada. Ela corria de um homem de cabelos brancos e assustadores olhos prateados que segurava uma longa faca de caça já tingida de sangue. A barriga inchada, coberta pelo vestido monocromático verde-bebê, mostrava o avançado período de gravidez.
Ela já sangrava, o líquido carmim escorria por talhos em seus braços e pernas, claros sinais de que ela lutou pela vida antes de ter uma oportunidade de correr. A mulher tentava chegar ao posto de Polícia que se situava a cinco quadras do parque onde agora se encontrava, mas a perda de sangue devido aos grandes cortes, a respiração inconstante durante a corrida e o bebê ainda não nascido pressionando seus órgãos fizeram com que ela se cansasse com muito mais rapidez que qualquer outra pessoa normal.
O homem usou o próprio tamanho para derrubar a fugitiva, fazendo com que os dois caíssem num emaranhado de corpos, a faca de caça deslizando para longe. Um alto estalo pôde ser escutado, mas o grito de dor que vinha da mulher foi rapidamente abafado pela mão do perseguidor. O pulso direito, sobre o qual ela tinha se apoiado ao cair, agora estava numa posição anatomicamente impossível.
Abraçado à mulher que agora chorava copiosamente agarrada ao membro quebrado, o atacante usou a mão livre para acariciar os cabelos bagunçados da mulher e deu-lhe o mais carinhoso dos beijos na têmpora esquerda. Ela parecia ter desistido de lutar e agora tentava recuperar o fôlego através das frestas dos dedos que lhe bloqueavam a boca e o nariz.
— Agora você vai se comportar, meu amor? — O homem perguntou próximo ao ouvido dela, dando-lhe arrepios. — Prometo que quando eu terminar, tudo vai ficar bem e ficaremos juntos para sempre.
Ela assentiu rapidamente com a cabeça e não gritou quando ele retirou a mão de sua boca, mas o choro se tornou mais alto sem algo que o abafasse. Ele deu uma risada baixa, como se comemorasse a submissão da mulher.
— Boa garota. — Disse ele, ajeitando o cabelo bagunçado e ergueu-se, levantando-a junto.
— Por favor. — A voz dela era um sussurro quase inaudível, mas o homem carinhosamente passou o polegar sujo de terra e sangue seco nos lábios da sua perseguida apenas para que ela se calasse novamente.
— Silêncio, Aryanna. — A expressão do rosto era calma, mas o tom de voz transparecia impaciência. A mulher estremeceu ao ouvir o som do próprio nome saindo da boca de seu perseguidor e, mantendo o pulso quebrado contra o peito, acariciou a barriga com a outra mão.
— Eu estou grávida, por favor me deixe ir! Pelo meu bebê! — Aryanna nunca tinha implorado por sua vida em todos os seus 469 anos de idade, mas em sua posição atual, ela não tinha nenhuma escolha. Estava fraca, cansada e ferida. Se conseguisse escapar, não pensaria duas vezes em aceitar o pedido de Darius para que morasse na Mansão junto com ele... Não fugiria mais, não se envergonharia mais por coisas das quais não tinha culpa.
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Tormented Lover
VampireEm Chicago, tem-se Dália Negra; Em São Francisco, O Assassino do Zodíaco; Em Boulder, JonBenét Ramsay; Em Caldwell, tem-se O Parteiro. Casos Arquivados sempre deixam marcas históricas nas vidas das pessoas que estão próximas dos acontecimentos, prin...