Flores

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    Tetsuya estava mais distante nos últimos dias.

   Ele falava comigo o necessário e constantemente me evitava o que já estava me irritando.

   Por isso fui a aula determinado a acabar com tudo aquilo.

    Mas justo naquele dia ele faltou. E o azulado nunca faltava, o que deixou a mim e a todos do time preocupados com o mesmo.

    Passaram-se três dias sem sinal de Tetsuya. Então eu e o resto da geração dos milagres decidimos ir até a casa dele ver se o mesmo estava bem.

    Mas quando chegamos lá não fora ele que atendeu a porta mas sim sua mãe que disse que ele estava bem, que havia sido apenas um mal estar e que no dia seguinte o mesmo retornaria as aulas.

    Ela disse tudo aquilo com um sorriso mas após uma infância rodeado de sorrisos falsos eu já era um especialista em percebe-los o que não era diferente no momento onde a mulher de cabelos azulados como os do filho claramente mentia para nós o que havia me deixado ainda mais apreensivo com o estado de Tetsuya.

    Na manhã seguinte ele realmente foi para a escola, mas era claro que o mesmo não estava bem.

    O azulado estava mais fraco e pálido do que o normal e sempre que era questionado por qualquer um sobre o assunto dizia que estava bem e que não era nada demais.

    Nós preferimos respeitar o espaço dele. Esperar que o mesmo contasse para nós seja lá o que ele tinha.

    Mas o azulado continuava piorando dia após dia até que durante um dos nossos treinos ele acabou desmaiando e sendo levado para o hospital aumentando ainda mais nossa preocupação com o mesmo.

   Ele não havia se machucado na queda mas ainda assim teria que ser internado e não importava as reclamações (e ameaças de minha parte) os médicos se negavam a contar o motivo, segundo eles, a pedido do próprio azulado

   A partir daquele dia nós paramos de insistir e passamos a revesar nas visitas do azulado, ficando praticamente a semana toda ao seu lado.

  Toda vez que eu ia em uma dessas visitas sentia um aperto no peito ao vê-lo tão mal naquela cama.

  Era a mesma sensação que eu tive enquanto via minha mãe no mesmo quarto branco de hospital pouco antes de ir e eu odiava pensar nisso.

  Tentando ignorar aqueles pensamentos depressivos passo a observar o espaço ao redor notando um buquê colocado sob a escrivaninha que ficava ao lado da cama dele.

  Era um belo buquê totalmente de flores-de-lis vermelhas. Minhas flores favoritas.

  Fiquei me perguntando quem avia deixado aquilo ali mas preferi ignorar focando no azulado que dormia calmamente na maca do hospital.

Nós últimos dias esses eram os únicos momentos de paz para ele embora de vez em quando ele ainda murmurava coisas desconexas ou tossia descontroladamente fazendo o aperto no meu peito voltar cada vez mais forte.

  A semana passou e mais uma vez chegou a minha vez de visitar o a azulado. Mas ao chegar no quarto o mesmo tossia descontroladamente e parecia não conseguir respirar me fazendo chamar os médicos que o levaram para uma cirurgia de emergência.

   Após acompanhar os médicos levarem Tetsuya para a sala de cirurgia liguei para o resto do time tentando manter a calma coisa que eles não tinham, chegando um mais desesperado que o outro.

  Durante todo o tempo que o azulado esteve na no local, a sala de espera ficou em silêncio com todos extremamente tensos.

   Até que, enfim, uma enfermeira sai da sala informando que a cirurgia fora um sucesso e que o azulado seria direcionado novamente ao quarto só podendo receber visitas no dia seguinte.

   Ao ouvir a afirmação da mulher senti todo o meu corpo relaxar em alívio soltando o ar que nem havia percebido que havia preso.

   Dei um sorriso pequeno a moça me direcionando a saída com o resto da geração já que naquele dia a mãe do azulado ficaria com o mesmo.

   Durante todo o trajeto até a mansão senti um certo alívio por saber que o azulado estava bem, mas... Por algum motivo, a sensação ruim que me perseguia desde que vi o buquê no quarto do mesmo ainda permanecia em meu peito que só foi vencido pelo cansaço que me fez apagar assim que deitei na minha enorme cama.

    Na outra manhã fui a escola normalmente e ao final do treino da tarde eu e o resto do time fomos novamente ao hospital entrando um a um no quarto do azulado para visitá-lo assim como era permitido.

   Fui o primeiro a ir e quando entrei no local o aperto no peito voltou com força total sem motivo aparente.

    O azulado estava bem. Tinha muito mais cor que a alguns dias atrás e estava observando a janela calmamente sem mais resmungos ou tosses descontroladas.

   Por isso não entendia porque me sentia tão desconfortável.

   Pelo menos até que eu avistei, na mesma escrivaninha onde antes o buquê estava, um papel que me mostrou o que os médicos tanto quiseram esconder de nós: o resultado dos exames de Tetsuya.

    Hanahaki.

    Já tinha ouvido poucas vezes sobre a doença que era considerada por muitos como uma lenda.

   A doença do amor que atingia pessoas com amores unilaterais e que fazia o paciente vomitar as flores favoritas da pessoa que amava.

   E então a realidade veio me acertando como um trem.

   Lembrei do buquê de flor-de-lis. Minhas favoritas.

   Kuroko Tetsuya estava sofrendo esse tempo todo, cuspindo as minhas flores, enquanto se negava a me contar seus sentimentos.

   Se bem que, considerando o fato de eu nunca ter percebido, provavelmente não adiantaria nada.

   Porque eu fui cego demais para perceber seus sentimentos e idiota demais para retribui-los.

  - Quem é você?- ouço ele perguntar com a voz baixa e fraca saindo de meu torpor e vendo o mesmo me encarar enquanto eu recebo mais uma prova de que esse tempo todo eu era o culpado de tudo pelo que ele passou.

  - Ninguém importante Tetsuya. Apenas um voluntário do hospital. Não precisa se preocupar com isso já estou de saida- eu minto com o meu melhor sorriso falso e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa me aproximo dado um selinho em sua testa deixando os papéis na escrivaninha antes de sair do quarto rapidamente.

  Chego em casa ainda desnorteado tentando assimilar todas as informação daquela tarde.

  Porque diabos ele não me contou? Porque sofreu calado esse tempo todo? Porque eu fui tão cego pra não notar o que realmente acontecia com ele?

   Enquanto me pergunto isso começo a sentir um mal estar me direcionando ao banheiro mais próximo.

    Chegando lá despejo no vaso uma pétala de flor de baunilha. A flor favorita do azulado.

    Encaro surpreso a única pétala que havia saído antes de começar a rir com escárnio da ironia da vida.

    Dei descarga e sai do banheiro. Tinha aula de piano naquela tarde.

  Embora desconfiasse que elas não seriam necessários em um futuro próximo.

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  Dia 2 da Akakuroweek2018. Série de one-shots postadas no Spirit e que eu estou repostando aqui no wattpad.
  Tema:flores

HanahakiOnde histórias criam vida. Descubra agora