— Só faltava essa!
Marcelo praguejou enquanto estacionava o automóvel, um Mercedes-Benz Classe C cinza-claro que atraía a atenção dos pedestres e causava admiração em notórios apreciadores de carros esportivos. A princípio, a sexta-feira amanhecera prometendo um dia ensolarado e vibrante. Agora, a chuva batia contra o para-brisa do carro de Marcelo, lembrando-o de que não havia trazido um guarda-chuva para emergências climáticas como esta.
A culpa é toda minha, ele admitiu mentalmente. Não era nenhum migrante desavisado sobre a loucura que era a meteorologia naquele estado. Cansara de vivenciar situações em que fora surpreendido pela mudança abrupta de clima. E, no entanto, ali estava ele. Pego de surpresa mais uma vez, só para não perder o hábito.
Enquanto estudava os grossos pingos de chuva escorrendo pelo vidro, raciocinava fervorosamente para encontrar uma saída para seu problema. Sair correndo pelo amplo estacionamento era uma solução. Entretanto, até que tivesse chegado à entrada do prédio, já teria se encharcado mais do que gostaria.
Não que fosse de ligar para coisas desse tipo. Mas desde que assumira o comando da presidência da empresa de brinquedos de seu pai, estava ciente de que aparecer com as roupas de trabalho molhadas não seria bom para sua imagem pública. Especialmente quando estava prestes a ter uma importante reunião com potenciais investidores.
Mais imprecações escaparam-lhe da boca quando se deu conta de que havia se esquecido de providenciar mais cobertura para aquela área externa.
Consultou seu relógio de pulso. Não podia esperar mais. O tempo esgotava-se. Com um suspiro determinado, pegou a pasta executiva de couro e o paletó preto. Antes de abrir a porta do carro, fez uma curta contagem regressiva para se preparar. Então saiu em disparada, segurando com uma mão o paletó aberto sobre a cabeça, apenas parando quando alcançara o ambiente interno do prédio.
— Que dia! — exclamou Marcelo para o guarda que ficava perto do balcão da recepção. — Bom dia, Félix.
— Bom dia, sr. Avilar — cumprimentou o guarda sisudo. Fracassou em disfarçar o espanto assim que constatou o resultado da exposição de Marcelo à chuva torrencial.
— Está caindo um temporal e me esqueci de colocar a sombrinha no carro.
— Minha esposa sempre me faz andar com uma.
— Sorte sua! Estou em via de ter uma reunião. Tenho certeza de que me acharão muito respeitável quando eu chegar lá parecendo um pinto molhado.
O humor no comentário arrancou um sorriso do guarda. Marcelo não sabia direito com quem havia aprendido a expressão, mas achou-a engraçada e resolveu acrescentá-la ao seu dicionário.
Satisfeito, seguiu para o elevador. Estava lotado. Geralmente as pessoas ignoravam seus arredores quando estavam com pressa, ansiosas para chegarem ao seu destino final. Mas em questão de segundos, Marcelo se encontrava conversando animadamente com o grupo.
Sim, fora nomeado presidente da Brinquedos Avilar, porém jamais negligenciaria sua educação. Crescera no meio de pessoas expansivas, que adoravam calor humano. Sua família era pequena, mas sabia ser barulhenta. Seus familiares eram sempre sua prioridade. Era capaz de fazer qualquer coisa por eles.
Ao sair do elevador, Marcelo deparou com Sara, sua assistente pessoal. Cumprimentaram-se rapidamente. Sara era uma mulher de 28 anos, confiante, sempre de aspecto impecável e que jamais deixara de ser profissional com ele. A qualidade do trabalho que vinha realizando falava por si mesmo. Tornar-se uma funcionária indispensável fora apenas a consequência de sua dedicação.
— Já preparei a sala de reuniões, Marcelo — informou ela, acompanhando o patrão até o escritório interno.
Marcelo entregou o paletó úmido à assistente. Em seguida, sentou-se atrás de sua mesa, pousando a pasta de couro que pingava ao seu lado no chão.
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De Repente Ela [DEGUSTAÇÃO]
ChickLitLivro único! Apenas os três primeiros capítulos para degustação. Altamente recomendado para quem curte um clichê ;D Livro registrado no Avctoris. PLÁGIO É CRIME. Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou reprodução total ou pa...