Menina vem jantar!!!
É ovo? . ... Quero não!!!!
Era o ano de 1970, eu tinha 8 anos, eita época boa.... Passava o dia inteiro na rua brincando com a molecada, havia ido a escola pela manhã e o resto do dia era muita diversão, lá na casa do Tati da Maria.... moravam lá o Tati com mais seus quatro irmãos. Eu nem lembrava de ir pra casa alimentar-se, as vezes nem lembrava que era menina..... de pernas longas e esguias, não era possível definir o que era coxa ou canela, a parte do rosto que tinha mais carne eram os olhos, os dentes expulsos para fora por causa do uso prolongado da chupeta não permitia-lhe fechar a boca totalmente, e saia como foguete ao ouvir o grito de sua mãe dona "Petrucia" que não sabia aonde enfiar a cara, a favela inteira agora sabia que iriam comer ovo no almoço.
Mônica, tinha mais três irmãs que moravam com ela, Maria Verônica a mais velha da filhas, Maria Graciete a do meio e Maria Lúcia a mais chegada irmã, só ela que não chamava Maria Mônica... Graças a Deus acho que não iria combinar....
Minha mãe chamava-se Maria Joaquim, mas a minha avó a chamava de Petrucia não sei por que, desde criança, sempre vi a minha avó, meu tio e as vizinhas a chamarem assim.
Minhas irmã vieram de Maceió e só eu nasci aqui.... Acho que o nosso pai morreu o nome dele era Mario, mas eu nunca o vi e a Cuca, apelido carinhoso que eu destinava a minha mãe, nunca falava dele. Sabe, minha mãe não tinha muita leitura não, mas eu ajudava ela a ler, passava lição de casa, tudo o que eu aprendia na escola eu ensinava pra ela, dei até um caderno meu que tinha sobrado algumas folhas para ela treinar, as vezes ela fazia a lição e as vezes desistia, a cuca trabalhava na Randi uma fábrica de cobertores e quando saia do serviço ainda vendia Avon pra complementar a renda, a minha avó, dona Brasilina, mais conhecida pelos vizinhos como dona Rosa foi quem praticamente nos criou, não trabalhava fora desde que veio do norte com a minha mãe para morar em São Paulo, influenciada pelo meu tio José irmão de minha mãe, a vó cuidava da casa, de mim e das minhas irmãs, fazia a feira, e organizava tudo.
Sou muito grata a minha vó pois apesar de sermos paupérrimos, ela nos ensinava a respeitar as pessoas, mantinha as leis da boa moral e dos bons costumes a rédia curta, as vezes eu não cumpria aí vinha chumbo grosso.
As vezes eu aprontava, há ... Qual criança não apronta?... Bom algumas aprontam menos, eu gostava mesmo é de brincar, minha avó criava galinhas no quintal, sempre no fim da tarde eu e minha irmã Lúcia nos lambuzavamos na valeta para encontrar gogos e minhocas para alimentar as galinhas, os gogos eram os maridos das minhocas..... Eram minhocas maiores e mais gordas..... Pegamos com a mão mesmo, enchiamos uma latinha de massa de tomate e ficávamos super felizes de ver as galinhas brigando para ver quem comeria o melhor pedaço.... Era muito legal, além disso minha avó dava quirela e restos de arros para as galinhas, legal mesmo era quando elas estavam botando, há e os pintinhos eu amava... Eram sempre tão bonitinhos, e iam crescendo, alguns mudavam de cor outros não, mas triste mesmo era quando minha avó resolvia matar a galinha.... O antigo "pintinho" para comer, aí começava a guerra.... Eu chorava tanto e dona Rosa ficava brava porque a galinha mesmo com o pescoço pendurado não morria..... E ela dizia:
"Sinhá besta, pare com essa choradeira, engole o choro menina, as criação é pra comer, depois você chora por que não tem mistura..... "
Eu chorava mais um pouco e esquecia, só chorava de novo quando minha irmã Lú me lembrava que eu tava comendo a Marlúci.... Sim tinha nome, todas as galinhas tinham nome.
Quando chegava a noitinha as 18hs mais ou menos, juntava uma ruma de criança no quintal que era enorme, todo de barro pisado, tinha duas árvores bem grande aonde faziamos balança, um bocado de plantação da minha avó, umas ervas pra fazer chá, como folhas de ortela e sabugueiro a criançada fazia festa pra brincar, eu tinha uma amiga chamada Gislene, filha da dona Célia que tinha um monte de netos, éramos como irmãos, brincávamos de mana mula, esconde esconde, stop, mamãe da rua, taco, marreta.... meu Deus como eu era feliz, a dona Célia também criava galinhas, as vezes ela ia lá em casa ver se alguma criação dela não tinha fugido, e ficava um tempão papeando com a minha avó.
Eu adorava mesmo era de soltar pipa com os moleques, mas eu ficava muito triste quando eles me chamavam de Maria homem, eu era a única menina que soltava pipa, jogava bolinha de gude e saia na porrada com os moleques.... Triste de doer, tinha juízo não.... Um dia meu pipa enrosco lá no telhado do seu Eudes, e é claro... subi o barranco de quatro pra desenroscar, estava difícil, tinha chovido no dia anterior, escorregando a bessa, quando vi, meu chinelo quebrou e eu segurei em uma madeira, um pedaço de pau roliço e longo que eu vi, o que eu NÃO vi era que o pedaço de pau estava escorando o telhado do seu Eudes, uma varanda enorme... tinha uns 10 metros de telhado brasilitti, que foi ao chão de fora a fora quando eu me segurei nele..... Foi uma barulheira enorme, só telha desabando de fora a fora, em mim não fez um risco, eu corri igual o papa léguas, cheguei em casa com o coração na boca, fui para o oitão, era assim que chamava o fundo das casas, e fiquei lá umas duas horas até que, ouvi um grito conhecido:
"Oh Mooooooonica, cadê tu sinhá besta!!!!".
Pensei logo, meu Deus é a vovó, ela descobriu que eu quebrei o telhado do vizinho, ela vai me matar, tenho que me esconder, olhei para um lado, olhei pra o outro e não achei aonde me enfiar até que.... Tinha a caixa de água de mil litros de casa, era a água que minha avó cozinhava, lavava roupa, coava café....
Lá vinha a minha vó com um pedaço de pau de vassoura..... Meu Deus agora é meu fim.... TIBUM!!!!!
empurrei a tampa da caixa e entrei dentro, fiquei ali debaixo daquela água congelante, só com o biquinho do lábio tentando respirar pela fresta, o duro é que eu boiava, não tinha peso pra afundar, mas.... Ainda estava respirando e espiando minha vó me procurar....
" Onde entrou essa infame... Uma hora eu acho ela."
Eu não sei se tremia mais de frio ou de medo..... A vovó ia me pegar de jeito.
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O Cliente
Teen FictionAs possibilidades dos dias atuais nos oferece facilidade de conforto e prazer, de luxo e beleza, o que nos leva à acreditar que obteremos a conquista do sucesso. Contudo, todo progresso só é positivo quando inclui em suas metas o sucesso que foi co...