Interlúdio I - A criação de Erys

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Das estrelas nós viemos, e para elas retornaremos. Assim diz Ruvé, Pai de Todos. A mim foram revelados os segredos da criação, a rotina dos deuses, e as histórias imemoriais, a fim de espalhar a palavra sagrada entre os homens. Ouçam então a voz de Ruvé, o Antigo, e deleitem-se com sua infinita sabedoria.

Antes das coisas serem havia o Vazio. Lá o Tempo não corria e a Vida não florescia. E no Vazio surgiu o Lago da Criação, e suas águas continham a essência de tudo. E do Lago emergiram os três primeiros deuses, chamados de os Grande Antigos.

A primeira a emergir foi Asun, Senhora da Eternidade, Mãe das Melodias. De sua boca ela soprou o Tempo. O segundo a emergir foi Feiten, Senhor do Destino, Pai da Poesia. Ele fitou as águas do Lago por cento e oito dias e cento e oito noites, e viu o Princípio e o Fim, Criação e Destruição, Vida e Morte. E Feiten registrou todas as coisas no Livro do Destino, mas o que viu lhe custou o olho esquerdo.

E o terceiro a emergir foi Shuv, Senhor do Caos, Pai da Vida. Ele amou sua irmã Asun e a presenteou com a Flauta da Criação, moldada a partir da lama do fundo Lago e de seu próprio sangue. E Asun tocou a Flauta, e com sua melodia moldou as estrelas ancestrais a partir das águas do Lago. E o que viu foi belo e magnífico. E o que viu ficou marcado em sua retina, para todo o sempre.

Mas Asun amava Feiten, e com ele se juntou. Shuv, desolado, abandonou o Reino dos Deuses. E por onde ele passava, a vida florescia, pois o Caos perturbava o Vazio. Asun construiu a Torre Eterna e lá colocou a Roda do Tempo. Feiten construiu o Palácio Divino, a morada dos deuses. E Asun e Feiten tiveram quatro filhos, chamados de os Antigos.

O primeiro foi Ruvé, Senhor da Magia, Pai de Todos. Feiten disse: "Este é meu primogênito, e dele será o Trono Divino, e ele reinará sobre todos com soberania". Depois veio Jany, Senhora da Inspiração, Mãe de Todos. Ela cultivou os Jardins Sublimes, e entoou cânticos sagrados. Feiten disse: "Esta é minha filha, que está destinada a chorar pelo sétimo filho, e pintar a obra mais bela de todas". E Jany tornou-se pintora.

O terceiro foi Sonvy, Senhor da Justiça, Guardião da Roda do Tempo. Feiten o presenteou com a Alvorada, a espada feita de estrelas mortas, e disse: "Este é um grande guerreiro, que defenderá este reino quando a perdição recair sobre os deuses". O quarto foi Myshá, Senhor da Desolação, Pai da Perdição. Ele invejou o irmão Sonvy, pois este tinha a Alvorada. E por isso Feiten o expulsou do Reino dos Deuses e disse: "Este traz o ódio em seu coração, e a maldade caminha ao seu lado".

E Ruvé tomou sua irmã Jany como esposa, e os dois tiveram sete filhos, chamados de os Sete Significantes. O primogênito foi Murg, Senhor do Fogo e do Trovão, Pai da Força. Feiten o presenteou com um Martelo capaz de esmagar estrelas.

Depois vieram as gêmeas: Lyshé, Senhora dos Sonhos, Mãe do Medo, e Synon, Senhora da Mente, Mãe das Ilusões. Feiten presenteou sua neta Lyshé com um Pingente contendo seu olho esquerdo, o Olho que Tudo Vê. Asun presenteou sua neta Synon com uma Chave capaz de abrir os segredos da mente.

O quarto foi Nuban, Senhor dos Ventos e das Tempestades, Pai da Cura. Feiten o presenteou com um Tridente, capaz de controlar a fúria da natureza. A quinta foi Kapry, Senhora da Ordem, Mãe da Soberania. Asun a presenteou com um Báculo, capaz de evocar o caos. A sexta foi Seleny, Senhora dos Desejos, Mãe das Tentações. Asun a presenteou com um Colar, que contém todos desejos e sentimentos possíveis.

E veio o caçula Jhoel, o Deus que Morreu. Jany chorou a morte de Jhoel por sete dias e sete noites. Asun tocou a Flauta da Criação e das lágrimas de sua filha emergiu Kanoy, Senhor da Morte, Pai do Silêncio. E Asun amou Kanoy como jamais amou seus outros netos, e com um sopro, lhe concedeu parte de sua essência. E Asun presenteou Kanoy com uma Foice capaz de ceifar o espírito.

E Asun e Feiten deixaram o Reino dos Deuses para viajar pelas estrelas. Ruvé assumiu o posto de seu pai, e do Trono Divino reinou sobre os deuses.

E eis que após seu luto, Jany se trancou em seu quarto, e por cento e oito dias e cento e oito noites, pintou um gigantesco afresco, fruto máximo de sua imaginação. E Ruvé, ao contemplar a obra de sua irmã, maravilhou-se e chorou ante tamanha beleza. Com sua magia, usou estrelas mortas para dar vida ao afresco, e ele viu que era bom.

E Jany nomeou sua obra de Erys, e pintou os homens à imagem e semelhança dos deuses.

Excerto do "Livro de Ruvé" in Escrituras Sagradas. (Versão Branca). Editora Esplendor, Lys, 2410 E.L. 19ª ed.

(Livro Público nível 4)

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