Prólogo

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Olhei uma última vez pra paisagem de árvores á minha frente, eu gostava de vir para esse parque toda vez que precisava pensar. Mas estava um pouco cansada de ficar aqui sozinha, voltaria pra casa sem pressa pra perder mais um tempinho.

Eu estava precisando de um tempo sozinha, todos sabemos que a adolescência não é uma fase fácil. É tudo muito confuso, novo e intenso. Os sentimentos descontrolados, a ansiedade pelo que está por vir. Eu só tinha 17 anos e sentia como se tivesse problemas acumulados por um século (drama, talvez. Nem eram tantos problemas assim, olhando desse ângulo que estou agora -o de narradora- mas como já disse, é o sentir de uma maneira mais intensa). Tanta pressão, tantas expectativas, o sufoco era inevitável.

Eu não aguentava viver mais nenhum dia.

Talvez possamos regredir um pouco a história, só pra terem uma base das coisas marcantes que me aconteceram e me afetam até hoje. E tudo começa com aquele clichê: o bullying.

Quando eu era criança, eu não era nem um pouco bonita. Era acima do peso, tinha dentes tortos, olhos grandes e um nariz que não era dos mais formosos. Sempre fui rejeitada por todos. E isso fez bem pra mim na escola, pois era só eu e os estudos. Eu era a garota mais inteligente da sala, dizia uma professora.

As coisas mudaram um pouco quando Vanessa se mudou pra mesma rua e escola que eu. Ela também não era jeitosa, muito magra e tinha traços rudes pra um rosto fino como o dela. Embora eu sempre tivesse a achado bonita, uma beleza singular. Ninguém queria falar com ela também, ela se sentava no canto oposto ao meu na sala -eu sentava na primeira carteira da última fileira, e ela na última carteira da primeira fileira.

Certo dia a professora resolveu Passar um trabalho em dupla, os amigos se escolheram e eu como sempre fiquei sozinha. Mas havia Vanessa no fundo da sala que também não tinha par. A professora praticamente nos obrigou a fazer o trabalho juntas, nenhuma de nós queríamos isso. Mas isso tudo resultou numa amizade duradoura.

Apesar de passar a ter uma amiga, a rejeição das pessoas a nossa volta não mudou; estava só cada vez pior. Éramos crianças, então toda vez que eu reclamava minha mãe dizia que eu não entendia essas coisas, que meus colegas de escola estavam apenas brincando. Ninguém nunca fez algo a respeito, nem quando fui praticamente linchada quando estava na quinta série. Eu era literalmente o saco de pancada de todo mundo. Isso mudou um pouco quando acabei quebrando o nariz de uma das pessoas que mexiam comigo.

Nessa -como eu gostava de apelidá-la- teve muita paciência comigo, por consequência de tudo, eu quase fui diagnosticada como "autista", eu simplesmente ficava quieta por dias, sem emitir um som, as vezes me trancava no meu mundinho e simplesmente não escutava as pessoas que estavam do lado de fora. Eu fazia isso com Nessa também, mas enquanto estivemos juntas ela não parou de tentar, o que me fez ter um carinho por ela até hoje.

Quando entrei na sétima série, mudei de sala, me separando de Vanessa. As coisas pareceram mudar um pouco, eu tinha 13 anos e continuava não sendo o tipo de menina que era considerada bonita, mas por uma ironia, uma das garotas mais bonitas e legais da escola virou minha amiga; Dinah Jane. Ela caiu na mesma sala que eu, no finzinho do ano letivo.

Dinah e eu nos falamos só na última semana de aula, haviam poucas pessoas na sala aquele dia, eu não gostava que ouvissem minha voz, aliás, eu acho que ninguém naquela sala já tinha escutado. E como a garota sentada á minha frente parecia entretida demais em sua leitura, eu comecei a cantarolar baixinho uma música boba que estava na minha cabeça. O susto foi quando a garota virou pra mim, cantando junto.

-Você também gosta de rebeldes? -Disse ela toda empolgada, sorrindo. Eu acho que ela quase riu da minha cara de desespero.

-Uhum. -Eu disse quase entrando em pânico.

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