Capítulo dois: Never Let Me Go

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"I remember when I saw you for the first time
You were laughing, sparking like a new dime
I came over like "Hello, can you be mine?"."

-Eu acho que vai entrar um professor novo no lugar da outra. -Disse Michelly, uma de minhas amigas.

-Sério? Que bom. -Eu disse.

-Estava todo mundo reclamando da professora antiga. Imaginei que ela ia sair, mas não que seria tão rapido. -Disse Annie.

-Deu a hora, vamos? -Michelly disse andando em direção à sala, Annie á seguiu e eu fui atrás, distraída com minha música.

Em meu fone tocava "Never Let Me Go" da Lana Del Rey, as músicas animadas dela tinham virado meu novo vício.

Se aproximando da porta, pude ver uma pessoa diferente ali parada. Diminui meu passo pra poder prestar mais atenção naquela pessoa que não era muito alta, talvez mais baixa que eu, tinha cabelos longos e escuros como seus olhos, que assim que encontraram os meus, me mediram de maneira discreta, acompanhado por um sorriso indecifrável  (que com o tempo eu percebi que só ela sabe dar). Estava em uma conversa com a coordenadora, então deu risada de algo que ela falou antes de olhar pra mim de novo. Parecia mais radiante que a Lua ao anoitecer, eu estava hipnotizada.

"I remember when I saw you for the first time
You were laughing, sparking like a new dime
I came over like "Hello, can you be mine?"." 
( Eu me lembro de quando te vi pela primeira vez,
   Você estava rindo, brilhando como uma moeda nova.
   Eu cheguei tipo "Você pode ser meu?")

Me lembro de me sentir vivenciando uma cena narrada, pois a música dizia ao mesmo tempo as coisas que eu estava pensando.

Lembro também que estava se apoiando com o cotovelo na parede, bem próximo á porta. Foi inevitável entrar na sala sem sentir o cheiro de seu perfume.

Entrei e me sentei no lugar de sempre, eu queria saber se essa tensão toda entre a gente aconteceu só na minha cabeça, mas que eu senti algo que eu nunca havia sentido antes, é um fato.

-Good moorning, guys! -Pela primeira vez ouvi sua voz em um ambiente em que nada atrapalhasse o som. Caramba! Era algo tão doce e sexy ao mesmo tempo.

A sala -quase inteira- respondeu com o mesmo "Bom dia".

-Eu me chamo Camila, vou ser a nova teacher de vocês a partir de agora... -Disse, provavelmente tudo em inglês.

Eu juro que não prestei atenção em nada que ela disse porque estava completamente perdida reparando em seus detalhes.

Seus dois piercings embaixo dos lábios  (como duas bolinhas pretas, uma em cada lado) e sua mania de ficar mexendo eles era uma coisa gostosa de se assistir. Vestia uma camiseta cinza simples, uma calça social preta e sapatos sociais. Mas dava pra ver que aquele não era seu estilo, podia jurar que se vestia como as pessoas que me chamam a atenção, aqueles crushs de ônibus/rolê que são bonitos mas a gente só vê uma vez. Também tinha uma tatuagem em seu braço esquerdo, duas, na verdade. Mas a que mais me chamou atenção foi a da marca negra, perto de seu pulso. Além de tudo gostava de Harry Potter. Que botão que eu aperto pra casar?

Trocamos vários olhares durante a aula, eu insistia em ser trouxa e pensar que aquele sorrisinho indecifrável era especialmente pra mim. Nosso primeiro diálogo foi quando elogiou minha aparência.

-Nice dress. You look so good. -"Vestido legal, você está muito bonita". Eu perdi as falas naquela hora, mal lembrava direito o português, então nem consegui dar uma resposta decente. Eu só ri de nervoso e respondi com um "obrigada". Algo nela me deixava tão nervosa que eu nunca conseguia responder as perguntas devidamente.

Eu tinha um machucado feio no pulso, dois dias antes eu tinha tentado dar banho na minha gata e ela acabou fazendo um estrago em mim. Nosso segundo diálogo foi sobre isso. Ela me perguntou se eu tinha me machucado, mas eu entendi sua pergunta como se estivesse pensando que eu me mutilava. É claro que na hora de responder eu esqueci até como se falava "gato" em inglês e provavelmente dei alguma resposta sem sentido. (Pânico social tem dessas)

No intervalo, as especulações das minhas amigas foram engraçadas.

-Amiga, que chuchuzinho é esse. -Disse Michelly.

- Nossa, muito melhor que a outra professora. -Annie disse.

-Você viu? Toda dando ideia em você. Sei não ein.

-Não viaja, Michelly. Mas que as definições de crush foram atualizadas, isso eu não vou negar. -Eu disse.

-Quantos anos será que ela tem? -Annie perguntou.

-Acho que tem uns 30.

-Você é doida, Michelly. Não deve ter tudo isso não. -Eu disse.

-Não sei, ela passa essa impressão de ser madura. Eu daria até uns 35. Mas tomara que não né, você tem só 17.

-Mas é como diria a Lana né, I like older man. -Eu disse.

-Você tem a maior cara de novinha, então ou a gente tá sonhando e ela não tá dando ideia em você, ou ela é bem mais nova do que estamos pensando. -Annie disse.

-Não sei. Parece até que tem casa própria, já foi casada e tem um filho. -Michelly disse e nós rimos

-Ta na Disney, Michelly. -Eu disse.

-Deve ser a roupa, agora estou muito curiosa!

Foi o intervalo inteiro discutindo sobre a idade da nova professora, eu não achava que ela era tão velha. Estava torcendo pra que não passasse dos 25... Como se fizesse alguma diferença, já que eu já tinha um namorado.

A aula passou mais rápido do que eu desejava, e eu sabia que tinha um incentivo pra voltar na semana que vem. Logo eu que fui para a escola naquele sábado considerando dar um fim em tudo e não voltar pra casa.

E ainda tinha esse detalhe... Eu estava voltando no ônibus, pensando no que eu faria pra evitar ter que ficar com as pessoas que viriam pro meu aniversário. Eu só queria ficar sozinha.

Pra minha alegria, Dinah chegou bem cedo em casa, ela me distraiu totalmente dos pensamentos ruins, logo Ally também chegou. Keana veio por último com Joseph e Eduardo, já que eles moravam longe.

Dinah estava empolgada me contando sobre seu novo amor, não conversávamos há muito tempo. (Eu até cometi uma gafe perguntando de sua ex, quando na verdade ela já estava em outra). Ver Dinah falando com tanto carinho de sua amada me fazia feliz, feliz por vê-la feliz. Dinah merecia isso, e eu mais que nunca torci pra que tudo desse certo.

Joseph estava estranho comigo, pra não variar. Falou comigo poucas vezes e fingimos estar bem para os outros, naquele dia não conversamos sobre o que estava acontecendo.

No final de toda festa, Dinah sempre pegava meu violão e tocava algumas músicas pra nós, parte delas até de sua própria autoria. E nesse aniversário não podia ser diferente. Quando terminamos, Keana e os garotos foram embora, seguidos por Ally que foi quando seu namorado a buscou. Fiquei muito grata de Dinah ter ficado pra dormir em casa, eu estava me sentindo frágil e sozinha.

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