— Tudo vai ficar bem. – Isso foi tudo o que ele falou. João se aproximou e a abraçou. — O que quer fazer?
— O primeiro com quem temos que lidar é o Lucas, mas sinceramente, estou com medo. – Ela botou o rosto entre as mãos.
João era um homem alto, com barba por fazer, olhos claros e cabelos cacheados bem curtos. Vestia uma jaqueta de couro preta, uma camisa do ramones e uma calça jeans surrada, assim como uma bota preta. Mesmo dizendo suas características físicas tudo isso é apenas uma casca. Fora casado por treze anos até que se tornou viúvo em um acidente de carro, seu filho e ele foram os sobreviventes em um carro com seis pessoas. Havia se tornado Investigador Forense há apenas alguns anos, após extensos doutorados e graduações ao redor do país.
— Não tem problema, nós vamos contornar essa situação. Lucas tem que ter uma fonte, já pensou em ir lá no chalé? – indagou.
A regata que Helena botara hoje já desagradava o toque de sua pele que suou o dia inteiro, as marcas de expressões nunca estiveram tão presentes em seu rosto diante de toda essa preocupação. Sua mente dava volta em porquê Lucas faria isso, ou melhor, a mando de quem, e para que. Talvez Jason poderia dar uma luz, pensou, ele sempre foi o lado criativo. Ela riu, limpou o rosto e levantou-se para pegar qualquer bebida que visse pela frente.
— Não gostou da sugestão? – ele pareceu desapontado.
— Não... É que... – seu rosto nublou-se. Ela abriu a despensa e pegou um uísque de seu marido, nem havia sido aberto. Só falou após que colocou o gelo, uma generosa dose de uísque e um generoso gole. — João, vou ter que ser sincera. Mesmo você estando aqui, do meu lado. – Sua voz começou a embargar com o choro, mas ela o engoliu e engrossou a voz. — Mesmo com você aqui do meu lado, ainda só penso como meu marido pode me ajudar.
Ele respirou profundamente com os olhos fechados, aquele golpe fora forte, mas tudo bem, ele sabia sua parcela de culpa nisso tudo. Os dois haviam se conhecido em um restaurante em Gramados, que por coincidência também fora o local onde conhecera seu marido. Ela levou os relacionamentos até o ponto limite, onde teria que escolher um dos dois. Ela queria mais que tudo ficar com João, e ele sabia disso e desperdiçou a chance.
Lembrou-se do dia em que se despediram pela ultima vez, para se reencontrarem dez anos depois. Os dias molhados de novembro trazem nele a sensação de perca, assim como no dia que deixou a única pessoa que o amava ir embora nas mãos de outro homem.
— Me desculpe. – ela disse ao ver sua cara. — Eu não quero te magoar João... Mas se tudo der errado nessa história... Provavelmente eu irei embora com Jason para o interior, criar nossa filha.
— Filha? Como tem certeza?
— Um palpite.
— Tudo bem, sei que perdi minha chance anos atrás. Lembro-me da minha escolha. – ele juntou toda sua autopiedade em uma longa inspirada e foi-se embora do apartamento deixando-a sozinha.
Ela estava sozinha. Como sempre estivera em boa parte de sua vida, era uma garota crescida, sabia se cuidar. Mas ela não teria tempo pra esperar. Deu um último super gole no seu copo de uísque e foi tomar banho. Sua mente fervia em quem poderia lhe ajudar a descobrir quem poderia lhe dar uma lista mais detalhada de funcionários. Não havia ignorado João, apenas absorvera o pensamento e estivera trabalhando ele até agora.
Quando saiu do banheiro, viu que Jason já havia chegado, fora sua distração que não o ouvira chegar? De toda forma encontrou seu marido sentado na cama, com sua roupa social amarrotada após um dia cansativo. Seus cabelos castanho claros estavam colados em sua cabeça pelo suor, tinha barba por fazer.
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Sete mundos de Mariana
ActionMe vi sozinha envolta pelas sombras daquela floresta. Estava com frio, fome e medo. Então uma fraca explosão aconteceu, e no final daquele caminho escuro eu vi um pequeno ponto branco, e a cada passo que eu dava a seu encontro, me fazia melhor. ...