Capítulo 1 - Girl on Fire

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 "[...] Todos se levantam quando ela passa
Porque podem ver a chama em seus olhos
Observe-a enquanto ela acende a noite
Ninguém sabe que ela é solitária
E é um mundo solitário
Mas ela vai deixar queimar, baby [...]" 

(Alicia Keys)


Aquela segunda-feira começou como todas as outras começam: ao som do meu despertador às exatas cinco e quarenta da manhã. Após minha higiene pessoal, desci até a cozinha, onde preparei ovos mexidos e um café, o qual observei se misturar ao leite dentro da caneca mixer que ganhei da minha filha. A mistura de cores dos dois líquidos era algo fascinante; como dois elementos tão distintos resultariam em algo tão maravilhoso? Ri de mim mesma ao pensar nessa analogia tão boba, mas não pude deixar de me lembrar do Rafael. Mesmo sendo tão diferentes, conseguimos gerar uma joia tão rara como a Malu. Uma pontada de saudade fez meu peito arder. Já fazia tempo, eu sei. Terminei meu café da manhã imersa em lembranças do Rafael; ele sempre dizia que eu me apegava muito as pessoas, talvez ele estivesse mesmo certo.

Desvencilhei-me dos pensamentos saudosos ao olhar no relógio. Já eram 06:30 e a Malu não havia acordado, será que ela tinha passado a noite na internet? Desse jeito, ia se atrasar para a escola. Em passos apressados e um tanto quanto duros, subi a escada e, ao entrar no quarto dela, me deparei com uma adolescente de 14 anos esticada na cama feito um sagui atropelado.

- Maria Luísa! Acorda! Vai se atrasar pra escola.

Recebi palavras inaudíveis como resposta. Dei uma leve sacudida no ombro dela e disse em tom perverso antes de me afastar dela:

- Menos cinco reais de mesada.

Antes de passar pela soleira da porta ela retira a cabeça de debaixo do travesseiro e diz:

- Qual é mãe? Sacanagem descont...

- Esteja lá em baixo em vinte minutos ou vai perder a carona para a escola. - Nem deixo ela terminar.

Malu salta da cama correndo em direção ao banheiro e resmungando mais alguma coisa que não prestei atenção. Ao chegar na cozinha, agito um lanche rápido para a minha atrasilda: pão na chapa com um chocolate quente, o qual coloco na sua caneca térmica estampada por um fundo rosa e cabeças pandas felizes que ela ganhou no amigo oculto da escola do ano passado. Vou até a mesa da cozinha, pego minha bolsa e pasta de arquivos que eu estava trabalhando na noite passada, quando vejo minha prole descendo as escadas com a maior carranca que já vi na vida.

- Desci cinco minutos mais cedo do que você mandou, acho que mereço um real por cada minuto de adiantamento. - Diz ela ao me dar o primeiro sorriso do dia. - Bom dia, mãe.

Dou uma gargalhada, pego as chaves do carro e aponto para a cozinha.

- Não existe bonificação para quem chega adiantada depois de já estar atrasada. - Digo saindo pela porta da sala. Ela vem em minha direção com o lanche na mão e me dá um beijo no rosto.

-Você adiantou meu café da manhã! Poxa, obrigada, mãe; só por isso não vou cobrar os cinco reais da pontualidade.

Entramos no carro e, como todas as manhãs, vamos ouvindo rádio e conversando coisas aleatórias até a escola dela. Quando ela termina o lanche me dispara:

- E quando você arrumar um namorado, dona Ísis? - Ela percebe a tristeza no meu olhar. - Qual é mãe? Já faz seis anos que o papai morreu. Você precisa seguir sua vida.

- Eu gosto da minha vida do jeito que está. E além do mais, eu não tenho mais idade para namorar. - Eu disse tentando engolir seco minha viúves.

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⏰ Last updated: Nov 13, 2018 ⏰

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