III. MALDIÇÃO?

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Meu corpo é tomado pelo medo. Como assim "Tem certeza que você é você mesma?"? O que ela quer dizer com isso? Que pessoa em seu são estado de consciência perguntaria isso para alguém?
Olho para Cloe e vejo que ela também está assustada e não faz a mínima ideia do que está acontecendo.

-Vó, para com isso! O que você está fazendo? - Murmura.
-Estou fazendo meu dever. - Ziah responde com firmeza e sem tirar seus olhos dos meus e totalmente imóvel.

Neste momento penso em correr o mais rápido que posso. Quero chegar até o carro, ligar e ir para minha casa. Não deveria ter saído da minha cama hoje.

-Vó, Para! Você está deixando-a assustada. - Cloe caminha até meu lado e fixa o olhar na avó.
-Você em breve vai entender, garota. - Ziah dirige a palavra a mim, soltando a minha mão direita, que a essa altura já está dolorida, mas continua fixa em meus olhos.
Ela me olha profundamente, como se conhecesse toda a minha vida.
-Do que a senhora está falando? - Deixo a cachoeira de dúvidas escapar de meus lábios.
A avó continua calada, imóvel em minha frente. Cloe me puxa pelo braço, de alguma forma me dando um escape do ambiente.
-Vamos Jacie! Não deveria ter trazido você aqui.

Caminho com Cloe rumo a porta, mas dou uma olhada para trás procurando entender o que ouvi de uma pessoa que acabei de conhecer. A porta é aberta e Cloe, ao sair, pede para que eu espere um pouco enquanto volta e fala alguma coisa para sua avó, cujo a porta fechada em minha frente me impede de ouvir. Estou em choque. Uma tempestade de confusão invade a minha mente.

Quando sai novamente da casa, começa a se desculpar pelo ocorrido.
-Deve ser a idade. Ela já está com a idade avançada, então...-fala caminhando comigo até o carro e gesticula com as mãos. Procura de alguma forma fazer com que o meu trauma seja amenizado.

-Ei, mas ela não parece velha. É aparentemente nova, muito saudável e forte. Eu só fiquei confusa sobre o jeito que me tratou, mas enfim... Você vai pra casa agora? - O que eu mais quero é esquecer o que aconteceu, mas acho que isso vai ficar martelando na minha cabeça durante toda a noite.
Cloe afirma que vai ficar com a avó. Novamente suplica desculpas pelo ocorrido e em seguida pede o meu número de telefone. Passo o contato e logo depois nos despedimos.

Entro no carro e, ao colocar o cinto de segurança, Cloe berra dizendo que me ligaria mais tarde. Acena, e eu retribuo com um sorriso pouco desajeitado. Ligo o carro e sigo em direção ao meu aconchego. Em nenhum momento a pergunta que a avó de Cloe me fez sai da minha cabeça. Passo metade do percurso lembrando e relembrando o ocorrido e me perguntando o porquê daquela pergunta.
Decido me distrair, então coloco uma música o mais alto possível no carro com todas as janelas fechadas, só assim posso cantar e esquecer pelo menos por um momento toda aquela confusão em minha cabeça. Chandelier-Sia. Amo essa música.

Estaciono o carro, pego o lindo buquê e entro no elevador. Penso no que tia Diana iria falar ao me ver chegando com o presente. Sam hoje pela manhã me contou que minha tia lhe falara que eu estaria indo, possivelmente aquele horário, para Future School. Agora eu entendo toda aquela pressa para que eu fosse logo.

O elevador se abre. Enquanto vou em direção a porta, me deparo com Carlete; a velha vizinha fofoqueira do prédio. Quem não tem um vizinho atingido pela maldição do olho que tudo vê, não é mesmo? Ranço!
-Oi minha linda. Tem novidades? - Me cumprimenta com os olhos arregalados fitando o buquê com a maior falsidade do mundo. Eu não consigo disfarçar o meu "não te tolero" e, antes mesmo que eu pense, já tinha revirado os olhos e falado:
-Não querida, não tenho. Mesmo se tivesse, com certeza não lhe contaria. - Ela vai abrindo a boca pra falar alguma coisa e eu a interrompo - por causa da sua língua. Beijos e até mais... - Ajeito minha mochila e me retiro desfilando.
A rainha da fofoca resmunga alguma coisa atrás de mim, mas não dou atenção.

Finalmente cheguei em meu lar. A única coisa que penso é em chegar logo no quarto, tomar um belo banho e deitar para assistir as séries separadas na minha lista de favoritos. Vejo tia Diana descendo as escadas e vindo em minha direção. Ela foca no buquê, coloca aquele sorriso no rosto e diz:
-Ui! Bem que a titia avisou né? - Gargalha.

-Ah Tia... Ele me falou que foi você quem contou que eu estaria indo para a escola naquela hora. - Gesticulo e sorri enquanto preparo um jarro com água para colocar as rosas.

-Ele me ligou ontem, disse que estava aqui em BrooverHill. Queria muito te ver e eu falei que não estava muito bem. Você só saia do quarto pra se alimentar... isso quando você saia. - pelo seu olhar, já percebi que também estava mau por me ver daquela forma. Queria apenas ajudar, e ajudou.
-Tudo bem tia, eu entendo, e obrigada. - digo comovida comprimindo os lábios e me encostando em um armário.

-Mas me diga, como foi a aula? - ela volta a sorrir enquanto usa um pano na mesa.
Conto para ela sobre o professor Archie, o que soube sobre ele e também sobre os alunos. Converso com ela e desabafo sobre o ocorrido na casa da avó de Cloe. Percebo que ela me olha de uma forma estranha quando digo a grande pergunta que a vovozinha nada velha me fez.

-Percebi que quando eu pisei do portão para dentro, parecia tudo muito calado. Parecia não haver vida no terreno, mas quando ultrapassei a linha do portão para fora, os pássaros cantavam normalmente. Tipo... era muito estranho. Parecia que do portão para dentro não tinha vida, embora os pássaros estavam por perto nas árvores da rua, mas eu não escutava o canto deles quando entrava. Entende? - gesticulo com as mãos enquanto converso sobre o fato.

Não tem coisa melhor que desabafar tudo o que a mente acomula. É como se uma carga com um peso quase irresistível fosse lançada ao chão.

Ela me olha, cruza os braços e separa um pouco as pernas de forma engraçada. Antes mesmo de eu dar uma risada de seu jeito, percebo que o clima mudou. Ela não parece muito agradável agora. O que será que aconteceu? Será que falei besteira?
-Quero que você me explique uma coisa mocinha... - seu semblante e sua voz se transformam em um tom repreensivo. Ela está brava.
-O que? Aconteceu alguma coisa? - pergunto sem fazer ideia do que ela estava falando.
Ela continua parada, desce o olhar pelo meu corpo como se estivesse vasculhando-o com os olhares.
-Tia, o que foi? - pergunto abrindo as mãos. -É sobre a avó da Cloe?

Tia Diana finalmente parece abrir a boca para falar alguma coisa e explicar o motivo da quase repreensão.
-Quer dizer que você agora deu pra fazer tatuagem no braço? - berra de repente. -Você acha certo isso Jacie?

Fico espantada com aquela situação.
-Como assim? Que tatuagem? Do que você está falando? - pergunto enquanto procuro em meu corpo.
Eu não fiz nenhuma tatuagem. Sinceramente, não sei do que ela está falando.
Ela imediatamente vem em minha direção e ergue meu braço direito revelando algo aparentemente simbólico; aparenta ser o desenho de quatro montanhas. Alguma palavra está escrita embaixo, mas eu não entendo porque está em outra linguagem. Seu olhar me pede uma explicação, cujo não posso dar. Estou em choque. Como explicar uma coisa que não fiz? Como explicar uma obra cujo não sou autora?
Nunca vi tia Diana tão brava assim, e o pior é que nem sei como isso veio parar em minha pele.

Olho para ela sem saber o que dizer. Na verdade não tenho o que dizer. Meu coração acelera outra vez.
-Eu não fiz isso, eu juro. Nem sei como veio parar aqui. - quase grito tentando explicar o fato de que não sou culpada de um símbolo simplesmente aparecer em minha mão.
-Espera aí... Não foi você quem fez? - ela me olha com espanto e pergunta como se estivesse compreendendo alguma coisa.
-Você jura que não foi você quem fez isso, Jacie? - berra e suas mãos tremem.
Digo outra vez quase implorando para que ela entenda.
-EU NÃO FIZ ISSO. MEU DEUS! COMO ISSO VEIO PARAR NO MEU BRAÇO? - olho para o braço e passo a mão com o máximo de forças que consigo.

A coisa não sai. Nem mesmo a cor negra fica mais clara. Parece realmente ser uma tatuagem e eu já estou desesperada. O que é isso?

Sinto como se um balde de água gelada fosse jogado em mim quando tia Diana com seu olhar profundamente perplexo e quase sussurrando para si mesma diz:
-Não pode ser! A maldição... - leva as mãos até a cabeça, revira os olhos lagrimejados e cai no chão desmaiada.

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⏰ Última atualização: Nov 16, 2018 ⏰

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