3- Jennie, a drogada

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Penúltimo capítulo

  Eu não era uma amiga muito íntima da Jennie, mas depois daquele abraço que tivemos começamos a nos encontrar sempre na sorveteria próximo à escola, independente do momento um sorvete sempre melhorava o nosso humor e era algo para nos animar por todas as merdas que estavam acontecendo, mas com o tempo percebi que apenas o sorvete não saciava os desejos da morena.

  O rosto dela passou a ter uma aparência diferente, parecia que sempre estava cansada e em todo momento ela estava rindo - mesmo que nada engraçado estivesse acontecendo.

  E mais uma vez alguém gritava por ajuda e eu ali sempre escutando e me torturando com os gritos, ela precisava de ajuda e eu queria ajuda-la, mas o medo de não ser aceita era maior, a vergonha sempre me vencia e sempre irá me vencer, mas não quero falar sobre mim, pelo menos não agora, que uma outra hora? Hum?

  Jennie nunca foi de usar roupas alegres e caras, mas agora ela passou a usar sempre a mesma roupa, uma calça jeans surrada, uma blusa de moletom larga e uma touca preta que nunca saía de sua cabeça. Talvez isso não faça diferença para vocês, mas algo está errado e eu percebo isso. Antes ela sempre se arrumava, estava sempre radiante, cabelo arrumado com algumas prisilhas, cada dia uma roupa diferente e por onde ela passasse seu perfume ficava pelo ar, mesmo que ela não estivesse mais ali.

  Queria falar com ela, mas nunca me dava atenção na escola, dizia estar com vontade de ir ao banheiro e nunca voltava. Tentei ligar, mas em todas as vezes dava caixa postal.

  Dois meses se passaram e agora nem as aulas ela comparecia, a sua ausência estava me aguniando e parecia que suas "amigas" nem se importavam se você estava ou não ao lado delas.

  Mais dois meses se passarame agora seu nome não era mais dito na chamada. Perguntei o porquê daquilo e o professor respondeu que ela não havia sido informado de nada. Fui até a diretoria, perguntei ao diretor se ele poderia me contar o que havia acontecido contigo e ele disse que não pode dizer aos alunos informações pessoais de outros.

  Resolvi ir até a sua casa, bati na porta e sua mãe me atendeu, ela parecia ter mais angústia do que eu, lágrimas no rosto e o telefone em uma das mãos, na outra havia um papel com uma lista de números telefônicos, em poucos segundos o toque de meu celular apareceu, peguei-o rapidamente pensando ser você quem ligava, atendi a ligação e disse um alô, sua mãe desligou o telefone e em seguida ouvi um "pii" sair do meu, era sua mãe me ligando e não você.

  -Senhora Kim, você sabe onde Jennie está?

  Pergunta tola de se fazer, eu já sei o por que dela ter me ligado, ela está te procurando, será que você ainda não percebeu que sua presença nossa faz falta?

  Tua mãe me puxou para um abraço tão apertado que estava me sufocando, caralho Jennie, onde você está?

  Depois de muitos minutos sua mãe me soltou daquele abraço porque estavam ligando para ela. Percebi um pouco de esperança em seus olhar quando atendeu a ligação e de repente a dúvida percorreu a sua face, em seguida uma lágrima, mas não era uma lágrima de tristeza, não era mesmo, aquela era uma lágrima de "por favor, aperte a minha mão e diga que tudo ficará bem".

  Eu apertei a mão dela, e eu disse que tudo ficaria bem, ela assentiu e deu um sorriso de esperança.

  -Venha comigo.

Ela disse, pegou seu casaco e me puxou em direção ao carro. Entrei e me sentei no banco ao lado do dela. Ela girou a chave e colocou o cinto, deu a ré e quando já estava com o automóvel posicionado para partir, ela deu o arranque e acelerou como se sua vida dependesse daquilo.

[…]

  -Não, ela não é minha filha.- A senhora Kim disse quando chegamos na delegacia e uma garota(ou garoto) estava do outro lado daquele vidro.

  -O nome dela é Jennie Kim, ela deve ser sua filha, encontramos ela vendendo drogas em um beco escuro, parece que não toma banho há meses e sofreu perda de cabelo. A aparência pode não ser a mesma de antes, eu sei, mas ela é a sua filha, tenho certeza.

  Olhar aquela cena era demais para mim, Jennie mudou pra caramba e talvez tudo isso seja culpa minha, eu sei que aquela é a Jennie e o pior de tudo é a Senhora Kim não a reconhecendo, talvez tudo isso seja minha culpa, aliás, sempre é minha culpa.

  A minha vontade era de quebrar aquele vidro e entrar naquela sala para abraçar Jennie, eu poderia ter ajudado, mas parece que o crack foi melhor do que eu.

  O aniversário de 18 anos dela foi mês passado, então se a Senhora Kim continuar dizendo que não conhece aquela garota, provavelmente ficará presa aqui nesse lugar. E assim aconteceu.

  A discussão entre a mulher e o policial acabou, ela disse para irmos e que aquela discussão não valia a pena. Eu sei que ela reconheceu a filha, o olhar dela está diferente, o jeito dela andar está diferente. A mulher está tentando mostrar superioridade para esconder o medo e a vergonha, ela não vai deixar ninguém saber do que acabamos de ver.

  Mais meses se passaram e um boato corria pela escola e pelos bairros ao redor, "Jennie morreu afogada na tentativa de aprender a nadar", que notícia ridícula, espero que ela não tenha ouvido isso, seria algo insuportável agora que não tem mais álcool perto de sí por estar naquela maldita prisão.

DificuldadesOnde histórias criam vida. Descubra agora