20-01-2018
"Ela é feita de sonhos
Cheia de cor pra mostrar
Vive de amor
Sem julgar
Ela é flor
Que nasce no campo
Livre pra voar
Não há limites
Apenas um mundo para explorar."Em alguns momentos nos encontramos perdidos em nós mesmos, sufocados e imersos dentro de um vazio sem fim. É como estar dentro de uma caixa sem saída, você tenta, mas tudo que faz é em vão. Você não entra por querer, você é empurrado por não aguentar mais estar do lado de fora, mas quando finalmente consegue entrar, o único desejo é sair dali, mas está tão invisível que ninguém além de si mesmo pode ajudar.
Sempre acreditei que sonhos existissem por algum motivo, não é apenas uma reflexão do que sentimos, mas do que não conseguimos enxergar. Nossos sonhos trazem para a superfície tudo aquilo que, querendo ou não, empurramos para baixo. Mesmo que de maneira distorcida, nós descobrimos nossos desejos e medos mais sombrios.
- Nahomi? Nahomi você está me ouvindo? - Minha tutora particular tentava chamar minha atenção.
- Sim, Sam, eu estou te ouvindo. - Dizia enquanto pegava meu casaco do cabideiro e o vestia sem trocar contato visual com a mulher que implorava por, pelo menos, minha tolerância.
- Você está realmente preparada pra voltar a estudar? Você não precisa fazer isso agora, você também pode fazer ensino a distância, se preferir. - Me questionava pela quarta vez consecutiva, ela não era a única que pensava assim.
- Samira, eu já me decidi, eu sou sim capaz de ter uma vida social, e pela última vez repito: É meu último ano e eu preciso encarar isso. Tenha um bom dia. - Eu pude então encarar seus olhos, mesmo que pela primeira vez no dia, e eles não pareciam convictos da minha decisão.
[...]
Tudo o que sentimos tem impacto em nossas vidas, eu diria que desde a primeira queda ao último suspiro de dor, não que isso seja importante no atual momento, no entanto, a emoção de encarar meus monstros cara a cara tem me deixado marcada.
Dizem que só achamos a luz quando buscamos, dizem que a viagem é mais importante do que a chegada, e lá estava eu mais uma vez buscando o real sentido dessas frases.
Em cada passo dado por mim, uma nova lembrança era resgatada, uma nova fase estava por vir e meu único desejo era me desprender de tudo aquilo pelo que passei.
Eu cheguei exatos 5 minutos antes da aula começar, me sentei na fileira do canto, na primeira carteira para que ninguém me incomodasse. O único som ao qual eu dava importância era o do atrito entre o lápis e a mesa nos fracos batuques que eu mesma fazia, mesmo havendo uma agitação fora do normal do lado de fora.
As pessoas estavam inquietas, mas o tumulto não havia acontecido apenas pelo fervor do primeiro dia de aula. Os adolescentes histéricos gritavam como loucos por um motivo fútil, mas um tanto quanto interessante; Na próxima semana haveria uma "Noite do relâmpago", e segundo fontes antigas, essa é a festa mais famosa do ano, concorrendo apenas com o baile trimestral que ocorria no próprio colégio. Eu não sou do tipo que implora por festas, porém quando elas aparecem eu não nego convite.- Eles estão animados além dos limites. - Uma voz suave ressoou ao meu lado. - A propósito, prazer. Meu nome é Aurora, e o seu?
- Nahomi. - Eu fui curta e isso a fez dar um passo para trás, no entanto, ela não era do tipo fácil.
- É seu primeiro dia aqui? Nunca vi você por aqui antes.
- Ah, na verdade sim. - Repondi com um breve sorriso, ela era gentil e o mínimo que poderia fazer era tornar disso algo recíproco.
Alguns instantes depois o professor adentrou na classe com toda a sua boca curvada em um sorriso marcante, cabelos cortados recentemente e olhar sereno. Ele parecia estar atento a cada movimento que os alunos faziam, eu estava tão perdida em meus pensamentos que nem mesmo havia percebido o quanto a turma estava cheia.
- Bom dia, turma. Meu nome é Marcos e eu sou o professor de química. - Sua voz era doce, mas sua postura permanecia firme enquanto caminhava por toda a sala. - Algumas aulas serão melhores que as outras, obviamente, mas farei o possível para que todos se sintam confortáveis com todo o conteúdo. Com o último ano vem também a pressão de todos aqueles vestibulares, mas tenham em mente que estou aqui não pra uma só prova, mas pra vida.
- Como se fôssemos usar química pra alguma merda. - Alguém gritou do fundo.
- Pois se pensa assim, não tem problema. Estude, passe no vestibular e siga sua vida se é o que quer. Estou aqui não só para aqueles que desejam aprender e saber cada vez mais, sou pago para ensinar os alienados também. - O professor retrucou em certo tom de humor e a sala ficou em completo silêncio. - Vamos lá, turma, passarei a programação de matérias do ano e, em seguida, a primeira matéria do ano. Animados?!
A aula correu bem, assim como os horários seguintes. Os professores não estavam tão afiados por ser o primeiro dia de aula, mas sabia que nas próximas semanas as coisas ficariam mais apertadas.
Aurora não me procurou mais, nem mesmo no intervalo que preferiu usar para se enturmar com pessoas mais comunicativas. Vez ou outra alguém me chamava para tirar alguma dúvida sobre a aula ou para perguntar as horas, já que estava sempre com o smartphone ligado, mas fora isso não tive uma conversa relativamente longa com alguém.
Cheguei em casa cansada, minha tutora me esperava para tentar me escutar e se fazer de psicóloga quanto ao meu primeiro dia de aula, mas estava exausta e tudo o que consegui fazer foi me trancar no quarto e rezar para que nada fosse interromper o meu momento de paz, mas não deu tão certo quanto desejava.- Naiah? - A voz da minha madrasta soou tensa do outro lado da porta. - Aquela garota está aqui outra vez, posso pedir para que ela suba?
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Immersion
Teen FictionNahomi sempre foi o tipo de garota determinada, feroz e preparada, mas alguns monstros destroem até os sentimentos de paz mais profundos de alguém. Com o tempo peças se encaixam, sonhos se realizam e amores vão embora, a única coisa que continua sem...