uma dose de coragem

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Estava tudo ensaiado na sua cabeça. Só precisava tomar fôlego (e um pouco de coragem) e falar. Simples e rápido. Mas por que uma declaração amorosa lhe parecia tão difícil?

Yukhei nunca foi uma pessoa particularmente eloquente. Não era como Taeyong, que fazia amizades até em fila de banco. Tampouco era fechado e carrancudo como Mark, que não precisou de muitas palavras para conquistar a fama de antipático entre o corpo estudantil. Se considerava moderadamente simpático e de fácil trato.

A coisa, entretanto, mudava de figura quando se tratava de Chittaphon Leechaiyapornkul. Bastou uma troca rápida de olhares para Yukhei se declarar completa e inexoravelmente apaixonado. O problema era que ele simplesmente não conseguia falar com Chittaphon.

Teoricamente, trocar um punhado de palavras com o crush não deveria ser tão complicado. Olá, meu nome é Yukhei e eu estou apaixonado por você. Tão rápido quanto arrancar um band-aid. Poucos segundos entre despejar as palavras no colo de Chittaphon e viverem seu felizes para sempre. Tudo seria lindo e cheio de cor se pelo menos Yukhei tivesse a bendita coragem.

— É bem simples — disse Taeyong naquela manhã, esquentando as mãos de Doyoung enquanto encarava Yukhei com um brilho perverso no olhar — Você vai até lá e diz.

— Se fosse simples assim, ele já teria feito — Mark respondeu. Encarava um sanduíche comido pela metade e fingia não perceber os olhares apaixonados que Jungwoo lhe lançava do outro lado do pátio.

Yukhei suspirou com força, pisoteando um motinho de neve e tentando conter a tremedeira nas mãos. Tinha acabado de chegar à escola, desanimado e sonolento como sempre, sentindo-se um miserável até avistar o protagonista de todos os seus sonhos.

E lá estava ele. Em toda sua glória às seis da manhã, rindo e fazendo brincadeiras com Yuta como se tudo fosse muito fácil e simples. Enquanto Yukhei chegava na escola se sentindo um bagaço, Chittaphon parecia pronto para estrelar um musical cheio de animação e coreografias elaboradas.

— Concordo com o Tae — Doyoung se pronunciou — Você nunca vai conseguir nada se ficar só sonhando com ele. Tem que tentar.

Outro suspiro escapou dos lábios de Yukhei. Ele queria, realmente queria, que as coisas fossem tão fáceis. Queria ser destemido como Taeyong, que conquistava todos com seu charme e simpatia. Ou comunicativo como Moon Taeil, presidente do grêmio estudantil e aluno mais popular do colégio. Ou talvez cara de pau como Dong Sicheng, conhecido por fazer uma declaração amorosa em frente a toda escola, ganhando uma semana de suspensão e o respeito de seus pares pelo resto do ano letivo.

— Eu já tentei. Já cheguei perto dele três vezes e estive a ponto de falar, mas... sei lá, não sai nada.

— Quem sabe... — Taeyong ponderou com aquele olhar perverso que Yukhei conhecia muito bem — Com um pouco de bebida...

— Não! — Yukhei prontamente interpôs. Conhecia bem os efeitos devastadores da bebida na própria língua e não queria pagar mico em sua primeira interação não imaginária com o homem dos seus sonhos.

— Mas é só um pouquinho. Só pra soltar a língua.

— E ele acabar dando vexame como da última vez? — Mark deu voz a seus temores — Melhor não.

— Não vai ser como da última vez, eu juro. Só um pouquinho de bebida pra, sabe, você criar coragem.

Encurralado entre o medo de repetir o desastre da última dose de bebidas e a vontade de finalmente pôr pra fora tantos sentimentos, Yukhei tomou um tempo para pensar na proposta, no mínimo, perigosa do amigo.

— E se... — iniciou, mordendo os lábios — E apenas se, eu topar...

— Yukhei, não — Mark alertou.

a bendita coragemOnde histórias criam vida. Descubra agora